sábado, 30 de junho de 2012

GILDA DE MELLO E SOUZA E A EMANCIPAÇÃO FEMININA. IGOR RENATO M. DE LIMA


As pesquisas acadêmicas sobre os papéis femininos engatinhavam no início da segunda metade do século XX. Na maioria das vezes, distantes da carreira do magistério superior, as mulheres enfrentaram desafios e lutaram por espaços no meio acadêmico. Para as historiadoras e sociólogas as condições de trabalho não foram diferentes.
Defendendo sua tese de doutorado em 1950, Gilda de Mello e Souza publicou na Revista do Museu Paulista. No entanto, mais de trinta anos depois, quando esse tema ganha espaço no universo no mercado editorial, era publicada em forma de ensaio. Prima de Mário de Andrade, esposa do professor Antônio Cândido de Mello e Souza, a autora ganhou maior visibilidade nessa obra apenas recentemente. Seu texto, com determinados pontos de referências a seu presente, apresenta os antagonismos de “sexo” modificados naquele período. Ao tratar dos antagonismos com relação ao sexo, Gilda pensava que

“Em nossas sociedades atuais, a oposição se manifesta mais atenuada, com a crescente penetração do grupo feminino na esfera de ação do grupo masculino, processo bastante acelerado por duas guerras sucessivas, que atiraram as mulheres, de improviso, às tarefas dos homens. É fácil de imaginar-se como essas duas experiências, auxiliadas pelo movimento geral de emancipação feminina, que já vinha se processando a mais de um século, solaparam a sólida barreira posta entre os dois sexos, influindo definitivamente no conjunto da vida social. À visão dupla substitui-se uma visão mais uma da sociedade, em que homens e mulheres não são considerados como termos opostos e antagônicos, mas sim como duas faces da mesma humanidade. É claro que essa mudança na concepção do feminino e do masculino não só afetou toda a estrutura social como a divisão do trabalho, como se refletiu nos costumes, na moral, na vestimenta. Contudo, nem por isso é menor o peso da tradição de vida segregada, que deixou a marca na atribuição das tarefas e na mentalidade (....)”[1]
Retomando, basicamente, as ideias de “cultura feminina” e a “coquetterie” de Georg Simmel, a autora tecia comentários sobre a condição, o estilo de vida, as modas e a corporalidade da “mulher”, a qual “... desenvolveu ao infinito as artes relacionadas com a sua pessoa criando um estilo de existência...”[2] Além disso, a autora descreve a dificuldade da afirmação do trabalho intelectual feminino, pois as suas pesquisas eram compreendidas como amadoras.[3]
Era nesse momento que as mulheres começavam a atingir maiores espaços no campo da escrita. As concepções do feminino e do masculino marcavam mudanças no cotidiano da população urbana e intelectualizada na segunda metade do século XX.


[1] Gilda de Mello e Souza. O espírito das roupas. A moda no século dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. (1ª ed. 1987), pp. 56-58.
[2] Idem, p. 106.
[3] Idem, p. 107.

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