As pesquisas acadêmicas sobre os papéis femininos engatinhavam no início da
segunda metade do século XX. Na maioria das vezes, distantes da carreira do
magistério superior, as mulheres enfrentaram desafios e lutaram por espaços no
meio acadêmico. Para as historiadoras e sociólogas as condições de trabalho não
foram diferentes.
Defendendo sua tese de doutorado em 1950, Gilda de Mello e Souza publicou
na Revista do Museu Paulista. No entanto, mais de trinta anos depois, quando esse
tema ganha espaço no universo no mercado editorial, era publicada em forma de
ensaio. Prima de Mário de Andrade, esposa do professor Antônio Cândido de Mello
e Souza, a autora ganhou maior visibilidade nessa obra apenas recentemente. Seu
texto, com determinados pontos de referências a seu presente, apresenta os
antagonismos de “sexo” modificados naquele período. Ao tratar dos antagonismos
com relação ao sexo, Gilda pensava que
“Em nossas sociedades atuais, a
oposição se manifesta mais atenuada, com a crescente penetração do grupo
feminino na esfera de ação do grupo masculino, processo bastante acelerado por
duas guerras sucessivas, que atiraram as mulheres, de improviso, às tarefas dos
homens. É fácil de imaginar-se como essas duas experiências, auxiliadas pelo
movimento geral de emancipação feminina, que já vinha se processando a mais de
um século, solaparam a sólida barreira posta entre os dois sexos, influindo
definitivamente no conjunto da vida social. À visão dupla substitui-se uma
visão mais uma da sociedade, em que homens e mulheres não são considerados como
termos opostos e antagônicos, mas sim como duas faces da mesma humanidade. É
claro que essa mudança na concepção do feminino e do masculino não só afetou
toda a estrutura social como a divisão do trabalho, como se refletiu nos
costumes, na moral, na vestimenta. Contudo, nem por isso é menor o peso da
tradição de vida segregada, que deixou a marca na atribuição das tarefas e na
mentalidade (....)”[1]
Retomando, basicamente, as ideias de “cultura feminina” e a “coquetterie”
de Georg Simmel, a autora tecia comentários sobre a condição, o estilo de vida,
as modas e a corporalidade da “mulher”, a qual “... desenvolveu ao infinito as artes relacionadas com
a sua pessoa criando um estilo de existência...”[2]
Além disso, a autora descreve a dificuldade da afirmação do trabalho
intelectual feminino, pois as suas pesquisas eram compreendidas como amadoras.[3]
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