terça-feira, 29 de maio de 2012

HISTÓRIA DAS MODAS CAVALHEIRESCAS E DOS TÊXTEIS. IGOR RENATO MACHADO DE LIMA


A historiografia dos séculos XIII ao XVII mantem o debate sobre os assuntos dos têxteis, da cultura e economia indumentária. Entre os ingleses, a temática geralmente aprofundada refere-se aos problemas econômicos dos têxteis, particularmente as técnicas aplicadas. Na historiografia francesa os aspectos simbólicos e culturais, principalmente com relação ao formato, são mais destacados. Mas é necessário manter a articulação entre ambas as perspectivas para realizar uma possível aproximação histórica.
No sentido da economia cultural, os códigos de vestir limitavam o consumo cavalheiresco no medievo. Ao analisar o tecido do diabo, Michel de Pastoereau descreveu que no século XIV, a legislação suntuária proibia os clérigos de usarem roupas bicromáticas, seja a bipartida (veste partitae), listrada (veste virgatae), ou em xadrez (veste scacatae). O concílio de Viena (1311) insistia nas interdições indumentárias. Na cidade de Rouen, em 1310, um padre e um sapateiro eram condenados à morte por vestirem listrado.
No período anterior, a partir das canções de gesta, as indumentárias e heráldicas listradas, na literatura, faziam parte das roupas dos “Cavalheiros desleais, senescais usurpadores, mulheres adúlteras, filhos rebeldes, irmãos perjuros, anões cruéis, serviçais cúpidos, todos podem ser dotados de riscas heráldicas ou de vestuário”.[1] A partir do século XII, paulatinamente a risca começava a fazer parte da moda cortesã. No reino de Aragão, o brasão tornava-se listrado, com riscas verticais amarelas e vermelhas”.[2]
Na Renascença, as vestimentas listradas tornavam-se rainhas, juntamente com o negro. Nas cidades italianas de Veneza e Gênova, posteriormente à Grande Peste, as indumentárias multicoloridas faziam parte do consumo dos “jovens nobres e ricos patrícios”. A partir de 1380, novamente as leis suntuárias tentavam restringir o consumo ostensivo das cores. No século seguinte com o negro de Bolonha, as listras saem da moda para retomarem na virada do século XVI, nas regiões da Alemanha, Itália, e, depois, da França e da Inglaterra. Essas listras começaram a fazer parte dos gibões de Francisco I e Henrique VIII.
Nesse momento, a corte espanhola mais conservadora mantinha a austeridade. Mas as riscas reaparecem na “primeira metade do século XVII, no horizonte dos anos vinte e trinta. Durante duas décadas, as modas espanholas, então dominantes, deixaram no vestuário uma pequena abertura lúdica em que as riscas tentam imiscuir-se, sobretudo no traje masculino (mangas, abas, calções). São geralmente riscas escuras, riscas caravagescas, que fazem alternar os ocres e os castanhos, os pretos, as violetas, por vezes os verdes e os dourados. (...)”.[3]
Com relação às cores das vestes listradas, o vermelho até o Quinhentos, era praticamente raro. Mesmo com a extração do pau-brasil e o avanço das técnicas de tingimento e o uso dessa cor, no século XVI, as vestimentas vermelhas e riscadas mantinham-se com a característica de desviante.[4]
É interessante observar que o branco cru integrava as roupas de baixo como camisas, ceroulas, véus e lençóis. De acordo com Pastoerau, “Tais prescrições vinham do fato de a cor passar por qualquer coisa mais ou menos impura (sobretudo se era ela obtida por meio de materiais animais), de mais ou menos inútil e muito imodesto. Era preciso afastá-la dessa superfície íntima e natural que constitui a pele”[5]
Acompanhando as transformações nas técnicas de tingimento e nos significados simbólicos e culturais das cores, observa-se que a fabricação e o comércio dos tecidos modificavam-se na longa duração. No mundo mediterrânico, o comércio de tecidos, principalmente de seda de Sicília, Egito e Espanha Muçulmana predominavam entre os mouros. Os laníferos coloridos também tornavam-se artigos luxuosos nesses espaços.[6]
Durante o século XIII, as metamorfoses das silhuetas ocorriam nas formas das armaduras, aparecendo a brigandine, a pourpoint, ou doublet, ou ainda o gibão. Desse modo, a moda cavalheiresca constituía-se a partir das modificações modernas do vestir masculino.[7]
Com o crescimento da quantidade de fontes primárias, as informações sobre as mudanças no vestuário durante os séculos XIII e XIV sobrepujam os anteriores, havendo uma profusão de termos para tecidos, vestes e indumentárias, nas línguas vulgares. As linguagens das roupas sofreram uma mudança significativa nesse período. As vestimentas variavam conforme cortes, tecidos e camadas sociais, mas os seus nomes poderiam circular através de várias regiões. Por exemplo, o manto chamado de sack encontrado na Germânia tinha sua origem em Bizâncio.[8]
Destaca-se ainda a importância das modificações da feitura do gibão ao longo do tempo. Utilizado inicialmente para proteger o cavalheiro, ganhava aos poucos maior visibilidade, tornando-se mais curto, obtendo ornamentos, podendo ser produzido com seda e ricamente bordado.[9]
Novamente, durante a terceira parte do século XIV, a moda do gibão mais longo e com botões de cima à baixo de Charles de Blois eram destaques na corte francesa. Aparecia uma nova indumentária, a jaque ou jerkin, que extendia-se até os joelhos e enfeitavam-lhe metais preciosos como ouro e prata. A decoração dessa peça tinha ainda motivos de plantas e animais.[10]
Para além das vestimentas da corte francesa, a historiografia trata do consumo indumentário da população dos centros urbanos do Velho Mundo. Kristen M. Burkholder, no artigo “Threads Bared: dress and textiles in Late Medieval English Wills”, analisa uma série de 550 testamentos de 1327 até 1487. Em decorrência, por mais de cento e cinquenta anos, encontra como testamenteiros um amplo estrato social, abarcando artesãos, mercadores, gentry e nobres da cidade de Londres. Por meio de uma abordagem quantitativa e descritiva, destaca que usualmente as heranças eram distribuídas de homens para homens e de mulheres para mulheres. Dentre as cores, as mais frequentes eram sequencialmente preto, azul e vermelho, sendo o têxtil mais usual a lã, sendo, no entanto, raras as referências ao linho.
Ademais, segundo a autora, as mulheres testadoras além de deixarem uma descrição mais detalhada das indumentárias, doavam peças mais valiosas. Como exemplo, a viúva Agnes de Fraunceys declarava possuir um robe trabalhado com ouro.[11] A partir do século XIV, as leis suntuárias inglesas definiam os modos de vestir de acordo com as categorias sociais, sendo que nos anos de 1336/37, no reinado de Eduardo III, somente a casa real, ou seja, o rei, a rainha e os seus filhos poderiam usar vestimentas exteriores à Inglaterra, Irlanda, Escócia e País de Gales.[12] Novamente, em 1363, o Parlamento regulamentava as vestes conforme o status, variando de acordo com os têxteis e o preço. Nos anos 1482 e 1483, novos decretos declaravam que apenas a família real podia usar roupas com ouro ou de seda púrpura, assim como somente o rei vestiria tecidos de damasco ou cetim.[13]
Burkholder nota que, na realidade, a minoria dos artesãos e comerciantes londrinos passava a produzir e consumir tecidos e roupas distintas daquelas reservadas ao seu posicionamento social, sendo que alfaiates, bordadeiras e viúvas deixavam vestes preciosas para as instuições de caridade. Esse era o caso de Matilda Wight, viúva do alfaiate real, a qual doava umas peças de roupa de seda para a igreja St. Mary de Wolnoth, sendo que somente a partir dos superiores aos clérigos podiam vestir seda, veludo e tecidos luxuriosos com enfeites ricos, de acordo com a lei de 1363.[14]
A maioria da gentry transgredia as regras suntuárias, utilizando habitualmente roupas feitas com veludo. Com exceção, localiza-se dois casos em que se encontram tecidos com ouro em testamentos: o primeiro era do conde Rivers, doador de uma luva bordada a ouro para o convento de Royston. A outra indumentária, uma veste vermelha de baldaquim também bordada em ouro, era da duquesa de Buckingham, Anne Stafford, que a deixava para a irmã, Lady Mountjoy.[15] Em resumo, o consumo indumentário londrino nos séculos XIV e XV mantinha-se frequentemente diferenciado em relação ao gênero e ao status, tendo-se as descrições mais detalhadas aquelas que se referem às mulheres das camadas sociais mais altas.[16]
Na historiografia cultural, destacam-se as transformações no universo da Clothing Culture, 1350-1650, obra organizada por Catherine Richardson. Nos textos, eram realizadas conexões entre as várias esferas de existência para a ampliação do debate, havendo, portanto, relações entre o mundo econômico e cultural. A própria autora observa que as mudanças da moda no Velho Mundo contaram com a participação dos mercadores ingleses e das exportações de produtos laníferos de produção doméstica. Além disso, não se pode esquecer a relevância das relações do corpo e dos artefatos têxteis e indumentários. Exemplo disso, pode ser encontrado nos diferentes modos de cortes dos tecidos presentes nas estatuárias européias. Desse modo, as definições de modos de vestir de homens e mulheres são construções históricas.
Outras características importantes no universo da cultura indumentária eram as distinções dos modos de vestir de Católicos e Protestantes. Nota-se a presença das indumentárias como capital simbólico no universo da corte. Principalmente, na análise de discurso, salientam-se as transformações em relação aos gêneros, às roupas e às modas.[17]
Nessa linha de pesquisa, Sheila Sweetinburg, aborda as estratégias de caridade em Kent, durante o século XVI, a partir da leitura de testamentos. A autora quantifica 4.500 documentos, notando que uma maior porcentagem de mulheres doavam suas roupas, geralmente saias e túnicas, para as populações mendicantes. É importante observar a importância da caridade feminina para a comunidade e as redes de solidariedade cristã presentes no catolicismo quinhentista, pois vestir aqueles que estavam praticamente nus era, possivelmente, um dos critérios de salvação das almas.[18]
Nesse sentido, Elizabeth Salter estuda os testamentos em Greenwich durante o início do Quinhentos. Nesse ensaio, descreveu os discursos dos testadores e destacou os simbolismos relacionados às escolhas das doações e partilhas dos artefatos segundo as relações familiares e de amizade. Referiu-se a prática de reformulação dos materiais indumentários para o reaproveitamento e consumo por um novo usuário.[19]
Ao analisar as distinções das indumentárias a partir do status, Claire Bartram apresentou o debate entre o orgulho e a humildade nos discursos das leis suntuárias dos textos religiosos e das documentações legais. Salientou os valores associados à gentry e aos processos nobiliárquicos. Defendeu a ideia de que as identidades das indumentárias estavam relacionadas às posições sociais, indicando que para a ascensão social, as camadas emergentes deveriam integrar-se aos símbolos da aparência cavalheiresca e cortesã.[20]
Em suma, as modas cavalheirescas permaneceram na sociedade moderna, até basicamente o início do século XVII, com as novelas de Miguel de Cervantes, as quais criticavam de maneira irônica os valores desta antiga sociedade, assim como representava a crise econômica e social pela qual se caminhava a sociedade espanhola. No entanto, esse é outro momento e outro artigo.


[1] Michel Pastoureau. O tecido do diabo: uma história das riscas e dos tecidos listrados. Lisboa: Editorial Estampa, 1991, p. 25.
[2] Idem, p. 42.
[3] Idem, p. 55-56.
[4] Idem, p. 67.
[5] Idem, p. 78.
[6] Françoise Piponnier & Perrine Mane. Op. Cit., pp. 59-60.
[7] Idem, pp. 61-65.
[8] Idem, p. 66.
[9] Idem, p. 67.
[10] Idem, pp. 67-68.
[11] Kristen M. Burkholder. Threads Bared: dress and textiles in Late Medieval English Wills. In: Robin Netherton & Gale R. Ower-Croker. Medieval Clothing and textiles. Woodbridge, U.K.: The Boydell Press, v.1, 2005, p. 42.
[12] Idem, p. 143.
[13] Idem, pp. 146-147.
[14] Idem, p. 147.
[15] Idem, p. 150.
[16] Idem, p. 152.
[17] Catherine Richardson. Introduction. In: Catharine Richardson (Ed.) Clothing Culture, 1350-1650. ASHGTE, 2004, pp. 1-25.
[18] Sheila Sweetinburg. Clothing the naked in Late Medieval Kent. In: Catherine Richardson (org.). Clothing culture, 1350-1650. Hampshire, U.K.: ASGHATE, 2004, pp. 108-121.
[19] Elizabeth Salter. Reworked material: discourses of clothing culture in Early Sixteenth-Century Greenwich. Catherine Richardson. Clothing culture, 1350-1650. Hampshire, U.K.: ASGHATE, 2004, pp. 179-191.
[20] Claire Bartram. Social fabric in Thynne’s debate between Pride and Lawliness. In: Catherine Richardson. Clothing culture, 1350-1650. Hampshire, U.K.: ASGHATE, 2004, pp. 137-149.

HISTÓRIA DA MODA NA FORMAÇÃO DA IDADE MODERNA. IGOR RENATO MACHADO DE LIMA


Os têxteis e as roupas no universo das sociedades pré-industriais eram peças de valores significativamente altos, bem como de preciosos significados simbólicos. Dessa forma, as práticas de produção, circulação e consumo indumentários e têxteis devem ser analisadas a partir de uma temporalidade longa, centrada basicamente dos séculos XII ao XVI, pois algumas modificações eram lentas, outras mais aceleradas.
 No plano das transformações das formas indumentárias, o debate historiográfico acirra-se em relação à construção da ideia de moda. Em meados da década de 1970, François Piponnier e Perrine Mane publicaram um trabalho importante sobre o vestir-se, analisando vários tipos documentais como iconografias, romances cavalheirescos, livros de contas, testamentos, inventários e evidências materiais.
Na interpretação realizada pelos autores não houve distinção entre vestir-se e o costume. Realizaram uma introdução ao tema da indumentária na Europa, indo além do período Medieval, informando sobre os materiais, os consumos vestuários ainda incipientes, os quais variavam conforme os diferentes estratos sócio-econômico, os ciclos de vida e as relações entre os gêneros. [1]
Tratando dos papéis femininos na economia indumentária, por meio da análise da literatura de cavalaria, Monica L. Wright, em “‘De fil d’Or ET de Soie’: making textiles in Twelfth-Century French Romance”, defende a ideia de que a partir da metade do século XII, o domínio da fabricação dos têxteis não era somente feminino, mas contava com o trabalho dos homens artesãos de ofício. As atividades de cuidado com as ovelhas, fiação, tecelagem e costura passavam a fazer parte dos ofícios masculinos.[2]
De uma maneira geral, dentre os materiais existentes, pesquisadores, como Popponier & Mane destacaram a presença da lã na fabricação dos tecidos medievais, revelando que a técnica da produção têxtil lanífera variava entre as diferentes regiões européias. Os autores apontaram ainda que, no reino de Aragão, os proprietários de terra criavam raças de merino [tipo de carneiro] que produziam produtos laníferos excepcionalmente finos.
            A descoberta e o uso do tear horizontal, além das técnicas de tecelagem no século X, foram as mais importantes revoluções na produção têxtil durante todo o período Medieval. Com relação às cores dos tecidos laníferos, no século XIII, aumentavam as tonalidades vibrantes nas cidades que no século seguinte, espalharam-se para o campo. Na Idade Média Tardia, as tinturas verdes e azuis escuras, violeta e o preto nos tecidos de lã tornaram-se mais populares, embora haja poucas evidências desses tecidos nos inventários e testamentos medievais.[3]
            Piponier e Mane afirmaram que as indumentárias laníferas eram utilizadas no cotidiano de todas as camadas sociais, diferentemente da seda, a qual era reservada, predominantemente, às cerimônias religiosas. Na Europa do Oeste, os tecidos sedosos eram produzidos em regiões como as da Sicília – mais próxima do comércio com o Oriente. A partir do século XIV, Palermo, Lucca, Florença, Veneza e Genova, consequentemente, passaram a ser grandes produtoras desse tecido.[4]
            A Península Ibérica, influenciada pela presença muçulmana, também produzia a seda. Um dos mais importantes têxteis realizados na região eram os brocados de carmesim aveludados e cetins, tingidos com corantes de cochinilha, que atingiam preços astronômicos. No fim do século XIV, quando o preto tornava-se moda, as sedas banhadas em séries de tinturas de ísatis e indigos tornaram-se predominantes.
            Além do brocado, o tafetá, ou cendal, fabricado também com a seda, tornara-se mais barato. A produção, a circulação e o consumo de seda, por causa do alto preço e das leis suntuárias, restringiam-se à alta nobreza e à burguesia das Monarquias européias. Têxteis laníferos sobrepujavam em muito a seda, com relação à quantidade de tecidos.[5]
Ao analisar o comércio têxtil de Paris no século XIII, Sharon Farmer, em “Biffes, tireatines and aumonières: the role of Paris in the international textile markets of the Thirteenth and Fourteen Centuries”, nota que em 1239, tecidos de lã parisiense, chamados de biffes, eram comercializados com várias regiões, como Aragão, Castela, Portugal, Genova, Veneza, Florença, Siena, Marcele e Provença. Também descreveu as mudanças ocorridas na fabricação e no comércio do tiretaine, espécie de mistura de tecido de lã e linho, ou lã e seda, produzido em Saint-Marcel, uma região do subúrbio de Paris. Esses tecidos eram de diferentes preços e qualidades, variando de acordo com as camadas sociais que os utilizavam. O tiretaine francês, a partir de 1314, era suplantado pelo florentino, sendo esse consumido pela aristocracia da corte do Norte da Europa.[6]
Na passagem do século XIII ao XIV, os têxteis de linho das cidades de Reins e Paris tinham preços superiores aos ingleses, destacando-se os mappa, tipos de tecidos laníferos vendidos à realeza inglesa, em 1303 a 1330, assim como ao papado de Avignon (1307-1417).[7]
Dentre os tecidos luxuosos feitos em Paris, estava a produção de seda, havendo seis corporações de ofício. Salientando-se também o papel das artesãs especializadas na produção de tecidos de seda para a confecção de véus (“ouvrieres de tissuz, tesserandes de soie”), bem como o velvet, tecido sedoso de feitura exclusivamente masculina.[8]
Os tecidos bordados eram outra produção artesanal luxuosa de Paris para o consumo da realeza e do alto clero, sendo esses últimos presenteados com preciosos têxteis pela aristocracia. Também os burgueses da cidade, segundo Farmer, começavam a consumi-los.[9]
Em Paris, havia o mercado de peças sarracenas das bolsas de almas, isto é, pequenas bolsas de pano bordadas com motivos cavalheirescos – de encontros entre damas e cavalheiros, este comércio chamado em francês de “faiseuses d’aumonières sarrazioises”. Era habitual senhoras da aristocracia presentearem seus familiares com essas bolsas, como o fazia a condessa de Mahaut de Artois. Para Farmer, Paris tornava-se o centro propagador de uma enorme variedade de têxteis, que circulavam entre reis, papas, aristocratas e burgueses durante o século XIV.[10]


[1] Françoise Piponnier & Perrine Mane. Dress in the Meddle Ages. Yale University, 1997. (tradução).
[2] Monica L. Wright. ‘De fil d’or et de soie’: making textiles in Twelth-Century. In: Robin Netherton & Owen-Crocker, Gale R. Medieval clothing and textiles. Woodbridge, U.K.: The Boydell Press, v.2, 2010, pp. 61-72.
[3] Françoise Piponnier & Perrine Mane. Op. Cit., pp. 18-19.
[4] Idem, pp. 19-20.
[5] Idem, pp. 20-21.
[6] Sharon Farmer. Biffes, tireatines and aumonières: the role fo Paris in the international textile markets of the Thirteenth and Fourteen Centuries. In: Robin Netherton & Gale R. Ower-Croker. Medieval Clothing and textiles. Woodbridge, U.K.: The Boydell Press, v.2, 2006, p. 78.
[7] Idem, p. 79.
[8] Idem, p. 83.
[9] Idem, p. 86.
[10] Idem, pp. 87-89.

HISTÓRIA DA MODA MEDIEVAL. IGOR RENATO MACHADO DE LIMA



Nos fins da Idade Média, constituía-se a moda cavalheiresca, centrada na relação com o corpo da sociedade cristã. E era nesse momento que as distinções de roupas de homens e mulheres eram descritas nas canções de gesta e eram marcadas pelas mudanças nas conjunturas e estruturas econômicas, políticas e sociais.
 No século XII, o comércio crescia Mediterrâneo e no Norte da Europa, formavam-se dos Estados Nacionais (marcada pela figura real e pelo crescimento das instituições administrativas), da sociedade de corte e despontava a figura da burguesia mercantil, enriquecida também pelo comércio têxtil com o Oriente e interno nas fronteiras europeias. Além disso, as corporações de ofício e as especializações na produção de tecidos finos adquiriam uma nova extensão. Toda essa conjuntura das cruzadas, das gestas na literatura cavalheiresca estavam presentes nesse momento de ascenção moda cavalheiresca.
Essa moda cavalheiresca estava condicionada à “incorporação social”, por meio do processo de investidura e das corporações de ofício.  Segundo Le Goff, a roupa “é não somente dorno, mas também proteção e armadura”, enquanto o nu era “risco moral, falta de pudor o erotismo.” O processo de vestir-se era, confrome o mesmo, um rito “significativo”, na “ordenação do monge e do clérigo”, na “investidura do cavaleiro. Quando da consagração dos reis, o abandono das roupas anteriores e a adoção de hábitos reais  constituem um dos ritos mais importantes”. Esse jogo entre a nudez e a vestimenta continua na valorização da beleza física, como as tranças e o recato feminino, e a admiração do corpo do cavaleiro, como Lancelote, herói dos romances arturianos. Ainda conforme o autor, “...heróis e heroínas corteses impõem-se também pela beleza de suas roupas, favorecendo, assim, o desenvolvimento da moda”. [1] Nesse sentido,o autor levanta a necessidade de desenvolver a “História da moda indumentária na Idade Média”, com o estudo da relação do corpo (como cabeleira, bigode, barba), com a “evolução de enfeitar o rosto” (principalmente por parte das mulheres) a partir dos estudos literários e iconográficos. [2]
Apesar da maior parte da historiografia apontar a origem da moda no século XIV, Sarah-Grace Heller, no artigo “Fashion in French crusade literature: desiring infidel textiles”, defende a ideia de que o contato entre cristãos e infiéis nas Cruzadas, a partir de 1190, transformava os modos de vestir dos primeiros, por meio das trocas comerciais de tecidos de diferentes técnicas de fabricação, coloração, ornamentos e dos intercâmbios culturais com os árabes e bizantinos, que usavam diversas indumentárias. Como exemplo, apontou os têxteis de seda, a cor púrpura do império de Bizâncio, os botins das conquistas de Jerusalém e o enriquecimento do território mediterrânico como o caso da Sicília e da Península Ibérica.
Os cristãos consumiam joias de ouro, topázio e esmeralda, elmos verdes, malhas bem enlaçadas, bandeiras de seda, bem como novas peças, como o siglaton (veste de ouro), e bordados com motivos de pássaros e peixes. Além disso, a autora abordou as modas islâmicas, centradas nas diferentes colorações e texturas. Dentre as indumentárias islâmicas importantes, destacou o khil’a (ornamentos honoríficos com carcterísticas diferentes para cada pessoa e os tiraz) cintos tecidos com desenhos decorativos em ouro.[3]
As camadas populares do Velho Mundo vestiam-se ainda de maneira mais simples com tecidos de lã e sapatos rústicos. Mas as vestimentas religiosas passavam lentamente por modificações nos detalhes, como os ricos bordados sobre ícones religiosos.[4] Susan M. Carroll-Clark, em “Bad Habits: clothing and textiles references in the register of Eudes, Archbishop of Rouen”, trata da reforma religiosa de Inocêncio III, no IV Concílio de Latrão, em 1215, no que se refere aos têxteis e indumentária. A autora destacou a crítica à “desnecessária ornamentação” dos monges por meio de relatos do Arcebispo de Rouen. Salientam-se, dentre os artefatos, o uso da camisa de linho, o tabardo (espécie de short, proibido para monges e padres) e da capa (espécie de pequena faixa, geralmente, de seda). Com relação aos têxteis, consumiam a lã, seda, o barracan e peles das mais variadas espécies, como coelhos e raposas. Também possuíam acessórios como sapatos, cintos (de tecido e metálicos), véus, cuff, ou cucufa (espécie de capuz).[5]
A autora também nota que geralmente os artigos de luxo proibidos pela legislação papal eram encontrados nos monastérios, como as comuns camisas de linho, as peles de coelhos e a roupa de lã listrada (serge radiata). Às freiras era também interditado o uso de jóias e ornamentos luxuriosos em seus véus. No entanto, a autora encontrou referências de religiosas com esses bens, sendo que esses podiam ser comercializados.
Havia, portanto, dificuldade de se compreender as distinções e mudanças no vestir do interior dos membros da Igreja porque os clérigos, no século XIII, ainda vestiam-se de maneira próxima a outras camadas sociais.[6]
Nessa linha de pesquisa, Tomas M. Izbicli estuda as cores das vestimentas eclesiásticas, em “Forbidden colors in the regulation of clerical dress the Fourth Lateran Council (1215) to the time of Nicholas de Cusa (d. 1464)”. Nesse artigo, o autor destacou as restrições impostas em várias legislações suntuárias dos concílios da Igreja Católica Apostólica Romana, de vestimentas e ornamentos de cores vermelhas e verdes (pannis rubeis aut viridibus) de ornamentadas de dourado (deauratis) nas suas vestimentas e da prática de freqüentar tavernas. Segundo os decretos gregorianos de 1234, as mulheres judias eram obrigadas a colocar faixas azuis em seus véus. E, especialmente para as vestimentas femininas, o Cardeal Latino Malabranca, em 1279, proibia qualquer mulher de vestir-se imodestamente, revelando-se muito ou apresentando seu corpo.[7]
Além dessas regras, vários outros concílios menores tentavam regular os materiais, as formas e as cores das indumentárias clericais durante os séculos XIII e XIV. A proibição de sapatos, faixas e outras peças verdes ou vermelhas faziam parte das regulamentações da Igreja. Durante o século XIV, as proibições passaram a diminuir, sendo que no Conselho de Basel (1431-1449), o tema das restrições vestuárias não estava em pauta. Apesar da tentativa reformista de Nicolau de Cusa (Reformo Generalis), o papado mantinha-se com o crescimento do luxo, principalmente na corte romana.[8]
No que se refere à indumentária religiosa, John Harvey, em Homens de preto, destaca que os dominicanos, ordem fundada por Domingo Guzman em 1215, ficaram conhecidos como os “frades negros”, pois se vestiam com manto e capuz negro por cima de manto e capuz branco. Conforme o autor, “Nos Frades Negros encontramos o grande paradoxo do preto, pois o preto é uma quantidade negativa, a ausência de cor: considerada como uma cor, que se escolhe vestir, ela é o sinal da abnegação e da perda. Entretanto, a abnegação pode também conferir poder e autoridade sobre os não-abnegados. A abnegação total pode dar a idéia de santidade e fazer do abnegado um exemplo a ser admirado com reverência e temor, e o preto, entendido como a cor do poder sobre si mesmo, tornou-se a representação de uma impressionante e intensa introversão. (...).”[9]
Em outro artigo, intitulado “Obscure lands and obscured hands: fairy embroidery and the ambiguous vocabulary of Medieval Textile decoration”, Sarah-Grace Heller destaca a dificuldade de compreensão da linguagem das roupas em diferentes momentos históricos. Afirma que é  necessário realizar uma aproximação dos significados das palavras sobre os têxteis e a indumentária. Para isso, conforme a autora, deve-se tratar do tema valendo-se da categoria gênero, quando se analisam textos literários como os de Chrétien de Troyes (c. 1165-70) e Marie de France.[10]
Heller observa que era raro encontrar dados a respeito de mulheres bordando ou tecendo nas fontes literárias dos séculos XII ao XIV. Aponta, além disso, para o crescimento das manufaturas têxteis, em Paris, com a participação feminina, enquanto que a produção doméstica de tecidos de luxo entre a aristocracia diminuía de importância.[11] A partir de 1292, por meio da análise da documentação das corporações de ofício, nota-se a presença de brodadeurs (bordadores) e broderesses (bordadoras), destacando-se aqueles que produziam os brocados com ouro.[12]
A autora ainda sugere a necessidade de entender a constituição do trabalho têxtil imbricado com o religioso. A atividade de ofício estava diretamente relacionada com a religiosidade cristã a partir da confecção de tapeçarias com motivos hagiográficos durante os séculos XII e XIII. [13] Essas “roupas exóticas”[14] seriam peças relacionadas ao sobrenatural e ao maravilhoso, pois eram feitas com tecidos do Oriente Médio, originário das Cruzadas, bem como possuíam características religiosas, principalmente nas formas e no seu consumo em missas, rezas e batalhas contra os infiéis.
Nesse sentido religioso, Charlot A. Stanford, no artigo “Donation from de body for the Soul: apparel, devotion and status in Late Medieval Strasbourg”, analisa o Book Donors, relacionando-o com as doações para a construção da catedral de Strasburgo, do século XIII ao XVI.[15] Nessas listagens, a autora encontra expressões em latim, alemão ou até mesmo termos mistos referentes às vestimentas mais significativas dos espólios de doadores, geralmente falecidos. Era comum a referência às esmolas serem apenas declaradas como “vestimentum”, ou mesmo a sua abreviação: vestes. Segundo a pesquisadora, eram encontrados nomes genéricos das peças de indumentária feminina ou masculina nos arrolamentos de esmolas para a Igreja.[16]
Desse modo, no período moderno, a linguagem das roupas era constituída por palavras mistas, sem uma definição lingüística definida. Em outras palavras, as línguas nacionais, como francesa, alemã, inglesa, espanhola, portuguesa e italiana não possuíam unidades definidas. O latim permanecia como base para distinções e especificidades e era distante dos eruditos renascentistas.
Para além da explicação dos sentidos adquiridos pelas palavras habitus, vestimentas, vestes, costumes e moda, é preciso discutir conceitos como economia e cultura indumentária, bem como gênero, na reconstituição, compreenção e explicação das metamorfoses da moda. Reforça-se, portanto, a necessidade da elaboração de um contexto para uma desejável aproximação dos conceitos sobre as principais características dessas mudanças.



[1] Jacques Le Goff e Nicolas Truong. Uma História do corpo na Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, pp. 141-142.
[2] Idem, p.74.
[3] Sarah-Grace Heller. Fashion in French crusade literature: desiring infidel textiles. In: Désirèe G. Koslin and Jane E. Snyder. Encountering medieval textiles and Dress. Objsects, texts, images. U.S.A/UK: Macmillan Publischers Limited, 2002, pp. 109-110.
[4] Boucher.  François Boucher. História do Vestuário do Ocidente. São Paulo: CosacNaify, 2010, p. 146.
[5] Susan M. Carroll-Clark. Bad Habits: clothing and textiles references in the register of Eudes, Archbishop of Rouen. In: Robin Netherton & Gale R. Ower-Croker. Medieval Clothing and textiles. Woodbridge, U.K.: The Boydell Press, v.1, 2005, pp. 81-86.
[6] Idem, pp. 90-91.
[7] Tomas M. Izbicli. Forbidden colors in the regulation of clerical dress the Fourth Lateran Council (1215) to the time of Nicholas de Cusa (d. 1464). In: Robin Netherton & Gale R. Ower-Croker. Medieval Clothing and textiles. Woodbridge, U.K.: The Boydell Press, v.1, 2005, pp. 105-114.
[8] Idem.
[9] John Harvey. Homens de Preto. São Paulo: Unesp, 2003, p. 62. (tradução)
[10] Sarah-Grace Heller. Obscure lands and obscured hands: fairy embroidery and the ambiguous vocabulary of Medieval Textile decoration. In: Robin Netherton & Gale R. Ower-Croker. Medieval Clothing and textiles. Woodbridge, U.K.: The Boydell Press, v.5, 2009, pp.15-16.
[11] Idem, pp. 19-20.
[12] Idem, p. 26.
[13] Idem, pp. 20-35.
[14] Idem, p. 35.
[15] Charlot A. Stanford. Donation from de body for the Soul: apparel, devotion and status in Late Medieval Strasbourg. In: Robin Netherton & Gale R. Ower-Croker. Medieval Clothing and textiles. Woodbridge, U.K.: The Boydell Press, v.6, 2010, pp.173-205.
[16] Idem, p. 202.

A LINGUAGEM DAS ROUPAS E A MODA NA ALTA IDADE MODERNA. IGOR RENATO MACHADO DE LIMA


Não existe uma distinção clara em relação ao significado da linguagem no período renascentista para o historiador atual quando os assuntos são têxteis, vestimentas e os modos de vestir. No século XVI, os termos trajo, vestuário, costume, habitus e mesmo a palavra moda – se bem que mais rara – eram utilizados, não existindo, nesse momento, uma compreensão e explicação exata dos seus significados. Por isso, é preciso constituir uma aproximação abrangente dos significados das peças e aos poucos reconstituir as relações entre gênero, economia e cultura indumentária durante tempos e espaços específicos, de forma que as análises desses artefatos tridimensionais não se distanciem da perspectiva histórica.
A palavra habitus, encontrada como título da obra de Cesare Vecellio, de 1590, Habitus Antichi et Moderni, significa em latim aparência, aspecto.[1] A mesma expressão originou abito em italiano, isto é, modo de pensar.[2] Mas em francês, transformou-se em habit, traje, ou mesmo no verbo s'habiller, vestir-se no século XVI. Esse último poderia ter o significado de costumeiro, como em português.[3] O termo habitus, utilizado de maneira constante pelas ordens religiosas na Idade Média podia também ser entendido somente como vestimenta.[4]
Jean Claude Bologne, em História do pudor, observa o limite tênue entre o ethos, entendido como regras de condutas individuais, próximo ao pudor, e o habitus, definido como regras de vida social relacionadas à decência.[5]
Também era ambíguo o termo costume em português, correspondendo à prática comum, ou mesmo traje.[6] Na historiografia do costume, principalmente do século XIX e mesmo do seguinte, o termo aproximava-se ao folclore e à constituição do Estado Nacional. Na interessante obra de Boucher, Histoire du costume en Occident (com publicação revisada em 1986) havia a vinculação entre costume, tradição e Nação, representandodo, durante o Quatrocentos, as vestes inventadas nas origens dos Estados como França, Itália, Espanha e Inglaterra.[7] Não obstante, em sua obra tratou de algumas circularidades no modo de vestir, sendo que  para o mesmo, “Da Espanha vem também [para a Itália] a moda do preto, que predomina no traje masculino, como atestam os retratos pintados por Ticiano. As damas usam preferencialmente roupas verdes ou azuladas ou num púrpura-escuro, mas Lucrecia Bórgia denota uma nítida queda pela combinação do preto com o ouro; em uma carta de Laura Bentivoglia a Isabela d’Este (após 1502) o autor descreve-a deitada em sua cama de vestido de seda preta com mangas estreitas deixando passar os punhos de camisa. (...)”.[8]
Essas modas espanholas difundiam-se para a Inglaterra Tudor mesmo depois da derrota da Incrível Armada, em 1588, com “a propensão à rigidez à solenidade, simbolizada pelo rufo e a vertugade, tem sua origem na corte de Filipe II.”[9]
Para Boucher, a evolução dos costumes possuía um aspecto quase de espírito religioso até o século XIV, quando aparece um costume civil, o qual se tornava cada vez mais relacionado com valores econômicos. A moda tornava-se, então, regional, havendo modas italianas, alemãs, inglesas, espanholas.[10] O costume indumentário do Novo Mundo, segundo o autor, era marcado pelas limitações na produção, pela importação de têxteis luxuosos, exportação de matéria prima como as peles de animais e a produção de algodão e “os trajes de festa americanizam-se” com peles de bisão e diademas de plumas.[11] 
Mas o costume possuia um significado ambíguo. Por um lado, representava a vida cotidiana, ou seja, o dia a dia das populações, tais como os modos de comer e vestir-se. Por outro, significa os formatos das vestimentas, mais relacionados ao folclore e às construções das vestes dos Estados Nacionais em formação, ou mesmo dos tradicionais costumes antigos.

[1] Cesare Vecellio. Habitus Antiqui et Moderni. The clothing of the Renaissance world. London: U.K.Tames & Hudson, 2008.
[2] Salvatore Battaglia. Grande Dizionario della lingua italiana. Torino: Unione Tipografico, 1978, vol. 8, p. 186.
[3] Dictionnaire de l'ancienne langue française et de tous ses dialectes. Du IX au XV siècle. Paris, vol. 4, 1938, p. 394.
[4] Ann Rosalind Jones & Peter Stallybrass. Renaissance clothing and materials of memory. Cambridge, UK., 2000, p. 6.
[5] Agradeço a Ronaldo Vainfas a indicação do livro: Jean Claude Bologne. História do pudor. Rio de Janeiro: Elfos, 1990, p. 14 e 58. (tradução)
[6] Dictionnaire de l'ancienne langue française et de tous ses dialectes.Op. Cit., vol. 2, 1938, p. 327.
[7] François Boucher. História do Vestuário do Ocidente. São Paulo: CosacNaify, 2010.
[8] Idem, p. 184.
[9] Idem, p. 202.
[10] Idem, p. 13-17
[11] Idem, p. 255.