1. A Câmara
e os negócios indumentários
A partir da segunda metade do século XVI, a Companhia de Jesus elaborava
uma prática de ensino dos ofícios mecânicos em suas aldeias e em seus colégios.
Os trabalhos de tecelões, ferreiros, sapateiros e alfaiates ficavam a encargo
da mão de obra indígena. Para os inacianos essas tarefas auxiliariam no
processo catequético.
Na Capitania de São Vicente, o padre Leonardo Nunes trabalhava pela
catequização dos gentios, ensinando a crença cristã e combatendo os malefícios
diabólicos dos gentios. O jesuíta pouco fazia referência da necessidade de
vestir os negros da terra. Talvez, o problema da nudez dos selvagens não lhe
fosse a preocupação relevante como era para o provincial Manuel da Nóbrega.[1]
Para o Provincial,
em correspondência ao padre Luis Gonçalves, em 15 de junho de 1553, a Capitania
de São Vicente possuía muitos cristãos, com uma população mameluca e de cativos
indígenas, os quais conheciam a doutrina cristã, pois viviam confessando-se e
formando famílias. Nóbrega descrevia a presença de “um João Ramalho”, sendo que
esse era “mas antiguo della, y toda su vida y de sus hijos es conforme a la de
los Indios, y es una petra scandali para nos, porque su vida es principal
estorvo para con la gentilidad, que tenemos, por él ser muy conoscido y muy
aparentado con los indios”.
Além de ser
criticado por ter parentescos com os indígenas, João Ramalho também tinha “
muchas mugeres él y sus hijos dellas así el padre como los hijos. Sus hijos van
a guerra con los indios, y sus fiestas son de indios y así viven andando nudos
como los mesmos indios”.[2]
A população mestiça
e cativa nessa região trabalhava em atividades mecânicas como ferreiros e
tecelões, pois filhos e órfãos aprendiam algum ofício com os jesuítas e, dessa
maneira, seriam convertidos os infiéis. Além disso, Nóbrega notava o contato de
Leonardo Nunes com a região do Rio dos Patos, de onde vinha “umas senhoras
castelhanas” de uma armada para o rio da Prata e que se estabeleceram naquele
espaço por mando do governador.
Novamente, em 1553,
Manuel da Nobrega narrava a presença inquietante de João Ramalho, o qual
possuía redes de parentesco com os principais chefes da Capitania. Entretanto,
o inaciano parece ter mudado de ideia e tornando-se um aliado do colono, pois
passava a defender o casamento entre esse e a índia Batira para a maior
dispersão da fé cristã.[3]
As relações entre os
jesuítas, colonizadores, governadores e ameríndios variavam muito, conforme o
período, espaço e mesmo entre os “personagens”. O combate à nudez e da
necessidade do vestir parece ter se tornado mais tênue no decorrer da década de
1560.
Nesse período, a
vila deixava de ser somente um povoamento longínquo e crescia a quantidade de
cativos e senhores, por meio das movimentações das populações coloniais
internas e dos resgates de negros e
negras da terra. Essa região passava a ser fortificada a mando do governador
Geral Mem de Sá.[4]
Apesar desse
princípio de povoamento dos colonos lusitanos, o jesuíta Manuel da Nóbrega
queixava-se, em 1561, da falta de cama e de vestes para os indígenas, os quais
andavam nus pela vila.[5]
Com essa falta de indumentárias e com a precária vida material na região, os
inacianos defendiam os trabalhos artesanais e os ofícios mecânicos.
No contexto do povoamento através dos sertões e dos resgates de cativos
na extensa Capitania de São Vicente, encontra-se o primeiro inventário post mortem do sapateiro Damião Simões.
Logo, havia a presença de um grupo significativo de oficiais mecânicos
relacionados à indumentária atuando no processo colonizador na região. Nessa
fonte, encontram-se várias informações, como a presença do Juiz Ordinário
Balthazar Rodrigues e dos avaliadores e moradores da vila, Francisco de Brito e
Baltazar Gonçalves, os quais eram responsáveis por contabilizar os bens móveis
e imóveis dos vários artefatos, provavelmente utilizados pelo falecido
sapateiro, como os 3 pares de botas de porco e os 3 pares de canos de mulher.
Esses restos de couramas eram provenientes do reino e da própria vila. Além
desses objetos relacionados com o seu ofício pode-se ainda encontrar os cativos
Tupinambá, como um moço recém capturado, valendo 3$000 réis, o qual ficou com a
viúva grávida, uma escrava velha também da mesma etnia, avaliada em 5$000 réis,
presente no espólio do órfão. Ainda havia mais uma terceira moça Tamoia,
pertencente ao filho do sapateiro, que fora resgatada naquela época. Essa
escravaria era origiária do processo de aprisionamento dos colonos portugueses
e índios Tupiniquim contrário aos guerreiros Tupinambá.[6]
Nesse inventário, encontra-se a referência a outro sapateiro, Domingo
Dias, o qual emprestava à Damião Simões cinco ou seis cruzados. Após a listagem
do patrimônio ainda existiam um tinteiro e os aparelhos do ofício de sapateiro
colocados em pregão. A venda desses objetos poderia ser feita também na base de
escambo com o açúcar existente, originário da vila de Santos. Nesse processo,
era significativa a troca a fiado dos canos de botas por açúcar que Gonçalo
Fernandes realizava. Nesse momento, havia a ausência de moeda corrente na vida
econômica da vila.[7]
Ao final do ano, Balthazar Rodrigues, curador do órfão, e irmão da viúva
Suzana Rodrigues, pagava dívidas existentes do processo do sobrinho, ao novo
juiz Manuel Ribeiro.[8]
Durante o processo do inventário post mortem
do sapateiro Damião Simões, os juízes alternavam-se no decorrer dos anos. No
dia 30 de julho de 1579, Diogo Fernandes, juiz ordinário da vila, recebia o
novo esposo de Susana Rodrigues, Martim Rodrigues juntamente com o enteado
Damião, com dois anos de idade, sendo que esse órfão deveria ficar reparado com
o “vestido da terra”.[9]
Aos filhos sem pais era necessária a sobrevivência da estrutura do cotidiano,
como a alimentação, moradia e indumentária.
O trabalho de gerenciar as atividades tecedeiras era muito importante
nesse momento. Encontra-se ainda no inventário a cobrança de uma dívida da
viúva de 8 varas de algodão, das 20 que produzira. Martim Rodrigues pagava a
dívida ao juizado dos órfãos em 3$435 réis, além dos oitenta réis devidos às
custas do inventário, sendo parte da dívida paga com as varas de algodão.[10]
As informações sobre os modos de vestir das crias pequenas, bem como da
população indígena, são raríssimas nos inventários post-mortem, assim como em todas as documentações quinhentistas e
seiscentistas.
Em relação às partilhas das heranças, o órfão Damião Simões recebia
16$800 réis e a viúva ficava com o patrimônio líquido de 13$353 réis. Apesar
dessa distribuição judicial, a senhora Susana Rodrigues devia à escrava Tamoia
nova, por ser de maior custo, a qual poderia ser trocada por “um pouco de fio
que se havia de tecer”, que “não foi nunca pano partido”. Provavelmente, o
valor do tecido de algodão estava relacionado ao preço da cativa, a qual
deveria pagar-se com a atividade tecelã. Assim, a viúva poderia complementar a
renda do esposo ao comandar o trabalho da cativa tecedeira indígena.[11]
Todavia, o processo inventarial se arrastava ao longo dos anos. Em meados
da década de 1590, contavam ainda com mais cativos, como um escravo, com sua
mulher “andante”, uma filha de 6 ou 7 anos, bem como um menino pequeno de
peito. Além dessa família cativa indígena, os senhores possuíam outro negro da
terra por nome de Jabiranga, com um filho e uma menininha curumim de mama,
valendo essa apenas 64 cruzados. Mais uma família era contabilizada no
inventário do sapateiro, uma índia por nome Gurayba e um filho por nome
Francisco.
Com o interesse pelo patrimônio paterno, Damião passava a se emancipar e
assumir os seus bens logo no início do século XVII. O órfão conseguiria, assim,
a possibilidade de constituir outro núcleo familiar e trabalhar para adquirir
novos patrimônios a partir da herança recebida pelo pai há bastante tempo
falecido. O emancipado conseguiria “reger” os próprios bens imóveis e cativos.[12]
Os tecidos de algodão encontrados no inventário, bem como as escravarias
foram os bens mais importantes. O primeiro inventário post mortem paulista encontrado é significativo tanto para o tema
da produção, circulação e consumo algodoeiro quanto para a economia
indumentária como um todo, pois o inventariado era um oficial mecânico.
Em um ciclo de vida centrado no “Ancien Régime biológico”, como dizia
Braudel, as mulheres, apesar de estarem sempre “expostas” à maternidade, eram
numericamente superiores aos homens e podiam assim constituir um excedente de
viúvas.[13] A
vila de São Paulo passava por esse processo, que se estendeu por um longo tempo
na região. Para Samara, em As mulheres, o
poder e a família, “Ficando a viúva na administração do patrimônio dos
filhos menores, como tutora, devia ainda prestar contas ao juiz competente,
demonstrando zelo no cumprimento desse dever, ao lado de um comportamento
honesto e respeitoso para com a memória do marido. Na ausência de bens por
parte dos filhos, cabia alimentá-los à custa do patrimônio pessoal e desde que
houvesse impossibilidade por parte da mãe, o dever era transferido a outros
parentes, segundo suas posses. Daí são provenientes tantas queixas de viúvas
pobres, que reclamavam de pensões e que por falta de condições econômicas
encaminhavam os filhos às instituições de caridade, quando não faziam dos
mesmos objetos do seu próprio sustento”.[14]
Retomando, a população masculina era caracterizada por uma movimentação
em direção ao sertão e à costa brasílica. E as mulheres conseqüentemente
ficavam com os “maridos ausentes” ou em viuvez.[15]
De acordo com Samara, “A mobilidade espacial da população alterava
frequentemente a composição dos domicílios, quer pela ausência do marido por
motivos econômicos ou separação dos filhos por casamento, trabalho ou
simplesmente por impossibilidade de manutenção.”[16]
Essas viúvas paulistas, habitualmente, casavam-se novamente e com
freqüência e não perdiam a guarda dos filhos e dos bens.[17]
Era o caso de Suzana Rodrigues, casada com o sapateiro Damião Simões, que
faleceu por volta de 1575. A senhora também era irmã do juiz ordinário
Balthazar Rodrigues e do tabelião Paulo Rodrigues, e mãe de Damião Simões, que
aprendia o ofício de barbeiro em São Vicente com Antonio Rodrigues. Em
Piratininga, a viúva casou-se novamente com Martim Rodrigues, comerciante
espanhol, pecuarista. Com esse cônjuge teve ainda mais três filhas, Maria,
Tenória e Ana da Veiga.
Viúva pela segunda
vez, passou a administrar um patrimônio de 90$000 réis e 57 cabeças de gado,
além de controlar uma força de trabalho de 25 escravos.[18]
De acordo com o inventário do segundo cônjuge: "foi entregue toda esta
fazenda conteúda neste inventário à viúva Suzana Rodrigues por estar satisfeito
dela ser mulher para governar a sua casa
e casar a sua filha por ser já de idade para isso e haver casado já outras
duas em ausência de seu marido Martim Rodrigues e ela se deu por entregue e
prometeu cuidar de sua filha e casá-la a melhor que puder com seu consentimento
dele dito juiz e porá em cobro e arrecadação e multiplicação como cousa sua
própria e pela confiança que tem dela e o prometeu fazê-lo assim e tudo perante
seu filho Damião Simões que a tudo esteve presente e por ela não saber assinar
eu tabelião assinei por ela eu Simão Borges.”[19]
Fazia parte do espólio da
família as obras O Retábulo da vida de
Christo, uma Chronica do Grão Capitão,
Instruções de Confessores e Mysterios da Paixão. Essas obras
demonstram que a senhora Suzana Rodrigues podia “governar a sua casa e a casar
a sua filha” e tinha uma posição de prestígio na hierarquia social da vila de
São Paulo, apesar do primeiro esposo ser sapateiro e do primogênito ter o
ofício de barbeiro. [20]
O filho de Damião Simões e Suzana Rodrigues, também chamado de Damião
Simões, declarava em testamento, em 1632, que não tinha herdeiros forçados.
Porém, distribuía as peças do gentio para os mais próximos, assim como deixava
“uma esmola um vestido de raxeta a um menino filho de Maria Tenória”.[21]
Dentre as avaliações encontradas no processo inventarial, encontravam-se
cortes de sapatos, varas de raxeta, o vestido acima declarado por 2$500 réis,
uma capa de baeta curta (2$000 réis), um manto de sarja velho, bonzerquins de
carneira branca, bem como sapatos de cordovão pretos. Além da vestuária, o
inventariante distribuía 5 cativos para João Paes e mais 5 para Cornélio de
Arzão. Enfim, importava a quantia de 35$000 réis o patrimônio desse solitário
senhor, filho de antigos povoadores e oficiais mecânicos.[22]
Outro importante inventário
post-mortem relacionado aos oficiais mecânicos, era o de Francisco da Gama
de 1600. Casado com Jeronyma Fernandes e pai de Maria, o alfaiate deixava um
monte mor de 55$500 réis, sendo 30$000 réis em mão de obra. Todavia, a fortuna
familiar era reduzida devido às dívidas de 23$500 réis.
A viúva casava-se novamente com Baltazar Gonçalves e continuava com a
metade do patrimônio, uma quantia de 11$773 réis. Ademais, esse oficial deixava
uma significativa escravaria de 9 indígenas contabilizados.[23]
Por fim, declarava o esposo em seu testamento no sertão, juntamente com
Manuel Preto. Deixava como testamenteiro o genro Miguel Garcia e dentre seus
escassos bens, estavam o sítio, enxadas, foices, um saio de baeta simples e um
manto de sarja em 2$200 réis. A senhora
Suzana Rodrigues contava, no ano de 1630, com no mínimo 11 cativos.[24]
Os moradores da vila de São Paulo acabavam organizando a mão de obra
indígena para a confecção dos tecidos e vestes. De acordo com a perspectiva um
pouco laudatória de Belmonte, “essa gente encantada não só presta serviços nas
lavouras, mas é preparada para exercer os mais variados ofícios, não sendo
poucos os sapateiros, tecelões, carpinteiros e sombreiros existentes na vila.”[25]
Assim, conforme Nazzari, “Os índios se tornavam tecelões, carpinteiros,
sapateiros, veleiros, ourives, prateiros, ou ferreiros, processando assim
produtos primários...Eram também os carregadores que transportavam as
mercadorias para Santos...”.[26]
Era raro encontrar nos inventários post mortem
ferramentas relacionadas aos trabalhos mecânicos. Nos bens arrolados de
Francisca Cardoso e Gaspar Vaz encontra-se uma tesoura de alfaiate por $320
réis. Nesse mesmo processo, o patrimônio familiar era constituído pelos escravos
da Guiné Diogo, Lucrecia e o filho Domingos. Essa escravaria valia 40$000 réis.
O monte menor restado entre o viúvo e os dez filhos legítimos era a quantia de
16$780 réis, pois a família contraíra muitas dívidas, sendo a maior de 84$620
réis com a cunhada da falecida, Merecencia Vaz, viúva de Luis Monteiro.[27]
A ferramenta, contudo, para produzir roupas passava a ser um importante
instrumento de trabalho para o sustento da família, à qual sobrevivia graças ao
apoio de parentes.
No primeiro decênio de 1600, os gibões de linho acompanhavam os de
guerra. No inventário de Custódio de Paiva era arrematado um corte dessa
indumentária em linho para Manuel Ribeiro Boto, por $500 réis. Na verdade, a
forma de produzir as vestes variavam também conforme os tecidos.[28]
No que se refere à importância das indumentárias, destacam-se os mais
variados tipos de gibões. No inventário de Paula Gomes, esposa de André Maciel,
um gibão de pano de holanda rajada, por 1$600 réis e mais outro de telinha de
mulher, por 1$200 réis. A senhora possuía uma saia de portoalegre (3$000 réis),
outra verdosa de pano do reino (3$000 réis), o saio de baeta preto usado (1$000
réis), manto de sarja (3$000 réis), mais um calçado de mulher de chapins de
Valença e sapatos vermelhos ($800 réis), um corpinho vermelho de cetim com suas
guarnições (1$000 réis). Possivelmente, para guardar as jóias ainda tinha o
cofrinho de Flandes.[29]
Não era raro existirem nos processos inventariais tesouras de modo que
encontra-se no de Pedro Álvares, esposo de Jeronima Bicudo, as tesouras de
alfaiate, no parco patrimônio familiar, de um chapéu velho, uma espada, um
gibão de algodão, 5 toalhas de rosto, 7 guardanapos, uma toalha de mesa, um
gibão velho e uma caixinha. Ficava líquido para a viúva e o filho 7$760 réis.[30]
Em inventário post-mortem de
1638, realizado no sertão, Manuel Preto, esposo de Ana Cabral, carregava dentre
outros artefatos, uma caixa com alfinetes, chapéu, mangas de camisa, camisas,
machados, linhas de pescar e enxós.[31]
Além disso, era arrolado no patrimônio indumentário, um vestido de pano verdoso
usado e roupeta forrada de tafetá pardo (2$000 réis), meias de seda negra, duas
ceroulas, manto de tafetá usado (6$000 réis), saia do mesmo pano (4$000 réis),
bem como uma capa de catassol velha (1$600 réis).[32]
Retomando o tema da vida administrativa da vila percebe-se que na ata de
2 de setembro de 1628, pela primeira vez, encontrava-se os juramentos dos
ofícios de juiz de tecelão. Nesse contexto de expedições para o sertão, foi
escolhido o índio Antônio, “moço da terra da casa de Francisco Jorge para ser
juiz do ofício dos tecelões por não haver homem branco que seja e o dito moço
ser o melhor tecelão que há na terra o qual engimenara todos os negros que tecem o que for perito lhe
será dado sua carta de engeminação e o que não for para isso que não trabalhe e
como lhe foi dado juramento se assinam aqui Manoel da Cunha escrivão da Câmara
o escrevi...”[33]
As reclamações com relação à alteração de preços e de medidas e por venda
sem a licença camarária eram do cotidiano da vereança. Mas somente Martim
Rodrigues, em 27 de janeiro de 1646, era obrigado a pagar 1$000 réis como multa
por “vender fazendas e varas e côvado sem licença da câmara...”.[34]
Talvez, os administradores da vila fizessem vistas grossas às práticas ilícitas
dos oficiais mecânicos e mercadores. Dois anos antes, afirmavam que “muitos
homens, filhos e famílias de moradores desgovernam esta terra, tudo por ordem
de seus pais debaixo de cujo poder domínio e proteção estavam...”.[35]
Com as dificuldades de constituírem os cargos de oficiais mecânicos
distintos, encontrados nas atas camarárias, a governança da terra, em 1636,
cobrava dos alfaiates e sapateiros para que não exercessem as atividades de
vendeiros ou taverneiros. Eram raras as cobranças, tal como aquela realizada ao
alfaiate Pero Jorge de 6$000 réis por suas obras. [36]
Era difícil a distinção entre os oficiais, pois, como o consumo era
precário, os moradores viam-se obrigados a comandar a escravaria em várias
atividades concomitantemente. A governança requeria que “os ofícios de
alfaiates e sapateiros usem de seus ofícios e não de vendeiros que haja
vendeiros e taverneiros separados o que visto pelos ditos oficiais da câmara
disseram que estão prestes a fazer a correção...”[37]
Os administradores locais, não com
muita frequencia, escolhiam os juízes de ofícios, como João Roiz, em ata de 25
de junho de 1638, o qual se tornava “juiz de ofício de alfaiate”.[38]
Mas nem sempre isso era possível, pois a vereança da câmara ficavam sem juízes
de ofícios, como ocorria em agosto de 1650.[39]
Somente em 1653 Francisco da Silva adquiria esse cargo.[40]
Os interesses dos oficiais camarários transformavam-se a partir de uma
série de tensões e conflitos, a partir da década de 1640, quando os jesuítas
eram expulsos e os senhores paulistas passavam a disputar a mão-de-obra cativa
indígena e as terras dos aldeamentos, constituindo conflitos entre diferentes
famílias como as já citadas brigas entre os Pires e Camargos. Nesse momento, os
oficiais mecânicos, como os alfaiates, sapateiros e carpinteiros passavam a ser
cobrados novas taxas para terem licença de funcionamento em 1644.[41]
Mas a cobrança de fato ocorreria somente vinte anos depois, com Domingos Lopes,
o representante dos sapateiros e dos alfaiates, no dia 16 de fevereiro de 1664.[42] Os
oficiais camarários pareciam não ter controle sobre as posturas no que diz
respeito às cobranças sobre os trabalhos mecânicos.
A produção artesanal da vila de São Paulo, até por volta de 1625, contava
com os ofícios de sapateiros, tecelões, alfaiates, os quais, segundo John D.
French, produziam bens de consumo numa situação em que cada família já não era
completamente auto suficiente.[43]
As atividades mecânicas, em suma, poderiam ser abandonadas com o intuito
dos moradores tornarem-se “homens da nobreza da terra” artificiais. Nesse
sentido, Antônio Alves Coseiro desistia de ser seleiro para “poder gozar das
honras dos homens nobres”.[44] A
liberalidade do ofício mecânico transformava os homens do sertão em
personalidades nobres. Estes
trabalhos mecânicos relacionados com a indumentária parecem ter crescido de
acordo com o processo de resgate dos gentios e a formação da mão-de-obra
escravista na Capitania e Vila de São Paulo, onde formavam-se, portanto,
na economia algodoeira que se caracterizava predominantemente pela utilização
da força de trabalho das mulheres escravas tecedeiras de etnia Guarani, bem
como pelo comando das senhoras da elite, que adquiriam jóias e tecidos de luxo
para demonstrar o seu poderio e o espírito da cultura das aparências cortesãs.
2. A
pecuária, o trato e o consumo do couro
Era comum muitos senhores da Câmara estarem ausentes com negócios em
outras regiões, descendo os mares de morros, chegando ao litoral, em Santos,
onde poderiam embarcar até o Rio de Janeiro.
Embora esses trajetos fossem penosos, os comerciantes desciam através do
Caminho do Mar com o auxílio da mão de obra indígena.[45]
Por causa da relativa pobreza de eqüinos durante todo os Seiscentos, os
índios escravos transportavam as cargas e os senhores em redes.[46]
Para Sérgio Buarque de Holanda, as “senhoras ricas” eram carregadas, pelos
gentis, em liteiras ao transitarem pelas trilhas do mar, realizando
conseqüentemente o processo de dispersão de Piratininga.[47]
Na segunda metade do século XVI, formava-se uma pequena pecuária no
Planalto Paulista e no decorrer do início do século seguinte, Francisco Barreto
contava já com uma centena de cabeças de gado, vendidas ao comerciante Martim
Rodrigues por 80$400 réis.[48]
Encontrava-se ainda relacionada no inventário post mortem do fazendeiro a coura por 6$000 réis.[49]
As dificuldades da cultura algodoeira, da produção alimentícia e da
pecuária eram marcantes nos princípios da vila, como afirmou Alcântara Machado,
analisando 450 processos inventariais, dentre os anos de 1601 e 1675. Segundo o
mesmo, “a fortuna que vem da agricultura e da pecuária é lenta e difícil. (...)
Entre as lavouras e o mar se levanta, dificultando o transporte, a serra
tumultuosa”.[50]
Entretanto, posteriormente, observou que a produção interna de gado vacum
aumentava com o tempo. “Vai em plena prosperidade a criação de gado. Os campos
de Piratininga se prestam esplendidamente à pecuária. Essa, precisamente, uma
das razões da migração dos vicentinos para o altiplano”. Além disso, afirma que
“Grandes criadores da época são Manuel João Branco, Francisco Martins, dono de
uma fazenda em Taboatingara da banda de além do Rio da Ponte Grande, e
possuidor de mais de duzentas rezes nos currais do Tujucussu, Manuel de Campos
Mooca; Francisco de Proença que tem outras tantas em sua fazenda do Ipiranga;
Maria Leme, cujo acervo sobressaem um bom curral à sua porta com mais de cento
e cinquenta cabeças e muito gado bravio que se lhe ajuntará de seus currais,
assim no Campo de Santo Antônio como nos pastos e campos de Suapuçu e na paragem
chamada Taquapininduva; André Lopes, que, em Vagoarupuava e Guarapiranga (São
Miguel), reúne mais de quatrocentas rezes”.[51]
Dessa forma, os paulistas do sertão, para Machado, tinham uma produção de
vestes centrada no couro e na lã, originária de uma criação ainda em fase de
crescimento, como a de Antonio Raposo da Silveira, com 100 ovelhas na fazenda
de Guarapiranga, e algodão.[52]
Partindo para o sertão, Belchior Carneiro levava uma roupeta e alguns
calções de picote golpeado, forrado de tafetá amarelo, outra roupeta de
chamalote, com o gibão de tafetá azul, pedaços de pano, umas ceroulas, três
camisas velhas, calções pardos e uma caraça, três mantéus, o cobertor, a rede e
para as andanças através dos matos umas botas de cordovão pretas novas, botas
usadas e umas meias vermelhas velhas. Incluía-se a isso tudo, o chapéu usado.
As camisas usadas eram vendidas para João Moreira por 3$100 réis, a espada a
5$000 réis para Luiz Ianes. Estevão Raposo comprava no leilão dos órfãos as
botas de cordovão usadas e as meias velhas, mais ainda uma roupeta e os calções
por 4$750 réis.[53] A
espingarda de resgatar gentios era vendida por 2$000 réis por Antonio Alves.[54]
Com o avançar do século XVII, os homens da governança da terra com freqüência
controlavam as reses que se dispersavam através da vila com o objetivo de
angariar recursos. Em 1620, João de
Oliveira recebia uma pena de 4$000 réis por levar gado para o mar sem licença
da câmara.[55] Seis
anos depois novamente a pressão dos oficiais torna-se presente, mandando “que
toda a pessoa de qualquer qualidade e condição que seja que tiver gado e
criações na terra do conselho venha
concertasse de novo com os ditos oficiais da câmara até para câmara e outrossim
os que morarem nas terras do conselho o que cumprirão no dito tempo com pena de
mil réis aplicados para o conselho e acusador e assinarão aqui eu Calixto da
Mota escrivão da câmara o escrevi – Álvaro Neto – Vasconcelos – Lourenço Nunes
– Lionel Fuertado”.[56]
Na ata da câmara de 19 de janeiro de 1626, encontra-se uma referência da
taxação de preços dos produtos dos mercadores da vila e os externos, os quais
traziam “drogas da terra, as carnes de porco”, a “farinha de trigo”. O pano de
algodão valia $160 réis. Cinco dias depois, o juiz ordinário Sebastião de
Freitas, os vereadores Lucas Fernandes Preto e os mais conhecidos pela
historiografia Pais Leme e Amador Bueno, juntamente com o procurador Luis
Fernandes Bueno mandaram “fechar o pelourinho a taxa dos oficiais”: “alfaiates,
sapateiros, ferreiros e tecelões”. A governança da terra – a qual, em teoria,
não trabalhava com as mãos –, cobrava impostos sobre os oficiais mecânicos.
Todavia, a falta de homens bons fazia com que se mantivesse a prática de
inserir alguns membros não “qualificados” para o cargo. Esse costume fazia com
que o juiz Pero Leme tentasse manter a ordem, impedindo que oficiais mecânicos
participassem da governança.[57]
A população masculina saía em descimento, em busca de cativos indígenas.
Em 1628, chefiados por Antonio Raposo Tavares e Manuel Preto, os homens da terra
partiam em direção às onze missões do Guairá, atual Paraná, capturando
indígenas, principalmente Guarani. Justificando as expedições, os oficiais da
câmara afirmavam que “... somente se servem com índios os quais não podem viver
e sustentar nesta terra como é notório e o serviço destes tais como é livre o
risco e perigo de perderem suas fazendas”.[58]
Eram mais comuns na documentação da vila de São Paulo as referências
sobre as carnes, tanto nas atas da câmara quanto nos processos inventariais do
Juízo de Órfãos. Raras são as referências diretas aos couros encontradas nos
processos inventariais. Contudo, o
ofício de sapateiro era importante na vila, pois os moradores de São Paulo
deveriam participar das expedições ao sertão e atravessar a Serra do Mar para comercializar
com Santos e outras praças da América portuguesa.
Dentre os artefatos de couro encontrados, destacavam-se aqueles do
inventário de Paula Fernandes, segunda esposa de Raphael de Oliveira, de 1612,
havendo 5 couros de cadeiras e três ilhargas cortidas, um cutelo e uma tesoura
de sapateiro e o couro em cabelo.[59]
No mesmo processo continha a escopeta de 6$000 réis e o gibão para armas de
algodão, de 1$000 réis para os homens da família participarem dos descimentos e
se protegerem dos ataques dos gentios bravos.[60]
No inventário do viúvo encontra-se ainda mais artefatos e ferramentas
para a confecção de sapatos, como a tesoura de sapateiro, outra mais velha e
agastada, um trinchete novo e outro velho, uma torquez de tirar broches, um
saca bocado, um ferro de raspar cortiça de chapins, um sacca-bocado, duas
sovelas, dois cutelos de raspar couros, as ilhasgas de couro cortidas.[61]
Ficava com o órfão Pedro de Oliveira, 15 formas de sapateiro, mais uma tesoura
e oito vacas soltas, com as quais poderia tirar o couro e tratá-lo.[62] E
o outro filho, Raphael de Oliveira também herdava 20 formas.[63]
Ainda Salvador de Oliveira recebia do espólio materno, Catarina Dorta, segunda
esposa do falecido, a tesoura e o ferro de raspar couro e duas sovelas.[64]
Assim, a prole masculina recebia da herança paterna as ferramentas de ofício de
sapateiro.
É interessante notar a presença de tesouras de alfaiate velhas, cunhas de
cortar, fivelas de ferro, talabartes e cinto velhos no espólio de Martim do
Prado, e as botas de veado. O senhor continha uma série de ferramentas e
artefatos importantes para comandar a mão de obra indígena de 28 cativos, bem
como para realizar as expedições no sertão, sendo que nesse período elas se
davam ao redor da vila e da Capitania de São Vicente. A partir dessas
expedições, a família indígena batizada e fragmentada, com irmãos, pais
solteiros, “velhas pagãs” e crianças predominavam nas escravarias do casal
Martim do Prado e Antonia de Soveral. [65]
O testador Matheus Leme, em 1628, declarava que havia casado, na primeira
vez, com Antonia de Chaves, tendo seis filhos vivos. Dotava as filhas com 22
reses, bem como um manto e 3 saias, sendo uma delas de tafetá amarelo. Também
deixava a terça para a nova esposa Antonia Gago da Cunha e para o mosteiro da
Companhia de Jesus.[66]
No processo do seu inventário, a viúva, por meio do seu procurador Henrique da
Cunha Gago, ficava com 105$848 réis, dos quais destacam-se sítios, roças,
casas, 14$280 réis em gado, e como
artefatos, o óculos, 18 arretéis de
fios, compasso e as botinas de veado.[67]
O filho do testador Cláudio Forquim, dentre outros artefatos, herdava a
pele branca, possivelmente das ovelhas, um couro em $200 réis, couros de
cadeiras, camisas de linho e livro de arithimetica.[68] O
órfão Luis Dias recebia da relevante herança indumentária: camisas, meias de
algodão e de lã, bem como as botas, sendo esta última em 1$000 réis.[69]
No inventário post-mortem de
João Gomes, um par de botinas eram vendidas para João Maciel por apenas $240
réis, e outro a Cornélio de Arzão pelo mesmo preço.[70] O
comércio de couro fazia parte da rede de trocas de indumentárias usadas e eram
comercializadas as peles de ilhargas e veados para o padre João Álvares no
processo inventarial de Balthazar Nunes.[71]
Os sapateiros constituíam um importante papel na confecção de sapatos e
coletes protetores dos matos do sertão. Pedro Álvares negociava, em 1603, as
suas meias e couros antes de morrer, assim como a bolsa da sua espingarda e os
gibões sem botões que devia à André Gonçalves.[72]
No processo inventarial do mesmo, as chinelas eram vendidas para Luis Anes, por
$540 réis e as botas a Manuel Rodrigues, por 1$000 réis.[73] A
pele de cordovão branca era arrematada pelo carpinteiro Francisco Rodrigues, o
Moço por 1$280 réis.[74]
Em 1616, os couros de anta de 4$000 réis do espólio de Manoel Requeixo
eram artefatos importantes para o patrimônio familiar, bem como as roupetas e
calções de veludo e o gibão de Holanda usado. Dentre as benfeitorias,
salienta-se o sempre presente sítio com algodoal (6$000 réis), mais significativo
que os pedaços de canavial, tendo esses últimos o mesmo preço do couro acima
citado. No processo inventarial também eram vendidas as três camisas para João
Soares, por 3$000 réis e o ferragoulho de baeta com os borzequis para Antonio
de Andrada, em 1$600 réis. A roupeta e os calções de veludo, Amaro Doingues
arrematava por 3$700 réis.[75]
A circulação das indumentárias, inclusive das couramas, faziam os
herdeiros sobreviverem por um tempo. No Novo Mundo, com a presença de materiais
diferentes daqueles encontrados no Velho, os modos de vestir e as peças de
roupas e acessórios também tinham preços e valores culturais distintos.
No processo inventarial de Catarina Medeiros, esposa de Mathias Lopes,
tinham 96 cabeças de gado, juntamente com as roças e o sítio, com casas e um
pedaço de algodoal, que estava sempre presente nos patrimônios familiares da
vila. A família possivelmente sobrevivia graças à pecuária, no entanto,
mantinha-se com lavouras e praticava a economia doméstica algodoeira apesar da
predominância do gado vacum nos bens familiares.[76]
As ferramentas eram arroladas nos patrimônios familiares. No espólio de
Domingos Gonçalves era citado o cutelo de sapateiro e uma tesoura para o
trabalho com os couros.[77]
O patrimônio familiar contou com um significativo aumento dos currais a
partir da década de 1620, sendo que no processo inventarial de Baltahazar
Gonçalves, senhor de 50 rezes, o monte mor era de 588$200 réis. Como as dívidas
do senhor abarcavam quase a metade da sua “fazenda”, os herdeiros ficavam com
apenas 260$120 réis. Faziam parte das dívidas, uma cadeia de ouro, em 34$000
réis, mais um pendente em 1$800 réis. Assim, o filho Antonio Nogueira ficava
com a parte importante da casa, em 15$000 réis, mais uma corrente em 1$200
réis. Dentre os artefatos de couro estavam os sapatos de cordovão, inferiores
em valor aos produtos algodoeiros, como as duas camisas e os dois gibões.[78]
O testador Antonio Gonçalves Pires declarava possuir como dívidas os seus
gados vacuns, devendo 20 cabeças, juntamente com 4 “gentios da terra” para
Belchior Ordas, seu genro e esposo de Izabel Gonçalves, e mais 15 cabeças para
a sua filha Leonor Esteves, a qual era viúva de Diogo de Sousa. Possivelmente,
esses débitos eram os dotes importantes para as filhas começarem novos domicílios
e constituírem outros patrimônios familiares.[79]
Contavam-se no inventário post-mortem
do falecido esposo de Clara Fernandes, 44 vacas parideiras, 8 novilhas e mais
22 novilhos pequenos, valendo tudo por volta de 50$000 réis. A viúva ficava com
metade do algodoal e, por volta de
25$000 réis em gado vacum, como vacas parideiras e o touro, a metade dos
porcos, as lavouras de milhos e feijões para sustentar os filhos. Ainda nas
partilhas o gado era dividido entre os filhos, Paulo Gonçalves ficava com 8 cabeças
de gado e Antonio Gonçalves com 10 rezes, além da metade do sítio. Os órfãos
ficavam sob a responsabilidade de Clara Fernandes.[80]
A viúva Clara Parenta recebia do inventário de Manuel Álvares Pimentel,
40$000 réis do gado vacum vendido para Gaspar Gomes. [81]
Foram arrematadas uma pequena espada por quatro pesos e meio por Francisco
Leme, as meias de seda parda, na fortuna de 2$000 réis, à Zuzarte Lopes, assim
como Francisco Mendes pagava 2$000 réis pelas armas de gibão com mangas. Era
vendida a escopeta para Amador Nogueira por 5$000 réis e a espada para Diogo
Álavares por 3$040 réis.[82]
Em 1634, João Tenório, filho de Clemente Álvares e Ana Tenória, casava-se
pela primeira vez com Maria Jorge, falecida, com a qual tinha um filho
Francisco. Além desse filho, possuía filhos ilegítimos como Catharina,
mameluca, e como Paschoal. Nesse caso, privilegiava a filha com a terça. Fazia
parte do seu espólio em couro, a coura guarnecida com fitas azuis, em 10$000
réis, o sapatos de veado, os de cordovão e as ligas rosas. Além disso, eram
arrolados bigornas, compassos, couros de foles, vários arretéis de ferro e a
tenda de ferreiro.[83]
Os couros tornavam-se mais abundantes a partir da década de 1630, para a
confecção de móveis, além dos sapatos da camada senhorial, como aqueles 2$800
réis encontrados no espólio de Cornélio de Arzão. O menino possuía 34 cabeças
de gado, e escravos africanos, um manto de tafetá novo com suas rendas (10$000
réis), roupetas, capotes, saias e o gibão de tafetá enfeitado e forrado com
pano de algodão.[84]
Dentre as ferramentas vendidas em hasta pública para arrecadar os bens
dos órfãos, estavam a navalha e tesoura, vendidas para André Martins, o Moço.
Também era vendida a escopeta grande para Amador Bueno, por 8$500 réis. As
peles vermelhas de carneira eram vendidas para Pero Gonçalves Varejão por $660
réis, enquanto a significativa courama acima declarada era comprada por Antonio
Álvares.[85]
Apesar dos constantes conflitos, da alta do custo, dos baixos níveis de
consumo, e da escassez de moedas, os animais de criação eram comercializados
nas regiões litorâneas.[86]
Conforme encontrava-se na ata de 1633, era permitido a “todos os moradores
conforme as suas posses trazerem seus gados e mais criações e terem curral de
gado e suas casas e sítios, o que sempre tiveram por ordem e data da câmara...”[87]
A vila, portanto, tornava-se de maneira contraditória o mais importante
núcleo de povoamento, de dispersão e de sedimentação populacional da América
Portuguesa. Por meio desse centro, dava-se a utilização da mão de obra cativa e
o início da agricultura comercial.[88] Nesse
processo de mercantilização, os produtos mais presentes eram o trigo, de acordo
com Monteiro, posteriormente, o algodão e a pecuária, mais significativos a
partir da conjuntura das décadas de 1640, conforme visto na parte II desta
tese.
Eram constantes as posturas camarárias impedindo a saída da população
para tratar do comércio de gado com a região costeira. Em 1636, os oficiais
camarários cobravam a saída do gado de Cristóvão Rodrigues e do tropeiro Francisco
de Pontes.[89] Outro
senhor que desobedecia as posturas era Antonio Gomes Barbosa, dez anos depois.[90]
Depois da década de 1640, as pressões sobre os senhores de gado
aumentavam como era encontrado na postura de 1647, quando João de Godoi mandava
marcar suas rezes.[91]
No ano seguinte, “no primeiro dia do mês de agosto”, “nesta vila de São Paulo
na casa da câmara dela estando juntos de vereação os oficiais da câmara abaixo
assinados, o juiz ordinário Luis da Costa e vereadores Francisco Bueno e João
Paes e Braz Cardoso e logo eles foi dito ao procurador do conselho Simão Lopes
Fernandes que se tivesse que requerer o fizesse e foi dito requerido aos ditos
oficiais da câmara que fosse condenado Inácio Bandeira morador da vila de
Santos por levar gado desta vila sem licença desta câmara e assim Manuel da
Costa Gigante também por levar gado para a vila do Porto de Santos sem licença
danificando o caminho real que visto pelos ditos oficiais houveram por
condenados aos sobreditos assina Inácio Bandeira e Manuel Costa cada um seis
mil réis, para que se passe mandado para que cada um deles seja executado na
dita pena o que por nós foram condenados e de como assim o mandaram de tudo fiz
este termo em que assinaram eu Domingos
Machado...”[92]
Na década seguinte, as posturas contrárias aos índios foram mais
presentes nas atas da vila, sendo que em 1659, a governança da terra declarava
que “a esta vila vinham continuamente muitos negros a vender couros de gado
vacum o que lhe compravam os brancos, cousas que não terem gado que o que iam
furtar aos moradores para lhes venderem os couros pelo que lhe requeria
mandasse fixar um coartel que pessoa alguma comprasse couro a negro sem
primeiro amostrar ao escrivão da câmara para lhe ver a marca e tomar por
lembrança nem menos comprasse de valia a negro de roupa tirada...”[93]
Contudo, dentre os patrimônios familiares que continham grandes
quantidades de rezes estava o de Francisco de Proença, segundo Machado,
“cavalheiro fidalgo, senhor da governança da terra”, no valor de 393$640 réis, sendo mais que a metade do monte mor (647$420
réis).[94]
Em testamento realizado em 1638, destaca-se que deixava para a Companhia de
Jesus 40$000 réis para ajudar na construção de um palio. Declarava possuir
vacas, bois, bezerros e 70 ovelhas.[95] No
inventário post do senhor eram
arrecadadas 180 cabeças de gado, mais 6 cavalares. No mesmo espólio estavam o
fato de baeta e ferragoulho (5$000 réis), o calção de tabi encernado com um
corpo de gibão da mesma seda e mangas de tiruela negras (8$000 réis). Além disso,
entregava à Salvador Pires, seu genro como dote da sua filha com Messia
Rodrigues. Para Ana de Proença, destacavam-se dentre os seus artefatos
indumentários, uma saia de cetim negro com 12 passames avaliados em 15$000
réis, uns pendentes de ouro em 2$000 réis.[96]
As filhas também recebiam um escravo africano por nome Francisco de 45$000
réis.[97]
No patrimônio familiar dos Proença continuavam a destacar-se a pecuária,
com o espólio de Ana de Proença, casada com Salvador Pires de Medeiros,
arrolado em 1644, com mais de 62 cabeças. A senhora ainda mantinha dentre
outros objetos indumentários, um gibão de damasco, uma saia preta, uma de porto
alegre, outra usada de baeta, mais outra de tafetá, um manto de tafetá, camisas
de linho, assim como as gargantilhas e anéis de ouro, sendo que o valor de tudo
isso ultrapassava os 36$000 réis.[98]
Na década de 1650, a pecuária estendia-se pelos arredores da vila,
atingindo regiões mais distantes. O senhor Mathias Lopes, em testamento
declarava possuir 100 cabeças de gado. No entanto, possuía uma considerável soma de 22 negros da terra, como o casal velho Gaspar e Brígida
acompanhados da filha chamada Lourença.[99]
Em resumo, com a diminuição econômica da produção de trigo, os currais e
as lavouras de algodão aumentavam depois da década de 1640. Além disso, nota-se
que florescia na vila de São Paulo um agitado mercado de roupas usadas, objeto
do próximo momento da tese.
3. O comércio das vestimentas usadas
Em uma sociedade com baixo teor do consumo, as vestimentas mantinham uma
importância significativa. Por isso, as indumentárias usadas circulavam
habitualmente mesmo entre a gente de qualidade, ou a governança da terra. Eram
arrematados nos inventários post-mortem
uma série de têxteis, vestes desde as mais simples e baratas até as mais caras
e elaboradas para o sustento dos órfãos. Grande parte desse comércio de roupas
usadas acabava atraindo os moradores da vila de São Paulo dos mais variados
segmentos sociais. Desse modo, não era necessário o consumo dos artefatos novos,
pois eram importantes aqueles mais elaborados como mantos, gibões bordados com
fitas e jóias, ou mesmo vestidos femininos de tecidos importados.
Logo no fim do século XVI, a camada senhorial aos poucos passava a comercializar têxteis e indumentárias usadas.
Em 1599, no inventário post-mortem de
Salvador Chaves e sua esposa Polonia Domingues verifica-se que comercializavam
têxteis e indumentárias em troca do açúcar com moradores da vila de Santos.
Novelos, saios, gibões, calções, mantos e panos de algodão preto eram vendidos
nas arrematações dos leilões dos órfãos. No entanto, devido à antigüidade do
documento pouco pode-se descrever toda essa mercancia. Dentre as vestimentas
mais significativas estavam os calções de algodão preto (1$600 réis), outros calções
pretos, uma roupeta parda sem manga e uma camisa de mulher (1$000 réis), chapéu
preto, carapuças, sapatos, gibão de pano de linho, manto de 5$000 réis e a saia
de 1$200 réis. [100]
Os mais importantes artefatos indumentários eram arrematados do inventário
de Manuel de Chaves, os sapatos à Antonio Camacho, por $450 réis, bem como os
28$000 réis dados pelo curador Francisco de Chaves, em um vestido de picote,
roupeta, calções, chapéu, meias, duas camisas e os sapatos de boa qualidade.[101]
Com a fazenda de 70$560 réis do patrimônio familiar de Braz Gonçalves, o
Moço, tendo feito o testamento no “sertão e limites onde povoam o gentio”[102],
o senhor conseguia acumular poucas peças, que eram arrematadas no processo
inventarial, como um vestido de pano preto usado, roupeta e calções para
Mathias Gomes, avaliados por 7$000 réis e o gibão de armas sem mangas, em 5$000
réis a Luiz Hames. Esse último tinha como fiador o capitão Antonio Pedroso, que
comprava vários artefatos, dentre os quais uma camisa de $900 réis.
Além desse vestuário, umas
ceroulas de pano de algodão eram vendidas por Balthazar Gonçalves por oito
cruzados, e um cruzado valia o chapéu pardo vendido à Antonio Pedroso. Paschoal
Leite comprava as meias de lã e uns sapatos de carneira pela fortuna de 3$000 réis.
João Mozilo arrematava um mantéo de holanda a fiado, tendo como fiador
Sebastião Peres. Dentre as armas, uma espada era vendida por 5$200 réis para o
mesmo Balthazar Gonçalves e a adaga e capa com cabo de couro de anta era
arrematada também em fiado por dois tostões para Raphael de Proença.[103]
Do espólio indumentário de Jorge Rodrigues, Manuel Godinho comprava por
4$000 réis pagos em dinheiro o ferragoulho. A roupeta e o calção eram
arrematados por Christovão Pereira por um preço mais baixo, 2$100 réis.[104]
Em 1607, no processo inventarial do Juízo dos Órfãos de Francisco
Barreto, eram arrematadas e vendidas as raras nove cabeças de ovelhas em 5$800
réis, as roupetas de baeta e gibão de taficina eram comparadas por Luiz
Fernandes, fundidor de ferro, por 3$500 réis, duas camisas à Josepe de Camargo,
por 2$000 réis. Esse último comprava um casal de gentios por 50$000 réis, pagos
em dinheiro vivo. Outras indumentárias eram arrematadas para os menores, como o
ferragoulho de baeta para Francisco de Alvarenga (3$000 réis). Os calções de
gorgorão, vendidos a Antonio Coresma, custavam a fortuna de “cinco mil e tantos
réis”. Nesse processo, ainda é encontrada uma informação importante, sendo uma
rede vendida para Bento de Barros, por 3$000 réis, que demorava seis meses para
ser tecida e ficar pronta.[105]
Além da venda dos cativos e dos artefatos indumentários, o inventário post mortem contava com importantes bens
que cabiam à viúva Maria Jorge. Dentre os artefatos, destacam-se a casa de além
em 6$000 réis, a espada, punhal e escopeta no mesmo valor do imóvel, o gibão
azul ($800 réis) e o corpinho de cetim, com saia em 3$800 réis.[106]
Nota-se, portanto, que os patrimônios familiares mais valorizados eram os
gentios, seguido das vestimentas. Tal fato caracteriza a necessidade do consumo
e comércio indumentário, provavelmente devido à necessidade de ostentação da
cultura das aparências, no Novo Mundo, na América portuguesa e também na vila
de São Paulo.
Os bens indumentários dos órfãos de Belchior Carneiro eram vendidos em
praça pública no dia 9 de janeiro de 1609. Antonio Bicudo comprava a roupeta de
baeta por 1$500 réis. No dia seguinte, a pele de carneira e uma camisa eram
vendidas respectivamente para Pero de Moraes por $420 réis e pelo seu salário
($550 réis). Francisco Leão arrematava as ceroulas novas por 1$120 réis.
Novamente, em fevereiro, os tecidos de tafetás eram vendidos por 4$000 réis
para Manuel Ribeiro Boto. Ainda era vendido o gorgorão a Gaspar Fernandes Picão
na vila de Santos por 3$400 réis, pagamento realizado em dinheiro.[107]
Quatro anos depois de iniciado o processo, Balthazar Pires comprava a roupeta e
calções de veludo azul golpeados com mangas de tafetá também da mesma cor, por
2$66 réis.[108]
Nesse mesmo processo, a viúva Hilária Luiz declarava que “tinha em seu
poder e debaixo de sua administração os menores seus filhos e filhos do dito
defunto seu marido e que outrossim tinha em seu poder por sua autoridade dele
dito juiz toda a fazenda que está botada em inventário, tirando algumas roupas
que se venderam e as peças cativas...”[109]
No final da primeira década do século XVII, em testamento, Pedro Álvares
deixava da terça, um manto de tafetá para Nossa Senhora do Rosário, bem como
declarava a esposa Ana Farel como testamenteira e o cunhado Domingos Dias como
curador. A terça ficava também com a cônjuge e o testador descrevia as suas
dívidas, como as duas varas de pano emprestadas da comadre Paula Corrêa, mais
duas de José Álvares, duas arrobas de algodão para a esposa do compadre João
Moreira.[110] Das
fazendas vendidas em hasta pública, no processo inventarial do senhor, contavam
como vestimentas, o saio a Francisco de Oliveira, por 10$100 réis, a baeta à
João Pereira pelo mesmo preço, assim como a espingarda por 6$000 réis para João
Pereira.[111]
Em 1611, com a morte de Justa Maciel e André Martins, os bens do casal
eram vendidos para o sustento dos órfãos. E, dentre os artefatos arrematados
estavam 3 camisas e 2 ceroulas compradas por Mathias Machado por 1$500 réis em
dinheiro.[112] Thomé Martins quitava a dívida de 2$000 réis
dos 4$000 réis do vestido do irmão.[113]
O mesmo era preso por se recusar a ser o curador e tutor dos sobrinhos órfãos,
causando-lhes “perdas e danos”[114]
Dessa forma, ficava encarregado pelos pequenos, o outro tio Paulo da Fonseca.[115]
Dois anos depois, nos leilões dos bens de Maria Jorge e Pero Nunes,
Gonçalo Madeira, pai da falecida, comprava uma saia azul por 3$500 réis, bem
como as 15 arrobas de algodão. O curador Álvaro Barreto declarava ao juiz Pedro
Taques não conseguir vender na praça as cintas, toalhas de mãos de algodão,
mais 6 varas de pano de algodão e ainda os pendentes de ouro.[116]
Neste inventário, constava a pouco frequente doação de tecidos de raxeta para a
Ordem de Nossa Senhora do Carmo para “um habito”, que “levou a defunta à
sepultura.[117]
Poucos rosários foram encontrados no rol dos patrimônios dos
inventariados, dentre eles destacam-se dois vendidos para o gentio da terra
Amaro por $160 réis comprados dos bens de Antonio da Silveira, ourives da vila.
No mesmo processo, eram vendidas as pedras de anéis por 1$440 réis para
Sebastião Ramos, bem como a espada e adaga à Pero de Oliveira por 4$000 réis.[118]
As vendas das indumentárias cresciam no decorrer do decênio de 1610.
Gaspar Barreto arrematava um chapéu por 1$800 réis e um manto por 5$650 réis. O
calção de gorgorão era comprado por Álvaro Neto, o Moço por 2$000 réis, que
comprou também as ceroulas de pano de linho por 1$000 réis. A camisa nova e os
9 guardanapos eram compradas por Paulo da Silva por 1$300 réis. Gaspar Manuel
Salvago também participava do leilão dos bens dos órfãos, comprando um espelho
a fiado por $850 réis e o gibão de bombazinha por 1$820 réis, as ligas de
tafetá roxas por $650 réis. O
ferragoulho de baeta era vendido para Jacome Nunes e a camisa usada para
Francisco de Paiva, ambas as peças eram compradas à fiado.[119] Todavia,
o patrimônio familiar ficavam em débito de 15$300 réis, decorrente das
abundantes dívidas e esmolas declaradas pelo testamenteiro, apesar de possuir
abundantes indumentárias com valores relativamente altos, como uma vasquinha de
damasco em 4$000 réis.[120]
Enfim, as dívidas somente foram quitadas em 1633.[121]
Em 1616, o vestido, calção e roupeta
do espólio de Francisco Gomes Botelho, eram vendidos por 2$600 réis, os sapatos
e 2 pares de meia (1$000 réis) bem como a roupeta de baeta (1$600 réis) para
Antonio Jorge, a fiado por dois anos.[122]
Ainda no mesmo ano, Francisco Rodrigues Velho comprava do espólio de Martim do
Prado, vasquinha, manto, saio de baeta e gibão por 10$000 réis, pagos em
dinheiro. [123]
No processo inventarial de Antonia de Soveral viúva de Martim do Prado, a
viúva Maria Correa recebia um manto e um gibão como esmola.[124]
Apesar do comércio de roupas usadas ser lucrativo, as camadas senhoriais tinham
o costume de distribuir as indumentárias para auxiliar os mais necessitados, ou
mesmo participar de redes de solidariedade entre familiares e moradores da vila.
Assim, era comum a venda das vestimentas para a distribuição das esmolas
da camada senhorial, como é o caso de Maria Paes, a qual declarava em
testamento que “os fatos de seu uso sejam vendidos para pagamento de suas
esmolas e missas”. A testadora ainda declarava conter 3$200 réis em dívidas com
Diogo de Oliveira, morador de Santos. [125]
As indumentárias da viúva eram, depois das benfeitorias como as lavouras
e casas, os maiores bens materiais, como o saio de baeta guarnecido de tafetá
preto, o manto de sarja e a saia. Todos esses artefatos vestimentários valiam
4$000 réis, metade do valor das casas da vila de 8$000 réis[126]
Era significativo o comércio de armas na vila. Paulo da Costa arrematava
do espólio de João do Prado a espada e os talabartes por 1$400 réis.[127]
O inventário do sertão de Francisco Álvares contava com as armas de algodão –
provavelmente o famoso gibão de guerra –, o gibão de holanda, 2 camisas, 2
ceroulas. Duas espadas eram vendidas por 4$000 réis e o arcabuz à 2$500 réis.[128]
No inventário post mortem de
Amaro Domingues, a espada de 2$000 réis era vendida para Leonel Furtado e a
escopeta de 8$000 réis compradas por Pero Vidal. Nessas arrematações vendiam o
vestido de raxeta para Jacome Nunes (2$580 réis).[129]
Outras roupas como um vestido de grise de homem, as mangas de tafetá e o colete
de catassol ficavam com os pequenos filhos sob os cuidados da viúva Catharina
Ribeiro.[130]
Outro senhor, Pedro de Araújo, esposo de Ana de Alvarenga, deixava
inventário no sertão, com armamentos: gibão de armas em 1$000 réis, espingarda,
fuzil em $100 réis, ceroulas, camisas e redes para atravessar os matos. A
escopeta era vendida por 5$000 réis e a faca por $440 réis para Francisco
Baldim, assim como os três arretéis de pólvora para Francisco Duarte por 2$400
réis. Fernandes de Valasques comprava o gibão de armas por 1$100 réis.[131]
Nos espólios de Paschoal Neto, senhor paulista, sertanista e esposo de
Maria Luiz, curadora dos filhos órfãos, eram arrematadas as espingardas com
seus “aviamentos de formas” à Silvestre Ferreira em 12$000 réis. O gibão de
bombazinha e os calções eram comprados por João Maciel por 4$000 réis. As
camisas de pano de algodão, tão comuns ao universo sertanejo, eram vendidas à
João Machado.[132] Desse modo, segundo Alcântara Machado, nos
“inventários do sertão, no arrolamento do que deixam os bandeirantes mortos em
campanha, a fórmula sobre as modificações impostas pelas circunstâncias”.[133]
Em 1619, Antonio da Fonseca deixava a viúva Helena Rodrigues, com três
filhos pequenos. Em testamento, o senhor declarava que “se venderá uma caixa
grande e um calção de pano azul e roupeta de baeta e um chapéu de Segóvia, mais
resgatarão uma negra por nome Cristina valia de dez mil réis em vacas as quais
lhe tornem ao dito Antonio Pinto que são sete vacas com cinco crias...”[134]
A viúva, por intermédio do pai e curador dos órfãos Antonio Camacho,
conseguia negociar a venda de certas peças, ficando com os calções, a caixa e a
roupeta, tudo por 8$740 réis. E, eram vendidas as escopetas por 8$500 réis para
o sustento dos órfãos. Por fim, em 1633, o processo inventarial era finalizado,
com a morte da escrava Cristina no Rio de Janeiro, na casa de Cecília Gago e
Helena Rodrigues. A viúva casava-se novamente com Francisco Borges.[135]
As redes de crédito e débito também se faziam com as indumentárias. Em
1623, no inventário de Balthazar Nunes, vendiam-se em leilões a espada, cinto e
talabartes, as meias de cabrestilho a fiado por dois anos para o morador da
vila Francisco Preto. Antonio de Soveral comprava meias de seda também para
pagar nos próximos dois anos. Diogo de Souza arrematava o vestido, roupeta e
calção roxo a crédito.[136]
No final da década de 1620, a viúva Magdalena Holsquor mantinha negócios
com as praças da Bahia, havendo uma dívida de 170$00 réis de Balthazar de
Aragão, e do Rio de Janeiro para com o falecido esposo. Nesta última cidade, a
senhora tinha uma mantilha de veludo.[137]Aos
filhos órfãos de Manuel Vandala ficavam dentre os vários bens, a escrava da
Guiné Izabel manca, toalhas de Flandres e camisas de linho brancas por 5$000
réis. Além disso, deviam-lhes o morador da Bahia, 80$000 réis e Juliana de
Sousa, viúva de Jorge Neto, 60$000 réis.[138]
Dessa maneira, as relações de crédito e débito estendiam-se para além da vila
de São Paulo, atingindo outras paragens importantes da América portuguesa.
O comércio de indumentárias usadas, encontrado nos processos de
inventários do século XVII paulistas, era importante para o sustento da viúva e
dos órfãos. No inventário post-mortem
de Luiz Anes tornaram-se o “remédio para a pobreza” de Jeronyma Dias e a
extensa prole de sete filhos: Biniana, filha bastarda de 23 anos, Margarida
Dias (20 anos), Andreza Dias (21 anos), Antonio Dias (18 anos), Magdalena Dias,
Luix Eanes Grou, Ascenso Luis (7 anos). Nas partilhas, para acumular os bens
dos órfãos a mando do juiz, dentre os artefatos indumentários mais relevantes,
vendiam-se em asta pública, o gibão em $520 réis para o capitão Balthazar
Gonçalves Malio, uma camisa para Antonio Fernandes, outro gibão em $500 réis
para Antonio Fernandes, a carapuça, por $440 réis à João do Prado. André
Botelho comprava sapatos, em $120 réis, bem como uma camisa de algodão ($900
réis), Bernado Fernandes as ceroulas ($640 réis), Antonio Dias Grou, o manto
por $400 réis e os calções ($960 réis). A roupeta de picote era vendida à
Izaque Dias, por $960 réis, tendo para pagar um ano de prazo. Bastião Rodrigues
Velho arrematava uma camisa também a crédito por $220 réis. [139]
Mesmo com um patrimônio familiar líquido significativo de 412$520 réis, a viúva
Suzana de Góes precisava vender para João Raposo Bocarro a fiado por um ano, o
gibão de tafetá pardo e o vestido de perpetuana verde-mar, em 4$000 réis para o
pagamento das despesas do inventário do marido Diogo Dias de Moura.[140]
Realizado nos sertões, o inventário de Jorge Dias, possuía os calções de
pelo vendidos à Gaspar Dias por $480 réis, juntamente com as camisas e
ceroulas, por $320 réis. Os sapatos de
$260 réis também eram comprados por Domingos Gonçalves. Mas nem tudo era de
pequeno valor, a escopeta para a defesa e aprisionamento do gentio custava
5$000 réis. [141]
No processo inventarial de Pero Domingues, em 1633, arrolavam-se nos bens
dos órfãos, os têxteis e as indumentárias vendidas nos leilões para serem
guardados o patrimônio familiar. Quatro côvados de baeta eram arrematados em
fiado para José Ortiz de Camargo, em 7$160 réis. O vestido azul de 4$000 réis e
o ferragoulho era vendido para Antonio de Almeida. Cinco anos depois de aberto
o processo, para administrar os bens dos órfãos, a viúva Magdalena Fernandes
anunciava a desistência da curadoria para Antonio Domingues, filho do falecido.[142]
A acumulação dos bens dos órfãos também ocorria no longo inventário post mortem de Francisco Rodrigues de
Beja, pois esse terminara em 1664, devido aos confrontos da viúva Maria da
Cunha com João de Brito Cassão, pela demora da divisão dos bens. No processo,
eram arrematados a roupeta e capa (2$500 réis), a caixa (1$700 réis), o
cobertor (2$05 réis), gibão e ceroulas velhas a Manuel João Branco.[143]
Além do comércio de roupas usadas, alguns senhores doavam as suas roupas
para instituições de caridade, ou, para pessoas mais próximas, como era o caso
de Ignez Pedroso que deixava para a irmã Maria Moreira, um gibão de tafetá,
para a sobrinha Mariana Pedroso uma saia e para Dionizia de Góes um manto de
sarja.[144]
A população indígena também comprava indumentárias, como o índio porteiro
comprava o vestido de baeta, capa e roupeta em 5$000 réis do espólio de Antonio
de Almeida. Nesse mesmo processo, Manuel João Branco adquiria a espada, adaga e
cinco talabaetes por 4$500 réis.[145]
Em 1638, as armas de vestir, ou seja, o gibão de algodão do senhor
sertanejo Estevão Gonçalves, filho de Balthazar Gonçalves, curador dos netos,
eram vendidas para Henrique da Cunha por 2$000 réis.[146]
Além disso, ficava com a viúva Paschoa da Pena e os filhos Domingos e
Balthazar, como importantes objetos, o tear sem pentes de 2$000 réis, a espada
de 3$000 réis e o calção com roupeta de raxa roxo do mesmo valor. Nas partilhas
dos cativos, as escravas tecedeiras indígenas Rebeca e Luzia cabiam à viúva e
Sabina e Izabel ficavam aos órfãos. [147]
Ainda neste mesmo ano, Gaspar Fernandes, esposo de Izabel da Cunha, tinha
seu inventário do sertão, as ceroulas eram compradas por Francisco de Siqueira,
a rede de dormir à Antonio de Siqueira e o colete de raxeta à Bernado da Costa,
por dois pesos.[148]
Além desses bens indumentários, o patrimônio familiar continha as meias de seda
amarelas avaliadas em 3$200 réis, o vestido de raxeta verde picado entre [sic]
forrado de tafetá preto e abotoado, em 6$000 réis, e a espada com o idêntico
valor.[149]
Neste momento, o inventário de Antonio da Silveira era realizado no
sertão. No espólio sertanejo possuía uma escopeta, com bolsa e povarinho, os
arretéis de chumbo, um capote usado de Porto Alegre, um gibão de armas usado,
sapatos de veados novos, meias velhas de fio de algodão, tesoura e dedal de
alfaiate, pratos, facão tachos e rede. A escopeta era vendida para João de Santa
Maria pela fortuna de 15$500 réis. [150]
No inventário post mortem de
Braz Gonçalves, o velho, o qual tinha um pequeno monte mor de 32$810 réis, eram
arroladas e arrematadas várias peças, como a verruna, sovela e linhas em seis
vintes para Fernando de Godoi, as mangas por um tostão vendidas à João da
Costa, as chinelas a Miguel Nunes, compradas a prazo, as ceroulas por $420 réis
à Jeronymo Rodrigues e os sapatos para Duarte Gomes por um cruzado. Não
obstante, os valores eram relativamente baixos e essas compras eram realizadas
em crédito, sendo o fiador mais constante João de Godoi.[151]
Assim, nos inventários post mortem,
as vestimentas usadas tinham um aquecido comércio, pois também os herdeiros
precisavam consumir roupas. Em 1641, Paulo, o curador do órfão homônimo Paulo,
filho de Antônio Proença de Varela e Maria de Alvarenga, Domignos Maciel,
também curador e avô, pediam ao juiz Simão de Toledo que liberasse dinheiro
para “render para o órfão que o tinha nu e havia mister vinte cruzados para
vestir e alimentar visto ficar tão pobre por morte de seu pai e mãe”.[152]
Em resumo, as rendas retiradas do comércio dos bens inventariados eram
importantes para a sobrevivência das viúvas e dos órfãos. Era função do Juízo
dos Órfãos, em teoria, cuidar do patrimônio familiar, bem como fiscalizar os
papéis dos curadores e tutores. Isto nem sempre acontecia, dado a presença de
conflitos e tensões de interesses da instituição jurídica da vila de São Paulo
Colonial. Mas, no sertão, os “habitus”
faziam parte dos espólios, das redes comerciais e dos legados das heranças
familiares.
[1] “Carta do Pe. Leonardo
Nunes aos padres e irmãos de Coimbra. De São Vicente, novembro de 1550”, In:
Serafim Leite. Monumenta Historica
Societatis Iesu. Manumenta Brasiliae. Romoa/Coimbra: 1956, vol.1,
pp.195-218.
[2] “Carta do Pe. Manuel da
Nóbrega ao Pe. Luis Gonçalves da Câmara, Lisboa. De São Vicente, 15 de junho de
1553”. In: Serafim Leite. Monumenta
Historica Societatis Iesu. Manumenta Brasiliae. Romoa/Coimbra: 1956, vol.1,
p.502.
[3] “Carta do Pe. Manuel da
Nóbrega ao Pe. Luiz da Câmara, Lisboa. Do sertão de São Vicente, agosto de
1553”. In: Serafim Leite. Monumenta
Historica Societatis Iesu. Manumenta Brasiliae. Romoa/Coimbra: 1956, vol.1,
pp. 524-526.
[4]
Serafim Leite. Monumenta Historica
Societatis Iesu. Manumenta Brasiliae. Romoa/Coimbra: 1956, vol. 2, pp.
76-98.
[5] “Carta do P. Manuel da
Nóbrega ao Diego Laynes, Roma. De São Vicente, 12 de junho de 1561”. In:
Serafim Leite. Monumenta Historica Societatis Iesu. Manumenta Brasiliae.
Romoa/Coimbra: 1958, vol.3. (1558-1563), pp.361-362.
[6]
Essa fonte está alocada no Arquivo do Estado de São Paulo, na caixa C00478. O
seu estado de conservação está precário e significativamente alterado, estando
plastificado e danificado devido à atividade predatória do tempo. Ou seja,
dificilmente o documento manteve o seu valor original do século XVI. Todavia, é
necessário construir ainda uma história dessas fontes tão analisadas pela
historiografia paulista do século XX. Essa mesma fonte foi transcrita pelos
paleógrafos em fins da década de 1910 e, desse modo, pode ser encontrada em
três suportes: o texto encadernado e plastificado, digitalizado e o transcrito,
sendo que cada modo contém possibilidades distintas de leitura devido à ordem
do documento e formas de visibilidade. Ver Inventário de Damião Simões (1578).
In: I.T.: São Paulo: AESP, 1920, pp.
3-22
[7]
Idem, p.8.
[8]
Idem, pp.9-10.
[9]
Idem, p. 13.
[10]
Idem, pp.17-18.
[11]
Idem, p. 15.
[12]
Idem, p.21.
[13] Fernand Braudel. Civilização material, economia e
capitalismo. Séculos XV-XVIII. As estruturas do cotidiano: o possível e o
impossível. São Paulo: Martins Fontes, vol. 1, 1997, p. 75.
[14] Eni de Mesquita Samara. As mulheres, o poder e a família. São
Paulo, Século XIX. São Paulo: Marco Zero/Secretaria do Estado da Cultura de São
Paulo, 1989, p. 151.
[15] Maria Odila Leite da Silva
Dias. Quotidiano e poder em São Paulo no
século XIX. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1995, p. 29.
[16] Eni de Mesquita Samara. Op.
Cit. p. 55.
[17]Ida Lewkowicz & Horacio
Gutiérrez. “As viúvas em Minas Gerais nos séculos XVIII e XIX”. In: Estudos de História. Franca, vol.4,
1997, pp. 136-137.
[18]
Inventário e testamento de Damião Simões (1578). I. T. São Paulo: DAESP, vol I, pp. 1-20. Inventário de Martim
Rodrigues (1612). I. T. São Paulo:
DAESP, vol. 2, 1920, pp.5-76.
[19]
Inventário de Martim Rodrigues (1612). In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol. 2, 1920, pp 15-16.
[20]
Idem, pp.12-13.
[21]
Testamento de Damião Simões (1632). I.T.
São Paulo: DAESP, v. 8, 1920, p. 392.
[22]
Inventário de Damião Simões (1632). I.T.
São Paulo: DAESP, v. 8, 1920, pp. 287-297.
[23]
Inventário de Francisco da Gama (1600). In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol.2, 1920, pp.334-371.
[24]
Testamento e Inventário de Jeronyma Fernandes (1630). I.T.
São Paulo: DAESP, v. 8, 1920, pp.
[25] Belmonte.
Nos tempos dos bandeirantes. São
Paulo, s/d, p. 54.
[26] Muriel
Nazzari. O desaparecimento do dote.
Mulheres, famílias e mudança social em São Paulo, Brasil, 1600-1900. São
Paulo: Companhia das Letras, 2001, (tradução), p. 37.
[27]
Inventário de Francisca Cardoso (1611). In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol.3, 1920, pp. 3-17.
[28]
Inventário de Custodio de Paiva (1610). In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol.2, 1920, p. 503.
[29]
Inventário de Paula Gomes (1614). In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol.3, 1920, pp. 368-370.
[30] Inventário
de Pedro Álvares (1615). In: I. T.
São Paulo: DAESP, vol.3, 1920, pp. 90-95.
[31]
Inventário de Manuel Preto (1637). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v. 10, 1921, pp. 178-180.
[32]
(itálico meu). Idem, pp. 181-182.
[33] Atas da câmara da vila de São Paulo
(1623-1628). São Paulo: AMSP, vol. 3, 1915, p. 325.
[34] Atas da câmara da vila de São Paulo
(1640-1652). São Paulo: DAMSP, 1915, v.5, p. 259.
[35] Idem,
p. 208
[36] Idem,
pp. 317.
[37] Idem,
pp. 380-381.
[38] Idem,
p. 404.
[39] Idem,
p. 436.
[40] Atas da
câmara da vila de São Paulo (1653-1678). São Paulo: DAMSP, 1915, v.6, p. 42.
[41] Atas da
câmara da vila de São Paulo (1640-1652). São Paulo: DAMSP, 1915, v.5, p.
193-195.
[42] Atas da
câmara da vila de São Paulo (1653-1678). São Paulo: DAMSP, 1915, v.6, pp.
353-354.
[43] John
French. Riqueza, poder e mão-de-obra numa economia de subsistência. São Paulo,
1596-1625. São Paulo: Revista do Arquivo
Municipal, ano 45, número 195, 1982, p. 90.
[44] Atas da
câmara da vila de São Paulo (1629-1639). São Paulo: AMSP, 1915, v.4, p.
446-447.
[45]
Afonso de E. Taunay. São Paulo no século
XVI. São Paulo: Paz e Terra, (1ª ed., 1914) 2003 p. 337.
[46]
Sérgio Buarque de Holanda. Caminhos e
Fronteiras. São Paulo: Companhia das Letras, (1ª ed. 1956)1995, pp.
126-127.
[47]
Idem, p. 131.
[48]
Inventário de Francisco Barreto (1607). In: I.
T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 2, p. 229.
[49] Idem,
p. 242.
[50]
Alcântara Machado. Vida e morte do bandeirante. São Paulo: Imprensa Oficial, (1ª Ed.
1933) 2006, p. 40.
[51] Idem,
p. 69.
[52] Idem,
pp. 69-70.
[53]
Inventário de Belchior Carneiro (1609). In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol. 2, p. 159.
[54] Idem,
p. 168.
[55] Atas da Câmara da vila de São Paulo (1593-1626). São Paulo: AMESP,
vol. 3, p. 433.
[56] Atas da
Câmara da vila de São Paulo (1623-1628). São Paulo: AMESP, vol. 2, pp.
79-80.
[57] Atas da câmara da vila de São Paulo
(1629-1639). São Paulo: AMSP, v.4, pp. 164-165.
[58] Atas da câmara da vila de São Paulo
(1623-1628). São Paulo: AMSP, vol. 3, 1915, p. 299.
[59]
Inventário de Paula Fernandes (1612). In: I.
T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 3, pp. 291-292.
[60] Idem,
pp. 298-299.
[61]
Inventário de Raphael de Oliveira (1612). In: I. T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 3, pp. 327-328.
[62] Idem,
p.340.
[63] Idem,
p.347.
[64] Idem,
p. 349.
[65]
Inventário de Martim do Prado (1616). In: I.
T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 4, pp.401-406.
[66] Testamento
de Matheus Leme (1628). In: I. T. São
Paulo: DAESP, vol. 7, pp. 111-113.
[67]
Inventário de Matheus Leme (1628) In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol. 7, pp.146-150.
[68] Idem,
pp. 153-154.
[69] Idem,
pp. 156-157.
[70]
Inventário de João Gomes (1620). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v.5, 1920, p. 315.
[71]
Inventário de Balthazar Nunes (1623). I.T.
São Paulo: DAESP, v. 6, 1920, p. 38.
[72]
Testamento de Pedro Álvares (1609). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v.2, 1920, p. 384.
[73]
Inventário de Pedro Álvares (1609). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v.2, 1920, p. 416.
[74]
Inventário de Francisco de Almeida (1617). In: I. T. São Paulo: DAESP, v.5, 1920, p. 141.
[75]
Inventário de Manuel Requeixo (1616). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v.32, 1942, pp. 11-59.
[76]
Inventário de Catharina Medeiros (1629). In: I.T. São Paulo: DAESP, 1920, v.8, pp. 91-110.
[77]
Inventário de Domingos Gonçalves (1615). In: I. T. São Paulo: DAESP, vol. 5, p. 71.
[78]
Inventário de Balthazar Gonçalves (1626). In: I. T. São Paulo: DAESP, vol. 7, p. 128.
[79]
Testamento de Antonio Gonçalves (1628).
In: I. T. São Paulo: DAESP,
vol. 7, p. 384.
[80]
Inventário de Antonio Gonçalves (1628).
In: I. T. São Paulo: DAESP,
vol. 7, pp. 392-394.
[81]
Inventário de Manuel Alves Pimentel (1632). In: I.T. São Paulo: DAESP, 1920, v. 31, pp. 183.
[82] Idem,
p. 184.
[83] Testamento
de João Tenório (1634). In: I.T. São
Paulo: DAESP, 1920, v.9, pp. 319-327.
[84]
Inventário de Cornélio de Arzão (1638). In: I.T.
São Paulo: DAESP, v. 12, 1921, pp. 29-37.
[85]
Inventário de João Tenório (1634). In: I.T.
São Paulo: DAESP, 1920, v.9, pp. 317-403.
[86] Ilana Blaj, Op. Cit., pp. 167-168.
[87] Atas da Câmara da vila de São Paulo. São
Paulo: AMSP, 1915, v.3. pp. 158-159.
[88] Ilana Blaj Op. Cit.Idem, p. 200.
[89] Atas da
câmara da vila de São Paulo (1629-1639). São Paulo: AMSP, v.4, p. 294.
[90] Atas da
câmara da vila de São Paulo (1640-1652). São Paulo: DAMSP, 1915, v.5, p. 153.
[91] Idem,
p. 301.
[92] Idem,
pp. 337-338.
[93] Atas da
câmara da vila de São Paulo (1640-1652). São Paulo: DAMSP, 1915, v.6, parte II,
pp. 125-126.
[94]
Alcântara Machado. Op. Cit., p. 75.
[95] Testamento
de Francisco de Proença. (1638). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v. 11, 1921, pp. 422-429.
[96]
Inventário de Francisco de Proença. (1638). In: I. T. São Paulo: DAESP, v. 11, 1921, pp. 419-493.
[97] Idem,
p. 445.
[98]
Inventário de Ana de Proença (1644). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v. 26, 1921, pp. 59-72.
[99]
Inventário de Mathias Lopes (1651). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v. 26, 1921, pp. 79 e 87.
[100]
Inventário de Salvador Chaves e Polonia Domingues (1599). In: I.T. São Paulo: DAESP, v. 30, 1921,
pp.5-29.
[101]
Inventário de Manuel de Chaves (1603). In: I.T.
São Paulo: DAESP, v. 1, 1920, p. 501.
[102]
Testamento de Braz Gonçalves (1603). In: I.T.
São Paulo: DAESP, 1921, v.26, p. 8.
[103]
Inventário de Braz Gonçalves (1603-1604). In: I.T. São Paulo: DAESP, 1921, v.26, pp.8, 9, 16-19, 24.
[104]
Inventário de Jorge Rodrigues (1606). . In: I.T.
São Paulo: DAESP, v. 32, 1942, pp. 56-57.
[105]
Inventário de Francisco Barreto (1607). In: I.
T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 2, p. 217.
[106]
Idem, pp. 222-223.
[107]
Inventário de Belchior Carneiro (1609). In: I.
T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 2, p. 151.
[108]
Idem, p. 181.
[109]
Iden, p.141.
[110]
Testamento de Pedro Álvares (1609). In: I.
T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 2, pp. 383-384.
[111]
Idem, pp. 417-418.
[112]
Inventário de André Martins (1611). In: I.
T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 3, p. 133.
[113]
Idem, p. 135.
[114]
Idem, p. 147.
[115]
Idem, p. 149.
[116]
Inventário de Maria Jorge (1613). In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol. 3, pp. 232-233.
[117]
Idem, p.239.
[118]
Inventário de Antonio da Silveira (1613). . In: I.T. São Paulo: DAESP, v. 32, 1942, pp. 105-112.
[119]
Inventário de Christovão de Aguiar Girão (1616). In: I. T. São Paulo: DAESP, vol. 4, pp.215, 220, 221 e 222.
[120]
Idem, p. 207.
[121]
Idem, p. 273.
[122]
Inventário de Francisco Gomes Botelho (1616). I.T. São Paulo: DAESP, v. 4, 1920, pp. 358-359.
[123]
Inventário de Martim do Prado (1616). I.T.
São Paulo: DAESP, v. 4, 1920, p. 414.
[124]
Inventário de Antonia de Soveral (1616). I.T.
São Paulo: DAESP, v. 4, 1920, p. 432.
[125]
Testamento de Maria Paes (1616). I.T.
São Paulo: DAESP, v. 4, 1920, p. 450.
[126] Inventário
de Maria Paes (1616). I.T. São Paulo:
DAESP, v. 4, 1920, p. 453 e 456.
[127]
Inventário de João do Prado (1616). In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol. 5, p. 89.
[128]
Inventário de Francisco de Almeida (1617). In: I. T. São Paulo: DAESP, vol. 5, p. 150.
[129]
Inventário de Amaro Domingues (1636). In: I.T.
São Paulo: DAESP, v. 10, 1921, p. 116.
[130]
Idem, p. 118.
[131]
Inventário de Pedro de Araújo (1617). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v. 5, 1920, pp. 188-195.
[132]
Inventário de Paschoal Neto (1637). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v. 10, 1921, pp. 149-151.
[133]
Alcântara Machado. Op. Cit., p. 32.
[134]
Testamento de Antonio da Fonseca (1619). In: I.T. São Paulo: DAESP, v. 26, 1921, p. 9.
[135]
Inventário de Antonio de Fonseca (1619). In: I.T. São Paulo: DAESP, v. 26, 1921, pp. 11, 19-21, 27 e 33.
[136]
Inventário de Balthazar Nunes (1623). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v. 6, 1920, pp. 41-42.
[137]
Inventário de Manuel Vandala (1628). In: I.T.
São Paulo: DAESP, v.7, 1920, pp. 56-57.
[138]
Idem, p. 71.
[139]
Inventário de Luiz Ianes (1628). In: I. T. São Paulo: DAESP, vol. 7, pp.
434-437.
[140]
Inventário de Diogo Dias de Moura (1627). In: I. T. São Paulo: DAESP, v. 7, 1920, p. 265.
[141]
Inventário de Jorge Dias (1630). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v.32, 1942, p. 128.
[142]
Inventário de Pedro Domingues (1633). In: I.
T. São Paulo: DAESP, vol. 9, pp. 187-223.
[143]
Inventário de Francisco Rodrigues de Beja (1634). In: I. T. São Paulo: DAESP, vol. 9, pp. 238-239.
[144]
Inventário de Ignez Pedroso (1632). In: I.T.
São Paulo: DAESP, v. 8, 1920, p. 380.
[145]
Inventário de Antonio de Almeida (1636). In: I.T. São Paulo: DAESP, v. 10, 1921, pp. 305-306
[146]
Inventário de Estevão Gonçalves (1638). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v. 10, 1921, p. 203.
[147]
Idem, p. 205-207.
[148]
Inventário de Gaspar Fernandes (1638). In: I.
T. São Paulo: DAESP, v. 10, 1921, p. 217-218.
[149]
Idem, pp. 219-221.
[150]
Inventário de Antonio da Silveira (1638). In: I. T. São Paulo: DAESP, v. 10, 1921, pp. 254-256.
[151]
Inventário de Braz Gonçalves, o Velho (1637). In: I.T. São Paulo: DAESP, v. 26. 1921, pp.48-53.
[152]
Inventário de Antônio Proença de Varela (1641). In: I.T. São Paulo: DAESP, v. 41, 1966, p. 27.