sábado, 30 de junho de 2012

GILDA DE MELLO E SOUZA E A EMANCIPAÇÃO FEMININA. IGOR RENATO M. DE LIMA


As pesquisas acadêmicas sobre os papéis femininos engatinhavam no início da segunda metade do século XX. Na maioria das vezes, distantes da carreira do magistério superior, as mulheres enfrentaram desafios e lutaram por espaços no meio acadêmico. Para as historiadoras e sociólogas as condições de trabalho não foram diferentes.
Defendendo sua tese de doutorado em 1950, Gilda de Mello e Souza publicou na Revista do Museu Paulista. No entanto, mais de trinta anos depois, quando esse tema ganha espaço no universo no mercado editorial, era publicada em forma de ensaio. Prima de Mário de Andrade, esposa do professor Antônio Cândido de Mello e Souza, a autora ganhou maior visibilidade nessa obra apenas recentemente. Seu texto, com determinados pontos de referências a seu presente, apresenta os antagonismos de “sexo” modificados naquele período. Ao tratar dos antagonismos com relação ao sexo, Gilda pensava que

“Em nossas sociedades atuais, a oposição se manifesta mais atenuada, com a crescente penetração do grupo feminino na esfera de ação do grupo masculino, processo bastante acelerado por duas guerras sucessivas, que atiraram as mulheres, de improviso, às tarefas dos homens. É fácil de imaginar-se como essas duas experiências, auxiliadas pelo movimento geral de emancipação feminina, que já vinha se processando a mais de um século, solaparam a sólida barreira posta entre os dois sexos, influindo definitivamente no conjunto da vida social. À visão dupla substitui-se uma visão mais uma da sociedade, em que homens e mulheres não são considerados como termos opostos e antagônicos, mas sim como duas faces da mesma humanidade. É claro que essa mudança na concepção do feminino e do masculino não só afetou toda a estrutura social como a divisão do trabalho, como se refletiu nos costumes, na moral, na vestimenta. Contudo, nem por isso é menor o peso da tradição de vida segregada, que deixou a marca na atribuição das tarefas e na mentalidade (....)”[1]
Retomando, basicamente, as ideias de “cultura feminina” e a “coquetterie” de Georg Simmel, a autora tecia comentários sobre a condição, o estilo de vida, as modas e a corporalidade da “mulher”, a qual “... desenvolveu ao infinito as artes relacionadas com a sua pessoa criando um estilo de existência...”[2] Além disso, a autora descreve a dificuldade da afirmação do trabalho intelectual feminino, pois as suas pesquisas eram compreendidas como amadoras.[3]
Era nesse momento que as mulheres começavam a atingir maiores espaços no campo da escrita. As concepções do feminino e do masculino marcavam mudanças no cotidiano da população urbana e intelectualizada na segunda metade do século XX.


[1] Gilda de Mello e Souza. O espírito das roupas. A moda no século dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. (1ª ed. 1987), pp. 56-58.
[2] Idem, p. 106.
[3] Idem, p. 107.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

DESAFIANDO AS DICOTOMIAS DA HISTÓRIA DAS MULHERES NA PERSPECTIVA DE GISELA BOCK. IGOR DE LIMA.

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Gisela Bock, em Challenging Dichotomies: Perspectives on Women’s History. In: OFFEN, Karen. Et alli… Writing Women’s History. International Perspectives. U.S.A: Indiana University Press: Bloomington and Indianapolis, 1991, pp. 1-21, observa o crescimento, o investimento em pesquisa e especialmente o potencial futuro da História das Mulheres. As pesquisas nessa área geram a centralidade de processos históricos em torno das mulheres e a sua indução e ou/reavaliação nos acontecimentos sociais e políticos. Nesse sentido, conforme a autora no início década de 1990, os estudos sobre História das Mulheres possuíam um longo caminho de pesquisas, debates e reflexões teóricas, modificando o entender da própria disciplina.
E, Como resultado dessa mudança cultural houve uma melhoria da situação das mulheres e especialmente maior liberdade e justiça. Isso significa, portanto, uma nova leitura dos estudos sobre subjetividade e vitimação.
Muito do que se realizou nas pesquisas sobre as mulheres foram apropriadas o contexto de três estruturas teóricas e conceituais que foram usados por “scholars” feministas, particularmente historiadoras nas últimas duas décadas (ou seja, 1970 e 1980). Assim, a autora apresenta as três correntes existente nos pensamentos sobre as relações de gênero que mudaram consideravelmente.
Sendo assim, a segunda parte do capítulo ilustra as mesmas dicotomias no atual formato da História das Mulheres e como elas têm sido discutidas em maior ou menor grau internacionalmente e ao longo do tempo. Nesta perspectiva, a idéia é também verificar como vem se dando o diálogo conceitual desses estudos.
Como se pode perceber o conjunto da produção aponta que as pesquisas foram desenvolvidas em meio a um arcabouço conceitual e teórico utilizado por feministas no meio acadêmico e que podem ser vistas basicamente a partir de três dicotomias: publicoX privado; cultura X natureza; igualdade X diversidade.
A questão da construção cultural interferindo no papel social das mulheres surgia nos E.UA., nos inícios dos anos 70, procurando explicar o porque das diferenças entre paternidade (função social) e maternidade (natural). Esse tipo de dicotomia era reconhecida como uma maneira da sociedade Ocidental expressar a hierarquia entre os sexos, o que resultou nos primeiros estudos sobre maternidade e assistência a família.
Um segundo aspecto teórico importante buscava, portanto, romper a identificação com a idéia da “natureza feminina”, apoiando-se na divisão social do trabalho, que passa a ser entendida como hierarquia, fundado em valores e recompensas desiguais. Os estudos nessa fase voltam-se para o trabalho feminino mostrando que as mulheres sempre ganharam entre 50% e 80 % menos que os homens durante os séculos XIX e XX nas sociedades ocidentais com variações regionais e ao longo do tempo.
Assim, a aparente dicotomia entre “trabalho e família”, entre homens trabalhadores e mulheres “não trabalhadoras” aparece nas diferenças entre o que deveria ser ou não reservado, entre o que seria melhor pago, definindo também a superioridade e a inferioridade do trabalho entre os dois sexos.
Esses aspectos, por sua vez, estão profundamente relacionados à noção de espaço público e privado. E esse ponto foi particularmente um desafio para as pesquisadoras que apontaram a sua inadequação para a História Política e Social. O fato concreto da dicotomia entre público e privado é que representa não apenas duas esferas autóctones, mas sim uma relação complexa de subordinação, de poder e de poderes. E sobre isso a História das Mulheres também descobriu que o privado podia ser visto em alguns momentos e circunstâncias como público, o que pode ser constatado pelas reivindicações feitas pelas mulheres nos primeiros movimentos feministas. Assim, clamavam por acesso à educação e cidadania como uma forma de serem melhores mães e esposas.
A questão da construção cultural interferindo no papel social das mulheres surgia nos E.UA., nos inícios dos anos 70, procurando explicar o porque das diferenças entre paternidade (função social) e maternidade (natural). Esse tipo de dicotomia era reconhecida como uma maneira da sociedade Ocidental expressar a hierarquia entre os sexos, o que resultou nos primeiros estudos sobre maternidade e assistência a família.
Um segundo aspecto teórico importante buscava, portanto, romper a identificação com a idéia da “natureza feminina”, apoiando-se na divisão social do trabalho, que passa a ser entendida como hierarquia, fundado em valores e recompensas desiguais. Os estudos nessa fase voltam-se para o trabalho feminino mostrando que as mulheres sempre ganharam entre 50% e 80 % menos que os homens durante os séculos XIX e XX nas sociedades ocidentais com variações regionais e ao longo do tempo.
Assim, a aparente dicotomia entre “trabalho e família”, entre homens trabalhadores e mulheres “não trabalhadoras” aparece nas diferenças entre o que deveria ser ou não reservado, entre o que seria melhor pago, definindo também a superioridade e a inferioridade do trabalho entre os dois sexos.
Esses aspectos, por sua vez, estão profundamente relacionados à noção de espaço público e privado. E esse ponto foi particularmente um desafio para as pesquisadoras que apontaram a sua inadequação para a História Política e Social. O fato concreto da dicotomia entre público e privado é que representa não apenas duas esferas autóctones, mas sim uma relação complexa de subordinação, de poder e de poderes. E sobre isso a História das Mulheres também descobriu que o privado podia ser visto em alguns momentos e circunstâncias como público, o que pode ser constatado pelas reivindicações feitas pelas mulheres nos primeiros movimentos feministas. Assim, clamavam por acesso à educação e cidadania como uma forma de serem melhores mães e esposas.



Como se pode perceber, as três dicotomias (publico X privado; natureza X cultura; igualdade diferença)  possuem importantes características em comum: 1 – Elas são evidentemente relacionadas ao gênero, estando disseminadas em várias partes da sociedade Ocidental nas tradições e percepção de gênero.
2 – A desconstrução das mesmas mostra que são constituídas na expressão natural das diferenças entre os sexos, reafirmando ainda que essa concepção binária servia apenas para hierarquizar, significando valores de inferioridade e superioridade e também de poder.
Em síntese, dada a complexidade de todas essas questões abordadas pela História das Mulheres desde o início dos anos 60, é difícil separar as dicotomias e formalizar conjuntos diferenciados por categorias específicas de análise.
Nota-se, assim, que as três dicotomias possuem elementos importantes em comum e são vinculadas à percepção de gênero nas sociedades Ocidentais. Sabemos, portanto, que expressão natural e necessária da diferença sexual.
E, é aí que reside a verdadeira vocação e contribuição da História das Mulheres e dos estudos de gênero, descobrindo “o alcance dos papéis sexuais e do simbolismo sexual nas diferentes sociedades e períodos, é encontrar qual era o seu sentido e como eles funcionavam para manter a ordem social e para mudá-la”. (Natalie Z. Daves apud. Joan Scott. Gênero: uma categoria útil de análise histórica)
Em suma, novas dicotomias aparecem com o desenvolvimento da Historiografia das Mulheres. À partir da década de 70, formam-se dicotomias como gênero e sexo, biológico e social. Nessa perspectiva, Joan Scott é uma das mais importantes autoras sobre este assunto. A categoria de gênero foi introduzida aos estudos femininos como um termo importante para diferenciar os aspectos sociais, políticos e culturais daqueles naturais ou biológicos. Além disso, demonstra que as características de subordinação, inferioridade e ausência de poder não foram ditadas pela natureza, mas são construções sociais, culturais e políticas.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

OBSERVAÇÕES SOBRE O ANACRONISMO. IGOR RENATO MACHADO DE LIMA


Em História o problema do anacronismo é muito importante. De acordo com Lucien Febre, em O problema de descrença no século XVI, “o problema está em deter-se a tempo enquanto as precauções tomadas e as disposições observadas, com o fim de evitar o maior pecado dos pecados, o pecado mais imperdoável de todos: o anacronismo”[1] 
           Discutindo a mesma temática, e embasado no método braudeliano, Aguirre afirma que “... o enquanto é extremamente simples explicar o que é anacronismo em história e reinvidicar sua superação – ou seja, criticar o habitual procedimento de conceber os homens de outros tempos a partir, de valores, figuras e representações de nossa época, como esses personagens do passado vivessem, amassem, pensassem e reagissem da mesma forma que os homens de hoje – e é difícil conseguir transcender realmente esse anacronismo no momento de realizar a análise histórica concreta, da mesma forma resulta muito simples apresentar e esquematizar a teoria das temporalidades diferenciais, assinalando uma longa, uma média e uma curta duração – o que já foi feito milhares de vezes em todo o mundo - , embora seja extremamente complicado conseguir descobrir e apreender em sua real operatividade histórica essas mesmas estruturas de longa duração histórica”.[2]
            Ainda continuando as reflexões sobre “a questão do anacronismo”, Fernando Novais afirma que “...em história, não pode haver nunca a obra definitiva; tudo a que podemos aspirar são aproximações mais ou menos felizes.”[3] Nesse sentido, outra questão é  proposta: Como ficam essas questões nos estudos de gênero, na História das Mulheres, do Têxtil e da Moda?
Para problematizar essa questão é necessário lembrar que como todo historiador está preso também ao presente, é preciso realizar aproximações para reconstituir, compreender e explicar os feitos das mulheres e dos homens no passado. A partir dessas aproximações é preciso estabelecer conexões e compreender as temáticas levantadas acima com os contextos mais gerais do período tratado. Dessa forma, às historiadoras e historiadores de ofício fica o desafio de reconstruir o passado, apropriando-se de temas e problemas levantados no presente.



[1] Lucien Febvre. El problema de la incredulidad en el siglo XVI. La religion de Rabelais. Madri: Akal, 1993. [Le probleme de l’incroyance au 16e siècle, 1942]
[2] Carlos Antonio Aguirre Rojas. Tempo, duração e civilização. Percursos braudelianos. São Paulo: Contexto, 2002.
[3]Fernando A. Novais. Aproximações. São Paulo: CosaicNaif, 2007.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

HISTÓRIA DA MODA EM PORTUGAL. SÉCULOS XIV-XVII. IGOR RENATO MACHADO DE LIMA


Nas xilogravuras do primo do pintor Ticciano, o veneziano Cesare Veccelio descrevia em desenhos e textos as diversidades de trajes. Esse autor publicava pela primeira vez sua obra, De gli Habit antichi et moderni Diversi Parti del Mondo, nos anos de 1589 e 1590. Uma segunda edição ampliada era realizada em 1598, na qual inseriu os vários espaços do globo como África, Ásia e América.[1]
Esse xilogravurista mantinha contato com os mercadores, os quais participavam de todas as redes mercantis da economia-mundo veneziana, conseguindo relatos das mais variadas regiões do globo. Essas narrativas possivelmente o auxiliavam a produzir as imagens das indumentárias das mulheres do mundo conhecido da época.
É interessante observar ainda a presença dos grandes comerciantes extrangeiros nas cidades italianas. Como exemplo, Veccelio cita o mercador português, o Capitão Ribora Alguazil que realizava o trato China-Lisboa.[2]
As representações do xilogravurista representavam vários esboços da cidade de Veneza. Segundo Tawny Sherril, Cesare possuía também apoio da elite veneziana para propagação de sua glória nas cortes européias, nas quais as suas obras eram lidas.[3] O veneziano mantinha contato com o comerciante português, bem como com as mercadorias importadas e exportadas do centro da economia-mundo veneziana. Na década de 1590, Cesare Vecellio baseava-se nas xilogravuras de Theodor de Bry, o qual contactava os exploradores do Novo Mundo. As representações imagéticas do historiador dos modos de vestir passavam a incluir a população gentílica recém encontrada pelos cronistas. Pode-se sugerir, portanto, que as vestimentas indígenas eram símbolos das novas conquistas e do ideal colonizatório.[4]
Também existiam outros livros de xilogravuras de formas indumentárias, como Receuil de la diversité des habits, qui sont de present en usage, tant espays d’Europe, Asie, Affrique & Isle sauvage (1564) de François Deserpz; Omniun fere gentium nostrae aetatis habitu (1563) de Ferdinando Bertelli; Habitus praecipiorum populorum tam virorum quam foeminarum singulari arte depicti (1577) de Hans Weigel; e I costumi et i modi particulari de la vira de Turchi (1545) de Luigi Bassano. Essas obras, de acordo com Ilg, realizavam uma crítica aos modos de vestir a partir do gênero, da posição social, do “gosto”, da “moda” e  do “espaço”.[5]
Esses livros de costume foram importantes na medida em que representavam “uma realidade social ideal”.[6] Leva-se, portanto, em consideração a transformação das imagens femininas, contrapondo as suas xilogravuras com outras imagens de mulheres e homens portugueses. Por exemplo, a pintura de Isabel de Portugal, o retrato de D. Sebastião quando menino (destacar o gorro emplumado) e a representação de D. Joana da Áustria, rainha de Portugal e do seu império ultramarino.
 As cortes ibéricas se constituíam com regras de etiqueta e com o “teatro das aparências”. De início, sob a dinastia dos Avis, Habsburgos e, finalmente, dos Braganças, a corte portuguesa também fazia parte deste processo, pois participava ativamente da política de casamentos e estabelecia tramas de intercâmbios culturais e comerciais com os Estados Modernos europeus mais ricos e poderosos.
Dessa maneira, conforme observou Ana Paula Megiani no tempo da Reconquista Ibérica e da “Descoberta da América”, Isabel de Castela e Fernando de Aragão constituíram sua corte na cidade de Toledo. Posteriormente, Carlos V e sua corte circulante estabeleceram suas modas de vestir-se de preto, usar barba e bigode. Felipe II, continuando com a forma de vestir de luto, instalou-se em Madrid, mas também circulou pelos domínios, chegando a se estabelecer em Lisboa nos anos de 1581 e 1583, pois essa cidade continuava a ser um importante centro mercantil e cortesão.[7]
Nas cortes de Tomar, o rei largava o modo de vestir costumeiro e usava uma indumentária “branca de brocado, sem coroa, tendo o cetro como símbolo da monarquia portuguesa e seguindo a etiqueta tradicional da Casa de Avis”.[8] Portugal, apesar de influenciado pela cultura castelhana, mantinha modos de vestir específicos, sendo que no tempo de Felipe III, em 1619, o padre Mimoso afirmava que “as padeiras e vendedoras de Lisboa” participavam das festas em honra ao rei, “vestidas de gala à sua moda”.[9]
Megiane também nota, ao estudar as jornadas régias, que, para Matias de Navoa, o fausto da corte lusitana nas entradas de Felipe IIII fora superior aos das espanholas, graças à presença das conquistas lusitanas.[10]
Na apresentação da História do Trajo em Portugal, os autores afirmam que “O trajo português salvo algumas características, tradicionais, populares, em regiões menos permeáveis á invasão da Moda, onde evoluiu a distância das influências estranhas e portanto, uma lentidão mais consentânea com a sua natural transformação, na composição e no talho e na cor, foi sempre fortemente inspirado no gosto estrangeiro...”.[11] A troca de vestidos era cantada nas antigas trovas portuguesas. No Quinhentos, Simão Machado descrevia essa prática:
“Vê-los hei, disse á Franceza
Depois disso á castelhana;
Hoje andam á Bolonhesa;
Amanhã á Sevilhiana
E nunca á Portuguesa”[12]

As camadas populares conservavam os trajes mais típicos da sociedade lusitana. Mas as fontes pouco informam sobre as maneiras de vestir, ou mesmo a economia e cultura indumentária portuguesa nos séculos XIV, XVI e XVII. A terminologia técnica das peças do vestuário é difusa na documentação, bem como não há precisões nas características das transformações no universo do vestuário. É preciso, portanto, estabelecer algumas características da produção, circulação e consumo, bem como das modas dos trajos portugueses na Alta Idade Moderna.
No medievo, os trajes lusitanos constituíam-se de túnicas, mantos, utilizados desde o século X, quando haviam poucas distinções entre os gêneros na forma de vestirem-se. Na guerra, os cavaleiros usavam “cota de malha até os quadris, com capello, elmo e nazal, - chapa estreita de ferro com que o elmo se prolongava (no século XI) para proteger o nariz (...). Os escudos eram alongados e convexos, negros ou coloridos, e as espadas de guardões retos, punho abotoado, compridos e de dois gumes, continuando a usar-se a acha de armas, o arco, o machado, as lanças, etc...”[13]
Os cintos de prata e de ouro, bem como o costume de cobrir a cabeça das damas com mantos, o oral, ou a mentonière de seda ou de pano de linho fino faziam parte da moda cavalheiresca portuguesa do século XII. No século seguinte, as peles das túnicas passavam a ser exageradas e também aumentou substancialmente o luxo da nobreza e do clero, com os chapéus de veludo, o “barrete redondo de tecido debruado de peles”, o calçado de cordovão, pontiagudo, assim como o uso das polainas, ou calcetas, disseminaram-se. Os cintos femininos ganharam bordados de ouro e prata. Os toucados eram enfeitados com bordados e pedrarias em formas de flores. O toupete, cabelo levantado à frente de maneira exagerada, o qual foi proibido na pragmática de Afonso IV no século XIV. Os modos masculinos de cabelos compridos e barbas também foram práticas comuns nesse período.
No século XII, o consumo cortesão de trajos de luxo foi crescente com o uso das capas enfeitadas com pedrarias, bem como o aumento das suas caudas. Essa moda feminina era trazida pela rainha D. Brites de Gusmão, esposa de Afonso III, pois vivera na França, na corte de Luiz IX.
A presença de comerciantes e cruzados alemães, franceses, ingleses, flamengos acabava por transformar os modos dos trajes portugueses. Mas as transformações nas vestimentas populares pouco foram modificadas e mesmo as modas cavalheirescas não sofreram metamorfoses radicais até o fim do século XIV. Os modos de vestir sofreram lentas mudanças do século XII até próximos das vésperas do XV. De uma maneira geral, a moda cavalheiresca portuguesa manteve-se na longa duração por todo o fim da Idade Média.
No século XIV, os modos de trajar sofriam uma transformação radical em toda a Europa Ocidental. Nessa “maior revolução no vestuário antigo” no interior das camadas elevadas acabou em um conflito entre conservadores e inovadores. “Os pelotes, descendentes do antigo ‘perpunto’ apareceram, aterrando-se as mangas, fendidas e debruadas de recortes, por onde passam os braços, revestidos de roupa interior, e prolongando-se exageradamente quase até o tornozelo. As lobas dos letrados e burqueses, encurtam-se, fendem-se lateralmente para a passagem dos braços ou deixam-nos aparecer a abertura das mangas”. [14]
A separação dos mantos em duas partes, gibões e os calções de malha coloridas e variadas também são estabelecidas nesse momento, assim como os chapéus tornavam-se mais variados e para os homens, a barba desaparece e o cabelo é curto.
Para o gênero feminino, as metamorfoses dos trajes acompanhavam a moda ocidental, com o modelamento da silhueta, surgindo os “corpetes ajustados sobre o espartilho de feltro bordado, e o talho dos plastrões no peito, feitos de peles ou de tecidos bordados..”.[15] Desaparecia o cinto ricamente bordado, aparecendo várias vestes de seda, provavelmente importadas do Oriente. E o toucado passava a ter tecidos em menores quantidades e dentre as várias jóias, sobressaltavam-se os anéis mágicos, as ajorcas, pulseira, as esclavagens, colares de miçangas e os aljôfares e os arrancanes e brincos.
Em menor escala, os trajes populares modificavam-se, pois as mulheres passavam a utilizar corpetes, os chapéus de feltros, assim como os cabeções eram recortados e as calças de malhas começavam a ser consumidas pelas várias camadas sociais. Os hábitos eclesiásticos, principalmente das freiras, mantinham-se mais tradicionais aos costumes do início da Idade Média. As leis suntuárias foram pregadas a partir desse período por Afonso IV, distinguindo o vestuário dos mouros e dos judeus, sendo que esses deveriam inserir nas vestes uma estrela de seis pontas.
No século XV, as diferenças da maneira de vestir de homens e mulheres acentuam-se em Portugal, com a presença dos estilos indumentários ingleses e posteriormente franceses. Nas vestimentas masculinas, o toucado do fidalgo ganhava um chapéu triangular, á moda de Castela.  No final da centúria, a barba voltava a ser usada. Os penteados femininos da camada aristocrática ficavam cada vez mais elaborados, com o véu branco à moda francesa, ou o toucado flamengo, caracterizado por “véus dobrados ou ainda a forma de trançar os cabelos com fitas e tiras bordadas e decoradas com jóias. As camadas populares adotavam apenas os chapéus de feltro, ou simples gorros e carapuças. [16]
Como sapatos, aparecem os borzequins, calçado de canhão, de cores fortes. Com o crescimento do comércio da seda, os fidalgos passavam a utilizar pantufos desse tecido. Diferentemente, a camada popular calçava borzequins de peles grosseiras.[17]
As vestimentas dos homens encurtavam com o felote, ou gibão, de fraldilha curta, rodado, com ricos tecidos e manga tufadas ao alto e compridas. Os exemplos da moda cortesã estavam em todo o aparato das vestimentas reais. “D. João, nas festas de Évora, pelo casamento do príncipe D. Afonso, apareceu, em certa cerimônia, vestido à francesa, de gola roçagante de tela doirada, constelada de pedrarias, pelote forrado de martas esmagado no peito por uma cadeia de oiro, espada de oiro lavrada e chapéu branco emplumado”[18]
Os trajes femininos eram caracterizados pelos corpetes mais justos ao corpo, decotes aparecendo o colo, e as caudas nas sobrevestes faziam parte da moda “no tempo de D. Afonso III e D. Diniz. Todavia, as camadas populares vestiam-se de maneira mais simples, sendo difundido o gibão, vestimenta usual entre a gente do mar, a qual também vestia-se com botas de couro e carapuças.[19]
No século XIV, os judeus eram proibidos de consumir seda e continuavam a vestir com a marca da estrela de seis pontas. As mulheres mundanas não podiam vestir seda, bem como tecidos caros, a única exceção era o tecido de Londres por ser mais fino. A seda passava a ser limitada segundo as leis suntuárias, mais constantes no reino durante o Quatrocentos. A realeza tentava impedir o luxo desmedido, o qual a partir da morte de D. Afonso passava a fazer parte da moda cortesã em Portugal.[20]
No início do Quinhentos, o estilo de gibão masculino sofria transformações significativas, sendo usado “desgolafo, vendo-se a camisa arrendada ou folhada, e era todo entretalhado de cetins, veludos e tafetás, com mangas tufadas e golpeadas deixando ver, artifisiosamente, os forros de tecidos caros. Não descia mais abaixo do que dos quadris. Sobre ele vestia-se o pelote, sem mangas ou de mangas abertas, para dar passagem ás do gibão, em geral de bracodo de pelo forrado de cetins, de veludo ou barrado de peles, pelote que descia, em média, até os joelhos. O tabardo, mais comprido, de tecido pesado, frisa-se geralmente em pregas, e vestia-se sobre um pelote curto de mangas fechadas”.[21]
Mas os trajos femininos na primeira metade do século XVI, em Portugal, não sofriam mudanças em relação às formas. Na segunda parte do Quinhentos, as mulheres usavam ainda mais jóias e adornos nos penteados e os mercadores traziam leques de penas, luvas de Valença e chapins de seda. Ainda no reinado de Felipe II, era moda o trajo escuro, os tingimentos de cabelo feminino de loiro. Mas é na indumentária masculina, no gibão, que a moda cortesã fazia-se presente. “O gibão desce sobre as calças”, (...) “transformando-se num corpete alongado, em bico, sobre o ventre muito cintado” e, desse modo, os gibões masculinizam-se.
A partir da segunda metade do século faziam-se presentes as leis suntuárias, como a proibição das capas largas no luto. Na prática, enfeitavam-se os gibões com ouro, os damascos de Luca, os veludos de Gênova e os brocados de Florença. Os comerciantes também passaram a consumir o luxo, que antes era privilégio de poucos.[22]
Durante o final do Quinhentos a moda cortesã era proveniente de Castela e da requintada e lúgubre corte espanhola. Contudo, é notável, a perspectiva de Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, sobre os modos de vida e o “ethos aristocrático” ibérico, quando afirmava que “jamais se tenha naturalizado entre gente hispânica a moderna religião do trabalho e o apreço à atividade utilitária. Uma digna ociosidade sempre pareceu mais excelente, e até mais nobilitante, a um bom português, ou a um espanhol, do que a luta insana pelo pão de cada dia. O que ambos admiram como ideal é uma vida de grande senhor, exclusiva de qualquer esforço, de qualquer preocupação. E assim, enquanto povos protestantes preconizam o esforço manual, as nações ibéricas colocam-se ainda largamente no ponto de vista da Antigüidade clássica. O que entre elas predomina é a concepção antiga de que o ócio importa mais que o negócio e que a atividade produtora é, em si, menos valiosa que a contemplação e o amor”.[23]
Em 1578, na preparação de D. Sebastião para a Batalha de Alcácer-Quibir, em Marrocos, a ostentação militar era presente entre os fidalgos, pois cada um estava “mais galante e custos”, que “iam ricamente vestidos: porque, se a matéria dos vestidos era rica, a obra, feitios e invenções da mais rica sobejava; porque tudo era brocado, tela d’ouro e prata, tecidos de seda mui custosos. Os veludos, damascos e todas as mais sedas perderam sua valia; e se algumas tinham, era pelos muitos passames, tendilhas, espiguilhas, torchados e alarmes d’ouro que lhe punham. Mais tudo era de pouco gasto em comparação dos feitios, que destruíam os homens”[24]
A sociedade portuguesa quinhentista constituía-se em uma hierarquização com a ascensão de mercadores e administradores coloniais. Os “padrões de comportamentos”, como a arte de vestir, eram predominantemente ditados pela nobreza lusitana. Uma das características do reconhecimento desses ascendentes era a “adoção de hábitos e atributos” nobiliárquicos.[25]
A colonização passava a ser uma forma de mudança de status para alguns estratos sociais do Velho Mundo. De acordo com Vera Lucia Amaral Ferlini, em Açúcar e Colonização, “Enfrentar os mares e viver em colônias era uma das opções de enriquecimento e de afidalgamento. Se faltavam as guerras heróicas da Índia, no Brasil, além da defesa do litoral, havia os sertões a conquistar. E se a costa oferecia o espetáculo concreto e realista dos negócios, o sertão desafiava a imaginação e atiçava os sonhos”.[26]
Enfim, a partir da segunda metade do Quinhentos, o domínio espanhol atingia o seu apogeu na economia e cultura indumentária no Velho e Novo Mundo, por meio das conquistas, da expansão mercantil têxtil e dos costumes ibéricos. Esses últimos eram marcantes nos estratos sociais superiores. Ou seja, a arte de vestir europeizante engendrava-se no mundo colonial variando conforme as hierarquias sociais e os gêneros.


[1] Publisher’s note. Vecellio’s Renaissance costume book. All 500 woodcut illustrations form the famous Sixteenth-Century compendium of wood costume by Cesare Veccellio. Mineola, U.SA: Dover Publication, 1977, p. 2.
[2] Cesare Vecellio. Habitus Antichi et Moderni. The clothing of Renaissance world. London, U.K.: Tames & Hudson, 2008, p. 528
[3] Tawny Sherril. Who was Cesario Vecellio? Placing Habiti Antichi in context. In: Robin Netherton & Gale R. Ower-Croker. Medieval Clothing and textiles. Woodbridge, U.K.: The Boydell Press, v.5, 2009, pp. 161-188.
[4] Margaret F. Rosenthal and Rosalind Jones. Introdução. In: Cesare Vecellio. Habitus Antichi et Moderni. The clothing of Renaissance world. London, U.K.: Tames & Hudson, 2008, p. 24. , pp. 8-48.
[5] Ulrike Ilg. The cultural significance of costume books in the Sixteenth-Century Europe. Hampshire, U.K.: ASGHATE, 2004, pp. 29-47.
[6] Idem, p. 43.
[7] Ana Paula Megiane. O rei ausente. Festas e cultura política nas visitas dos Felipes a Portugal (1581-1619). São Paulo: Alameda, 2004, p.61-62.
[8] Idem, p.135.
[9] Idem, p.162. Apud. (1620, f, 130v)
[10] Idem, pp. 277-278.
[11] Agradeço a indicação dada pelo professor Rodrigo Ricupero, a obra: História do Trajo em Portugal. Porto: Livraria Chadron, s/d, p. 5.
[12] Idem, p. 6.
[13] Idem, p. 13.
[14] Idem, pp. 17-18.
[15] Idem, p. 19.
[16] Idem, p. 25.
[17] Idem.
[18] Idem, p. 26.
[19] Idem, p. 27.
[20] Idem, p. 30.
[21] Idem, p. 31.
[22] Idem, p.38.
[23] Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, (1ª ed. 1936), 2001, p. 38.
[24] Idem, p. 180
[25] Vera Lucia Amaral Ferlini. Açúcar e colonização. São Paulo: Alameda, 2010, p. 17.
[26] Idem, pp. 61-62.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O IMPÉRIO E O EFÊNERO: O IMPÉRIO ULTRAMARINO PORTUGUÊS E A MODA. SÉCULO XVI. IGOR RENATO MACHADO DE LIMA

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Os mercadores florentinos, genoveses e venezianos intensificavam a comercialização da seda desde o século XII. No entanto, qual seria a razão de se encontrar tão poucas referências desse negócio nas cartas sobre as frotas mercantis lusitanas no Quinhentos como um todo? Possivelmente, as rotas da seda fixavam-se no Oriente, onde os lusitanos deixavam os têxteis e acumulavam jóias e especiarias para comercializar nos mercados do Velho Mundo.
Em 1501, Bartolomeu Marchioni, comerciante florentino, residente em Portugal, em carta a um destinatário desconhecido, maravilhava-se com a possibilidade de encontrar na Ilha da Taprobana, uma “grandíssima cidade, na qual há lojas de seda com 100 teares e onde se trabalha constantemente”.[1] Dessa maneira, a seda era um tecido desejado pelos comerciantes, pois com essa mercadoria conseguiriam adquirir lucros, dado o caráter raro e precioso do tecido comercializado principalmente nas Índias Orientais.
Ainda nos relatos, estavam presentes os modos de vestir das outras sociedades em contato com os portugueses. Em carta de D. Manuel aos reis católicos, o rei português afirmava que na cidade de Cochim, os mercadores mantinham 50 naus e que viviam como cristãos e sem nunca fazer as barbas ou os cabelos.[2]
No início do século XVI, o comércio português do Oriente crescia na acumulação de capital mercantil, havendo perspectivas de investimento no Novo Mundo. Na crônica de 1501 de Daniele Bárbaro, do centro da economia-mundo da República Veneziana afirmava que “Apesar de tudo [perda do monopólio do comércio oriental para os portugueses], os senadores se consolavam pelos ganhos e processos que faziam das outras coisas. Julgavam que era coisa muito rara em nossos tempos ter encontrado novas regiões e novos povos e quase um outro mundo que havia nascido para nós”[3]
Na primeira metade do Quinhentos, a expansão portuguesa no Celeste Império da dinastia Ming (1368-1644), era marcada por uma série de conflitos. Invadindo Malaca – uma província chinesa -  em 1511, os aventureiros portugueses, chefiados por Afonso de Albuquerque, descontentaram o domínio chinês. Essa região conquistada era província do Império do Meio.
Nesse primeiro momento de contato, os portugueses estabeleceram algumas relações esporádicas no campo diplomático. Ademais, os lusitanos eram acusados, por algumas autoridades orientais, de atos violentos, tais como o rapto de mulheres, crianças e o tráfico de escravos.[4]
 Após uma série de negociações, os lusos se estabeleceram e fundaram com a autoridade da corte de Pequim a Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, em 1557.[5] Com esse território lusitano, ficava estabelecido o entreposto mercantil com o Japão através da rota entre Nagasaki e Macau. Neste circuito, os comerciantes lusitanos compravam seda e outros produtos do Celeste Império e trocavam pela prata japonesa. Para Boxer, o mercado português no Extremo Oriente era centrado nas cargas de tecidos desse têxtil para o Japão.[6]
No decênio de 1560, o agitado comércio Macau-Japão fixava-se na cidade de Nagasaki, com a presença dos membros da Companhia de Jesus. Dessa forma, estabeleceram-se como intermediários comerciais e o cargo de capitão-mor desse comércio era um dos mais “cobiçados’, chegando a ganhar 600 a 700 pardaus. Apesar das dificuldades encontradas pelos dois impérios (da dinastia Ming e os daimyo japoneses), esse extenso trato lustiano de seda e prata com o extremo Oriente auferia ganhos mercantis aos portugueses. [7] Assim, conforme Fernand Braudel,  “O comércio de longa distância não é tudo, mas é a passagem obrigatória para um plano superior de lucro”.[8]
No Oriente, de acordo com Boxer, o comércio têxtil dos portugueses era também realizado com as manufaturas algodoeiras indianas e com a costa Africana Oriental. Os lusitanos controlaram o sistema mercantil do Oriente, obtendo lucros com o negócio dos tecidos até por volta de 1639, comercializando as sedas chinesas para as Filipinas, México e Peru, em troca da prata do Novo Mundo. Mas a disputa comercial com os holandeses, ingleses e mesmo espanhóis, bem como o fechamento do comércio com o Japão contribuíram para a crise dessa mercancia.[9]
Não eram apenas bens materiais que eram trocados, mas havia um corrente tráfico de corpos femininos nos mares do Oriente. Para Boxer, nos galeões participavam da tripulação mercadores lusitanos, capitães, homens de artilharias holandesas, marujos vendedores, escravos africanos, mui-tsais (cativas domésticas) coreanas, japonesas e chinesas. E, as cargas, como sedas, ouro e prata, eram vendidas entre Macau, Nagasaki e Goa Dourada e os bens mais preciosos eram os cavalos árabes, os tigres de Benguela e os pavões do Oriente.[10]
Dentre os relatos encontrados, sobre a população chinesa feminina, destaca-se a crônica do Frei Gaspar da Cruz, abade da Ordem de São Domingos, nascido em Évora, provavelmente na primeira metade do Quinhentos. Parte para o Oriente em 1548, como missionário, passando por Goa e Malaca (1550-1560). Voltando à Lisboa, faleceu em Setúbal no ano de 1570. Conhecedor do Oriente português, o religioso escrevia O tratado em que se encontram muito por extenso as coisas da China. Nesta obra, à respeito das mulheres chinesas, descrevia seus modos de vida. A imagem da mulher enclausurada, presas ao domínio dos maridos era recorrente. Como costume, deveria ter pés pequenos e apertados com tiras, bem como deveriam ser obedientes ao esposo. O frade descrevia o corpo das chinesas da camada lustrosa. Relatava o frei que as mulheres locais “(...) Trazem os cabelos muito bem pensados, recolhidos e atados no cume da cabeça e de baixo até acima apertados como uma fita larga e muito bem assentada. E a fita ordenada de jóias e peças de ouro em roda. Usam saias compridas ao modo das portuguesas, as quais têm a cintura da mesma maneira que elas”. [11]
Além das referências ao comércio, destaca-se a narrativa descritiva dos modos de vestir, sempre destacando a distinção entre os gêneros. Nesse sentido, as leituras das vestes femininas estavam relacionadas a determinados padrões da visão renascentista, sendo que as mulheres chinesas eram representadas como nobres ou matronas. Os desenhos das indumentárias retratados por Cesare Vecellio eram floridos e possuíam adereços diferenciados do estilo veneziano, ou mesmo português. Eram os detalhes que diferenciavam as vestes entre as chinesas. A matrona chinesa possui as mãos livres e delicadamente segura uma flor e esta com o seu olhar nela. A nobre estava com a mão esquerda escondida na roupa, e sua atenção está voltada para baixo, em sinal de respeito e de complacência.
As portuguesas eram vistas como mulheres reservadas, as quais se distanciavam do espaço público, não podendo ter contato com os homens. Ficavam fechados em seu gineceu para o mundo. Essa visão da mulher reclusa portuguesa condiz com as imagens narrativas descritas pelos escritores na América Lusitana. Desse modo, é possível perceber que essa está com o corpo ainda mais coberto do que as chinesas, o que demonstra o seu recato e o vendamento do seu corpo para os homens.  A lusitana era uma mulher com poucos adornos e ostentação, possuindo um chapéu, um leque e uma capa fechada, que escondia até mesmo seu rosto. Essas indumentárias apresentavam-se com poucos adereços decorativos. As mulheres portuguesas se fazem pouco atraentes e sem diversidade nos modos de se vestir. Portanto, as portuguesas, na perspectiva de Veccelio, tinham uma moda mais simples do que as próprias orientais.
O xilogravurista veneziano assumia a dificuldade de conseguir informações sobre os estilos de vestir das regiões geograficamente longínquas da Ásia, da África e do Novo Mundo e descrevia seu texto como de “entretenimento”.[12] Com relação à China, descreve-a como um dos principais reinos do mundo, sendo que as suas mulheres nobres casadas, lá possuíam “vestimentas em vários estilos”, destacando seus preciosos bordados – geralmente com rosas – , os pés pequenos – significados de beleza feminina. Ficava encantado com as pérolas, os perfumes e cosméticos das mulheres, estes últimos em excesso. Descrevia também a importância da descrição dos costumes relacionados ao casamento, dote e tratamento entre pais e filhos. Assim, os relatos dessas várias partes do mundo eram constuídos por meio das trocas de informações orais.[13]
No outro lado do hemisfério, a saída das mulheres portuguesas para as regiões longínquas do Oriente foram numericamente muito poucas. No entanto, parece que a presença feminina nas naus portuguesas não era de todo inexpressiva. Mesmo impedidas pela legislação de atravessar os mares sem a autorização régia, os mercadores e aventureiros dos mares acabavam sendo acompanhados por mulheres, que no início do Quinhentos partiam em maior numero em direção ao Pacífico do que à Terra de Santa Cruz. Essas imagens de riquezas e fortunas eram atrativos importantes para a emigração feminina.
            De todas as regiões asiáticas, Goa, segundo Boxer, ocupava o primeiro local de escolha de entrada de portuguesas. A presença feminina européia estava relacionada à União Ibérica (1580-1640), pois fazia parte da política da coroa espanhola enviar mulheres para os domínios coloniais, principalmente para acompanhar os maridos nos serviços administrativos. Isso era mais raro acontecer antes do século XVIII na Metrópole portuguesa.[14] Como exemplo de nobres portuguesas que acompanharam os esposos no governo das Índias, o autor aponta D. Maria de Noronha, mulher de D. Fernando de Mascarenhas e D. Maria Meneses, as quais eram da elite goense do Seiscentos.[15]
Entre as mulheres portuguesas que enfrentavam a travessia para as Índias, destacavam-se as órfãs e as degredadas, sendo estas últimas perseguidas pelas tramas da Santa Inquisição.  Sobre este assunto há a obra de Joel Coates Timoth, Exiles and orphans: forced and state-sponsored colonizers in the Portugese Empire, 1550-1720. Neste trabalho, o autor defende a idéia de que a Coroa, por um lado, forçava a colonização por meio da expulsão de prostitutas, ciganos, órfãos, degredados e criminosos da Metrópole, fazendo assim que a população indesejada fosse retirada do reino. Por outro lado, financiava a formação de casas de caridade como as Misericórdias para as mulheres reinóis, bem como a prática do dote, para auxiliá-las no casamento.  Entre 1588 e 1618, eram enviadas 18 órfãs para a casa. Outra instituição importante, era o Recolhimento de Santa Maria Madalena, onde as “mulheres desgraçadas” e de “vida suspeita” eram salvas.[16] Ainda uma terceira instituição de caridade, era o Convento de Santa Mônica, que recolhia majoritariamente as filhas mestiças de Goa e de outras regiões da Ásia lusitana como Macau.
            Apesar das inconstâncias na economia e política macauense, a população da cidade sempre cresceu vertiginosamente. Todavia, parece haver mais, pois, segundo os dados de Joan Coat, existiam 730 mulheres, entre européias e mestiças, sendo que 263 eram viúvas e 306 solteiras. Em inícios do século XIX, 2149 mulheres brancas moravam na região, em um total de 4628 habitantes. Também nesta cidade havia o Convento Santa Clara, acusado de aliciar casamentos aos “soldados“ portuguêses. Em 1687, era proibido entrar mais mulheres.[17]
            A partir destes dados, percebe-se que a presença das senhoras do reino foi mais constante do que as narrativas historiográficas apontam. Porém, é necessário destacar o papel das mui-tsai, moças chinesas indesejadas pelos pais e vendidas aos portugueses e euro-asiáticos, por um período de trabalho ou por toda a vida. Habitualmente, estas agregadas eram adotadas pelas viúvas ou viúvos, vivendo no mesmo domicílio.[18]
            Foi Boxer que apontou para a atuação destas moças. No testamento de 1614, do senhor Chistovão Soares, percebe-se uma série de doações às afilhadas. Dentre estas, destaca-se a de um dinheiro, ainda não conseguido da venda de seda para o Japão, à órfã Violante, que vivia em casa de Jorge Serqueira. Neste mesmo documento, a moça Madalena é encarregada de servir Maria Soares, senhora da elite macaense, por seis anos.[19]
            Outra estratificação social definida por Frei Gaspar, eram as “mulheres de partido”, as quais viviam fora dos muros das cidades, aprendendo a “tanger viola e outros instrumentos a cantar”. Segundo o clérigo, (...) Os senhores, ou lhes levam as honras ou lhas vendem; e quando hão-de ser postas nas ruas das mulheres de partido, são escritas por um oficial de el-rei em um livro e o senhor é obrigado a acudir cada ano com um tanto a este oficial; elas são obrigadas a responder a seu senhor cada mês um tanto. Quando são velhas, a poder de arrebique e alvaiade, as fazem parecer moças. E depois que já não são para aquele ofício, ficam livres de todo e sem nenhuma obrigação, nem ao senhor nem a ninguém e não comem então do que juntaram.[20]
A população feminina macaense era de maioria mestiça, pois a saída das mulheres portuguesas era rara, devido às intempéries das trajetórias marítimas e das condições existentes de Macau. Nos primeiros tempos de permanência lusitana, as piratarias e os conflitos armados eram constantes. Em 1622, tiveram que expulsar à bala a investida anglo-holandesa. Depois, em meados do século XVII, a cidade via-se às voltas com os confrontos internos do Celeste Império, com a mudança das dinastias Ming para Ching, que só se efetivava definitivamente em 1655.[21]
            A cidade foi sempre um importante porto marítimo para a Metrópole portuguesa, devido às rotas de comércio com Cantão, Malaca, o Japão (até 1639 quando os portugueses são expulsos) e todo o mar do sul da China. Para os chineses, Macau estabelecia um papel relevante, pois impedia o avanço da pirataria chinesa e japonesa e, ao mesmo tempo, era uma fonte de riqueza e lucro. Por fim, os mandarins e a corte celestial viam a cidade como um território controlado, impedindo, assim, que estrangeiros interviessem agressivamente no Império Celestial.
            Nessa perspectiva, os senhores da elite macauense viviam a negociar com a governança da terra, bem como com os negócios de grosso trato. As suas mulheres, possivelmente, tinham que administrar a casa e comandar os trabalhos domésticos, pois os senhores viviam regularmente em movimento nas tramas mercantis do Império Metropolitano Ultramarino português, o qual tinha possessões do Oriente à América portuguesa no Atlântico.
            Desse modo, os escritores do império ultramarino português construíram imagens sobre as mulheres no Oriente, salientando diferenças e aproximações. Por um lado, as chinesas seriam ainda mais recatadas que as lusitanas, bem como teriam um requinte especial nas maneiras de se comportar. Por outro, faziam parte do séquito dos comerciantes e dos administradores locais como concubinas, prática essa que também foi muito comum entre as índias brasílicas.
As mulheres da elite e as indígenas brasílicas, portanto, tiveram as suas imagens descritas pelos cronistas coloniais no decorrer do Quinhentos. Diferentemente, de outras regiões do império ultramarino português, como Macau, na América portuguesa, as relações de gênero estavam profundamente relacionadas com as contingências da exploração da força de trabalho escrava indígena e a imagem dos gentios.
No extremo Oriente, não obstante, a presença cultural e das populações chinesas, fizeram de Macau uma feitoria mercantil e um ponto político estratégico para a coroa Portuguesa, sendo a população chinesa a sua grande maioria. Nesta região, não havia um Novo Mundo para ser produzido à imagem e semelhança do Velho.
Embora houvesse o costume de comercialização de mulheres, era no grosso trato das mulheres e crianças africanas da Guiné e de Angola, que os negociantes e a Metrópole realizavam a acumulação de capital mercantil, vendendo estes cativos para os senhores de Engenho da Bahia, Pernambuco e mesmo em regiões mais distantes como São Paulo Colonial. Segundo Novais, “no conjunto, a exploração no ultramar organizada nos quadros do Antigo Sistema Colonial, permite distinguir nitidamente três elementos básicos: área densamente povoada quando do início da expansão marítima européia, portadora de civilizações tradicionais, onde a dominação política permitia o comércio vantajoso de alguns produtos de alto valor unitário no mercado europeu como as famosas especiarias do mundo indiano; zonas de povoamento e colonização européia, onde se estruturaram economias complementares ao capitalismo mercantil europeu, fornecedoras sobretudo de produtos tropicais e metal nobre (a América é por excelência o teatro da ação colonizadora européia durante o primeiro sistema colonial) e, finalmente, a África fornecedora de força de trabalho escravizada que permite pôr em funcionamento a produção colonial do segundo setor”. [22]
Desse modo, estruturava-se o sistema colonial português e espanhol, durante o século XVI, quando esse “estava praticamente constituído e o que se segue não é mais que desenvolvimento e desdobramento do mesmo”. As potências ultramarinas portuguesa e espanhola entravam nas competições por mercado no Velho Mundo.[23]
A predominância espanhola continuaria até meados do século XVII, momento em que se formava a crise política e econômica das Monarquias Ibéricas, pois, “Comércio dos produtos orientais, produção colonial, tráfico negreiro, são de aí por diante objetos de a famosa competição por parte dos ingleses, franceses, holandeses, além dos precursores ibéricos”.[24]
Nesse contexto ultramarino, a condição feminina no ultramar variava conforme a estratificação social, sendo muito diferente os modos de vida das mulheres do Velho Mundo. Havia, na verdade, uma distância enorme entre o cotidiano de uma mulher portuguesa em Salvador colonial, uma escrava africana da Guiné na mesma cidade, ou entre uma mulher lusitana na cidade de Macau e uma chinesa concubina no entreposto comercial.
Apesar destas diferenças, houve neste período uma constante movimentação da população feminina, que atravessava os mares e se aventurava em lugares distantes como o Oriente, a África e o Novo Mundo. Em todas estas regiões Portugal e Espanha constituíram posses e transportaram modos de vida e de pensar, formando, assim, um império que mantinha a sua unidade graças à expansão da fé cristã, da economia mercantil e das transposições de homens e mulheres através dos oceanos, sendo que a saída da população feminina ibérica para os oceanos representava por volta de 30 por cento da circulação populacional feminina do Velho Mundo.
Em suma, as mulheres auxiliavam no processo de constituição do império ultramarino e do Antigo Sistema Colonial. E, ainda foram construídas imagens pelos escritores coloniais sobre as mulheres das populações locais, tais como chinesas, africanas e índias brasílicas. E graças a esses relatos é possível compreender o comércio têxtil e os discursos sobre os diferentes modos de vestir das várias regiões do globo, no século XVI.


[1] “Carta de Bartolomeu Marchionni, fins de julho de 1500”. In: AMADO, Janaína. & FIGUEIREDO, L.C. Brasil (1500). Quarenta Documentos. Brasília. UNB, 2001, p. 195.
[2] “Carta de D. Manuel aos reis católicos”, 29 de julho de 1501. in: AMADO, Janaína. & FIGUEIREDO, L.C. Brasil (1500). Quarenta Documentos. Brasília. UNB, 2001, p. 230.
[3] “Crônica de Daniele Bárbaro”. In: AMADO, Janaína. & FIGUEIREDO, L.C. Brasil (1500). Quarenta Documentos. Brasília. UNB, 2001, p. 260.
[4] Fok Cheong. Estudos sobre a instalação dos portugueses em Macau. Lisboa, Pt.: Gradiva, 1996, p.13.
[5] Sobre as relações entre portugueses e o Celestial Império ver: Jorge M Alves. dos Santos. Um tempo de ajustamento. Macau, O Estado da Índia e os Ming no primeiro quartel do Século XVII. In: ALVES, Jorge dos Santos. (coord.) Portugal e a China. Conferências do II Curso Livre de História das relações entre Portugal e a China. (Séculos XVI-XVII). Lisboa, Pt.: Fundação do Oriente, 1999, pp.105-120. Vítor Gaspar Rodrigues. “O quadro social da capitania da viagem da Cinha e do Japão”. In: ALVES, Jorge dos Santos. (coord.) Portugal e a China. Conferências do III Curso Livre de História das relações entre Prtugal e a China. (Séculos XVI-XVII). Lisboa, Pt.: Fundação do Oriente, 2000, 65-78. Rui Manuel Loureiro. Fidalgos, missionários e mandarins. Portugal e a China no século XVI. Lisboa, Pt: Fundação do Oriente, 2000. João Paulo Oliveira Costa. Macau e Nagasáki – Os Pólos da presença portuguesa no mar da China na segunda metade do século XVI. In: ALVES, Jorge dos Santos. (coord.) Portugal e a China. Conferências do III Curso Livre de História das relações entre Portugal e a China. (Séculos XVI-XVII). Lisboa, Pt.: Fundação do Oriente, 2000, 79-104. Fok Cheong Cheong. Op. Cit. Kirti Chaudhuni. O estabelecimento no Oriente. In: BITHENCOURT, Francisco. & CHAUDHUNI, Kurti. História da expansão portuguesa. Navarra, Espanha: Círculo de Leitores, 1998, vol. 1, pp. 163-191.
[6] De acordo com o autor, “the great profits reapered by the portuguese from this vouyage, were due to the political situation in East Ásia. Owing to the frigestful havor wrought by the Japonese Wako pirtates along the China coast, direct commerce between the two Empires had been categorically forbbiden by the Ming Emperor about 1480. It is true that smuggling trade on a greater or lesser scale never entirely ceared, any more than did the illegal Sino-Portuguese coastal trade in 1520-1550, but the Imperial Ban did the Chinese merchants ar the great disadvantage. In this away, the peculiar position had arisen that the Chinese could only trade officially with their Japonese neighbours through the médium of the Portuguese, who, in addition to being (prior to 1600) the only important source of supply for European and Indian goods for Japan, likewise enjoyed a virtual monopoly of the Chinese silk export market wich was far and away the most profitible part of the Sino-Japonese commerce this sounds strange today, when Japonese silks have a deservedly higher reputation than Chinese, but the case was far otherwise in the sixteenth century when the wealthy classes prefered the Chinese material, both raw and finished, in much the same way as good English cloth was valued in Spain and Portugal above the native product. The Portuguese could therefore buy in the cheapest market and sell in the dearest, and the gold and silver bullion they carried away from Japan in payment diposed of in Índia and China respectively, where the relative and fluctuating values of these two metals enable them to make further profits on the rates of exchange”. C. R. Boxer. Fidalgs in the far east, 1550-1770. Fact and fancy in the history of Macau. The Hague: Martinus Mjhoff, 1948, pp.5-6.
[7] Sanjay Subrahmanyan. O império asiático português, 1500-1700. Lisboa: Difel, 1995, pp.147-149.
[8] Fernand Braudel. Civilização Material, Economia e Capitalismo, vol. 2., p.535.
[9] C. R. Boxer. Fidalgs in the far east, 1550-1770. Fact and fancy in the history of Macau. The Hague: Martinus Mjhoff, 1948, p. 10.
[10] Idem, p. 12.
[11] Frei Gaspar da Cruz. O tratado em que se encontram muito por extenso as coisas da China. In: Fernão Mendes Pinto. Peregrinação. Porto: Mello & Ir.,1984, p.113.
[12]
--> --> Cesare Vecellio. Habitus Antichi et Moderni. The clothing of Renaissance world. London, U.K.: Tames & Hudson, 2008, p. 485.
[13] Idem, pp. 524-529.
[14] Charles Ralph Boxer. Mary and Misoginy. Women in Iberian Expansion Overseas (1415-1815). Some facts, fancies and personalities. London, UK: The Trinity Press, 1975.
[15] Timothy Joel Coates. Exiles and orphans: forced and state-sponsored colonizers in the Portuguese Empire, 1550-1720. Minnesota, U.S.A.: Thesis submitted to the Faculty of the graduated school of the University of Minnesota, 1993, p.209.
[16] Idem, p. 255 e 284-287.
[17] Idem, pp. 304 e 312-313.
[18] Sobre os agregados em um local da colonização, ver: Eni de Mesquita Samara. Lavoura canavieira, trabalho livre e cotidiano. São Paulo: EDUSP, 2005.
[19] Boxer. Op. Cit. (1975), pp.119-120.
[20] Frei Gaspar da Cruz. Op. Cit., pp.114-115.
[21] Fok Kai Cheong. Op. Cit., 106.
[22] Fernando A. Novais.  Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial. São Paulo: Hucitec, (1ª ed., 1979) 2001, p. 33.
[23] Idem, p. 34.
[24] Idem, p. 39.