quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Resumo: Da Capitania de São Vicente à vila de São Paulo: colonos, jesuítas e as “aparências dos outros”, 1532-1568. Igor de Lima

           Este artigo tem como objetivo tratar do processo de formação da vila de São Paulo a partir da presença dos colonos, jesuítas e indígenas, destacando o discurso da “aparência dos outros” e das primeiras observações sobre a “natureza” do gentio, com nítidas distinções em relação aos gêneros. Para isto, utilizou-se as de fontes impressas dos primeiros tempos da colonização e das cartas jesuíticas a respeito da Capitania de São Vicente (fundada em 1532) e da fundação da Vila de São Paulo (1554). Era neste momento ainda que se formaram as primeiras famílias coloniais e a conquista da região com as alianças com os tupiniquins e os confrontos com tupinambás, bem como as primeiras expedições e revoltas indígenas na década de 1560. Neste contexto de conquista, as narrativas das cartas jesuíticas também descreviam os costumes dos gentios, dentre eles as “guerras” e suas aparências.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

TARDE DE MAIO. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

"Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior dos mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, e tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos.
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minha' alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.

Mas os primeiros imploram à relíquia saúda e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto, e passa.....
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.

Para renascer, eu sei, nunca fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos urgiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o viessem não saberiam dizer: se era um préstimo
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.

Não há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos calçados;
não está certo de ser amor, há tanto levou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdia no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens".

sábado, 19 de maio de 2018

Historicismo e Positivismo: ideias de História. Igor de Lima

Segundo Barros (2010, p. 85), a historiografia positivista mantinha a “crença na possibilidade de encontrar leis naturais e invariantes para as sociedades humanas”; compreendia que a “neutralidade” era parte fundante do fazer do cientista social; bem como realizava uma metodologia sobre as ciências humanas e naturais. 
Ainda de acordo com o mesmo autor (Idem, p. 86), “o positivismo francês oferecia o consenso com base na ideia de universalismo; o historicismo alemão buscava proporcionar o consenso social ancorado na ideia de nacionalismo. Para tanto, era necessário realizar uma nova forma de história, cujos dois principais pilares foram a recuperação de uma documentação alemã que remontava aos tempos medievais, e o desenvolvimento de um novo método de crítica destas fontes como inspiração fisiológica”.
Barros destaca a presença do positivismo nos métodos criados para as ciências sociais, principalmente na formação da sociologia. E conforme Dosse, “é sobretudo a sociologia Durkheiminiana que transforma profundamente as orientações historiadoras em torno da construção de uma física social, de uma sociedade vista como uma coisa, cujos sistemas de causalidade cabe ao pesquisador descobrir. Essa sociologia conquistadora do fim do século XIX e começo do século XX multiplica suas ofertas de serviços aos geógrafos, historiadores e psicólogos, ao redor do conceito de causalidade social. Os princípios epistemológicos dessa sociologia que pretende representar por si só a ciência social’ fundamenta-se, em primeiro lugar, no objetivismo de um método em nome do qual os cientistas são considerados livres de seus a priori, em segundo lugar, na realidade do objeto e por fim, na independência da explicação, que permite reduzir o fato social a sua causalidade sociológica, considerada a única eficiente”. (2012, P. 61)
Continuando a análise da sociologia de Durkheim (1858-1917), Dosse afirma que “os princípios sociológicos” do mesmo “fundam-se num objetivismo do método que, em nome no necessário corte científico, apoia-se num afastamento da subjetividade do pesquisador. O segundo postulado dessa corrente é a realidade do objeto estudado. Daí decorre que os fatos sociais devem ser analisados como coisas, e esses fatos sociais exercem uma pressão sobre o indivíduo. Durkheim torna absoluto o corte entre fatos psicológicos e fatos sociais. O fato social é aquilo que é suscetível a exercer uma pressão exterior sobre o indivíduo, ou ainda, que é geral na extensão de dada sociedade, embora tenha existência própria, independente de suas manifestações individuais. ‘Não é só’, escreve Durkheim, ‘esse tipo de conduta ou pensamento é exterior ao indivíduo, mas é dotado de uma potencia interpretativa e coercitiva, em virtude da qual se impõe a ele, queira ou não. Em terceiro lugar, a explicação do fenômeno social é considerada pertencente a um nível autônomo, com a preocupação de fazer sociologia sociologicamente, isto é, reduzir os fenômenos sociais a explicações puramente sociológicas”. (DOSSE, 2012, pp. 62-63)

Diferentemente do positivismo, o historicismo estabelecia uma metodologia analítica enfocando os dados empíricos, destacando a “relatividade do objeto histórico”, sendo a perspectiva metodológica específica da História diferente das demais ciências humanas; assim como também o historiador possui sua subjetividade ao narrar a história. Segundo BARROS, “o historicismo em diversos dos seus setores, foi apurando a percepção de que o historiador não pode se destacar da sociedade como pressupunha o modelo das ‘ciências naturais preconizado pelo positivismo e outras vertentes cientificistas das ciências humanas. Ao contrário disto, foi se afirmando cada vez mais no universo historicista a ideia de que o historiador fala de um lugar e a partir de um ponto de vista, e que, portanto, não pode almejar nem a neutralidade nem a objetividade absoluta, e menos ainda falar em uma verdade em termos absolutos. A hermenêutica – campo de saber dedicado à interpretação de textos e objetos culturais – foi se afirmando como importante espaço de reflexão a partir de filósofos e historiadores que realçaram a relatividade dos objetos, sujeitos e métodos históricos” BARROS, 2010, p. 88)

BARROS, José de Assunção. Objetividade e significado no conhecimento histórico: a oposição entre os paradigmas positivista e historicista. In Revista tempo, espaço e linguagem (TEL), v. 1, n.2, maio/ago, 2010, p. 73-102.
DOSSE, François. A História. São Paulo: Editora Unesp, 2012.

sábado, 28 de abril de 2018

COSTA, Emilia Viotti da. A dialética invertida e outros ensaios. São Paulo: Editora Unesp, 2014, p. 219.


“a relação entre o historiador e a sociedade caminham em via dupla. O trabalho do historiador, queira ele ou não, é produto da sociedade e do tempo em que vive. A vivência do presente afeta a construção do passado. Ao mesmo tempo, o posicionamento do historiador na sociedade marca os limites da sua visão. Suas experiências definem suas motivações e explicam por que e para que se debruça sobre a história. Seu projeto inspira-se em problemas sugeridos pela posição que assume na sociedade. Seus temas e seus métodos são função dos objetivos que pretende alcançar e das razões que o levam a estudar história. Sua própria definição do que é história nasce a partir dessas coordenadas”.