“A divisão de trabalho
doméstico reflete a definição social da diferença entre esposo e esposa: as
tarefas realizadas eram complementares. A diferenciação do papel do trabalho
era baseada, em parte, na noção de que a mulher tinha que manter as crianças e
administrar o domicílio”.[1]
Louise Tilly and Joan W. Scott
Nos domicílios paulistas, as
mulheres senhoriais trabalhavam na manutenção e nos cuidados com as crianças
por meio do comando das escravarias indígenas. A partir disto, assumiam papéis
importantes no seio familiar. As casas, locais de moradia e de produção das
famílias senhoriais, traduziam as diversas ambigüidades da vida material dos
moradores da vila de São Paulo. As condições de “conforto” e “consumo” da
população estavam relacionadas ao luxo, à miséria e a escassez de bens dos
estamentos senhoriais.[2]
As transformações do patrimônio e
as contradições da infra-economia foram perceptíveis por Alcântara Machado,
quando escreveu que “às míseras choupanas que se compõem inicialmente o povoado
vão sucedendo as construções de taipa, com exuberantes beirais e rótulas nas
portas e janelas, à moda mourisca”. A descrição das casas miseráveis continuava
quando trata dos materiais de construção. “As cobertas primitivas de palha
aguariana ou sapé cedem lugar aos telhados. Do empenho com que os paulistanos
procuraram fomentar o fabrico de telhas dão testemunho abundantes as vereações
da época”.[3]
Poucos eram os sobrados existentes
na vila. Um caso isolado era do inventário de Mariana de Chaves, realizado em
1617. Outra característica marcante desse fogo era o valor de 10$000. As casas
de substancial qualidade eram de “Catarina de Medeiros que ficavam na rua que
ia para São Bento, e dez anos depois, as de Maria Ribeiro, na rua de Santo
Antônio. Só atinge a quantia excepcional de 1:000$000: a de Lourenço Sanches
que declara ter dado à filha em dote de casamento”. [4]
Entretanto, o luxo da vida material
paulista é relativizado por toda a sua obra. Era, segundo Machado, “na baixela
e nas alfaias de cama e mesa que a gente potentada faz timbre em ostental
opulência”. [5] Em um outro momento o autor escreveu que “não
nos deixemos iludir pelos indícios, que apontamos, da educação do gosto e dos
desejos de ostentação. Apesar disto, é tão parco o adereço ou guarnimento da
casa fidalga na era seiscentista, que a descrição de tudo cabe à vontade em
meia dúzia de linhas”. Ao final da análise da vida material, expõe as nuanças
da infra-estrutura paulista: “haverá coisa mais relativa que o luxo?”[6]
Desenvolvendo essa questão,
Braudel, ao se referir sobre as condições de vida da população do mundo
pré-indústrial, afirmou que
“ a comida de todos, a casa de todos, a roupa de todos
– e as soluções minoritárias para benefício de privilegiados, sob o signo do
luxo. Atribuir um lugar à média e à exceção é adotar uma dialética necessária,
evidentemente incômoda. É forçar as idas e vindas, preto no banco, branco no
preto e assim por diante, porque a classificação nunca é perfeita: o luxo, por
natureza inconstante, fugidio, múltiplo, contraditório, não se pode identificar
de uma vez por todas”[7]
Contudo,
no interior das casas paulistas figuravam-se os móveis e utensílios de metais,
que para muitos eram considerados objetos de extremo valor. Dentre os mais
comuns, destacavam-se as redes de dormir – fabricadas com o algodão da terra - ,
as ferramentas de uso cotidiano, como as facas, as caixas de madeira, os
caldeirões de latão, os teares e os fusos.
Os
utensílios domésticos abundavam no patrimônio da senhora Maria de Morais. Nas
partilhas do inventário do esposo, os bens da casa que lhe cabiam eram a bacia
($400), as peroleiras vazias (2$500), o frasco de vidro ($240). Dos artefatos
da mesa (1$000), tinham 8 colheres de prata (1$280), os pratos, as galhetas e o
saleiro (1$700). Também contava com 6 cadeiras (3$840) e o castiçal ($200).
A
senhora ainda ficava com 3 côvados de perpetuana novo (4$160), 2 varas de pano
de linho ($840), 5 varas de pano de algodão ($800), 3 côvados de telinha
(2$080), 8 varas e maia de griceu (6$800). A viúva ainda contava para negociar
com o estoque de 700 mãos de milho (7$000), 4 arrobas de algodão (2$000), 6
alqueires de sal (3$000) e 17 arrobas de carne (8$000).[8]
Dessa
forma, as casas poderiam ser ricas ou pobres. Além disso, segundo Leila Mezan
Algranti, não foram restritas “às áreas edificadas, ou à construção principal.
Quintais, jardins, pomares e hortas, além de anexos, estes cobertos de telhas
ou palha, eram geralmente circundados por muros baixos que delimitavam o espaço
doméstico. (...)”.[9] No entanto, a autora também notou que
“...no que toca ao conforto doméstico e à decoração
dos interiores, essas diferenças devem ser matizadas, uma vez que a precariedade
do mobiliário e dos ambientes era comum
toda a colônia, salvo algumas exceções, como as casas de certos
capitães-mores e de alguns ricos fazendeiros. No geral, a modéstia do
mobiliário fica evidente nos depoimentos colhidos, revelando a inexistência de
espaços aconchegantes para o convívio familiar. Poucas cadeiras, uma ou duas
mesas com seus bancos, além de algumas caixas e baús é o que encontra na maior
parte das vezes, por exemplo nos inventários paulistas”[10]
Dos inúmeros objetos das moradias
pertencentes aos senhores, de acordo com Algranti, existiam também as
“Porcelanas das Índias”, que eram artefatos trazidos e utilizados pelos
comerciantes mais abonados da colônia.[11]
A
tamboleira também era outro importante utensílio. Segundo Belmonte, era “um disco
de prata, revelado no centro e nas bordas, como fundo de garrafa, com que se
avalia a grossura do vinho”.[12] Ainda conforme o mesmo,
“enquanto, o estanho constitui o metal por excelência,
nesse século, dado o seu baixo preço e alta durabilidade – tigelas, pratos,
castiçais, candieiros, colheres, jarros – encontram-se, aqui e ali, a prata e a
loca, indicativas de que seus possuidores são pessoas de melhor tratamento.
Púcaros, pratos, colheres, salvas, tamboleiras, castiçais, tigelas, nauetas,
garfo, tudo de prata, são contradiços nas residências mais abastadas onde às
vezes, aparecem as primeiras peças de louça da Índia e do Reino”.[13]
Próximos às casas, os sítios
tomavam parte significativa dos bens arrolados nos inventários das famílias
senhoriais.[14] Ana de
Moraes, em meados da década de 1610, tinha o sítio, com suas casas e seu
quintal serrado (16$000) e mais uns fogos de taipa de mão (4$000). Tinha também
lavouras em 18 alqueires de feijões avaliados em 160 réis, remontando tudo a
2$880. Ainda dividia duas roças de 14$000 com Maria de Moraes. O excedente era
constituído por 200 mãos de milho (2$000), 27 arretéis de lã ($540), meia
arroba de carne de porco (1$120) e meia arroba de cera ($640). Por não ter em
plantação de algodão e tear, o casal Ana de Moraes e Francisco Velho deviam a
Luiz Fernandes Bueno 6 varas de algodão ($960).[15]
Em 1623, Izabel Dias, viúva de
Balthazar Nunes, ficava com o sítio de taipa de mão de três lanços com seus
corredores cobertos de palha, árvores de espinho, figueira e parreira (6$000).[16]
O sítio de Madalena Hosquor era
“cercado para dentro com todas as plantas que assim de rama como parreiras de
algodão e feijão e árvores de espinho e as casas de dois lanços cobertas de
telha de taipa de pilão, sobradadas com suas varandas e corredor”. Valia ao
todo 40$000, sendo uma fortuna para o período.[17]
Como
curadora dos filhos, devido à vontade do falecido marido, Madalena decidira
partir para a Bahia. Mudava-se para a cidade de Salvador e por ser senhora
abonada mandava para “fora da terra e por mar” a sua fortuna. Com a sua
partida, o casal Jorge e Izabel Rodrigues viram-se obrigados a dar fiança dos
bens da viúva ao capitão Antonio Pedroso, que ficara responsável por “entregar
toda a fazenda que ficara na vila”.[18]
No arrolamento dos inventários,
nota-se a presença de enxadas, coifas, machados, foices, goivas, bigornas,
peroleiras, botijas, ralos e prensas. Esses artefatos tinham utilidade para os
afazeres nas casas, nos sítios e nas lavouras distantes dos fogos.
No
final do Quinhentos, Izabel Felix, senhora de Miguel Sanches e com dois filhos,
tinham os seus 7 cativos. Eram proprietários de um sítio e de uma casa de
apenas 4$800.[19] Na passagem para o século seguinte, a viúva e
sitiante Mercia Rodrigues contava com apenas a casa da vila, o pedaço de chão
(6$000) com o sítio e o arrozal de 2$000, onde trabalhavam 4 cativos. No
entanto, o seu monte-menor valia 126$620, o que não era pouco para os padrões
de riqueza de Piratininga.[20]
Violante
Cardoso, esposa de Pero Madeira, deixava os filhos ainda bem pequenos,
Francisca de 11 anos, Clara de 5, Maria de 4, Gaspar de 8 ou 9, Jorge de 7. A
família possuía 37 escravos gentios, que trabalhavam em uma quantidade
sigificativa de propriedades. As benfeitorias eram constituídas pelo sítio da
banda de além, chamado Eypoamoçum, com três lanços de taipa de pilão, cobertos
de telha com o seu corredor e quintal cercado, com todas as três árvores que
tem de fruto, valendo 50$000. Uma lavoura que estava em Taquera (6$000), 2
pedaços de mantimentos e 500 mãos de milho (5$000) que estavam no sítio de
Hicuabossum (10$000) eram parte do patrimônio familiar senhorial.
Em
1621, as benfeitorias de Catarina de Pontes, do esposo Pero Nunes e dos filhos
ainda infantes, Salvador, Pedro, Maria e Ana, eram bastante variadas. Não
obstante, não tinham produção alguma relacionada com o algodão, acontecimento
raro na vila de São Paulo. Eram sitiantes do Ipiranga, onde possuíam as casas
de dois lanços de taipa de mão cobertas de telha e outro de palha com suas
parreiras que tinha ao redor, com suas limeiras, laranjeiras, “pacoveiras”,
duas restingas de mantimento, valendo todas as propriedades familiares 21$000.
As casas da vila de lanços e taipa de pilão com repartimentos custava 11$000.
Dentre as lavouras contidas no inventário da senhora, existiam os canaviais de
11$000, 12 alqueires de feijões a 1$900, mais 24$000 em roças. Essa relativa
abonança patrimonial poderia ser explicada pelo trabalho das 40 peças indígenas
e pelas atividades de negócios realizados pelo casal.[21]
A
família da inventariada Maria Gama era composta pelo filho João e o esposo
Diogo Mendes. Moravam nos fogos de taipa de pilão, cobertos de telha, com
corredor, quintal, na rua do padre vigário, entre o senhor Domingos Fernandes
de Parnaiba e Leonel Furtado. O domicílio custava 30$000. Apesar de não constar
as lavouras e os sítios, possuíam 38 cativos da terra e várias ferramentas,
dentre elas 5 foices, 4 já bem usadas, 10 enxadas gastas e uma balança.[22]
A
inventariada Izabel Soares, o filho João, o senhor e cônjugue Gabriel Pinheiro,
com 24 cativos da terra sobreviviam do sítio que tinha mantimento de 12$000.
Todavia, a família realizava mercancia, pois possuíam 284 alqueires de farinha
postos em Santos, que remontavam 113$000.[23]
Em
fins da década de 1620, Jeronyma Fernandes, casada com Balthazar Gonçalves,
tinha 5 filhos solteiros e as filhas Ana Gonçalves casada com João Fernandes e
Maria Gonçalves, falecida esposa de Miguel Garcia Carrasco. O casal e a prole
solteira eram sitiantes. Os móveis domésticos eram bem poucos comparando com
outras famílias senhoriais, havendo apenas uma caixa velha sem fechadura
($400), outra pequena com a fechadura ($800) e um bufete solitário ($320). No
entanto, contavam com a mão-de-obra escravista
de 17 indígenas.[24]
A
viúva Joana de Castilho, proprietária de um monte-mor de 42$905, administrava
uma escravaria de 20 indígenas, que trabalhavam no domicílio de dois lanços com
quintal, corredor, onde se dividiam com os fogos de Henrique da cunnha
(25$000). O patrimônio da senhora era formado pelos 43 alqueires de feijões
(3$600) e mais 16 alqueires de trigo (1$600).
Habitava
um domicílio com poucos móveis, apenas 2 redes velhas, 2 toalhas, 2
guardanapos, o travesseiro, o cobertor velho, 2 botijas, a caixa com suas
fechaduras e 2 bancos. Fazia parte dos artefatos de vestir o manto de sarja
velho e roto, a camisa velha e o pano de algodão que lhe servia de colchão. No
quintal, criava 4 capões, 15 galinhas, 22 frangos e 10 patos.
Contraiu
dívidas com o rendeiro Bartholomeu Rodrigues ($800) e com o genro Pero Cassara
($800), esposo de Margarida Rodrigues.[25] Em testamento, realizava uma ampla
distribuição dos escravos aos familiares.
“...deixava a sua neta Maria Cassara, filha do dito
Pero Cassara, uma rapariga por nome Brigida para a servir e pede a seus
herdeiros que lh’a não tiverem nem metam em partilhas porque assim é sua
vontade e que assim mais deixava ao dito seu genro Pero de Cassara o sitio dela
testadora que esta no Uquausu no Mato Grande e que deixava a sua neta Joana
filha de seu filho Domingos Rodrigues uma moça do gentio da terra por nome de
Potencia para a servir e que a não vendam nem troquem e a tratem como forra que
é e que seu filho Domingos Rodrigues tinha em sua casa uma negra do gentio da
terra por nome Paula a qual fora de seu filho Jorge Rodrigues e que por morte
dele a levara seu irmão Domingos Rodrigues para sua casa sendo que pertencia a
dita negra sua neta bastarda filha de seu filho Jorge Rodrigues por nome Ana
por sua filha e sendo caso que se levante com ela se lhe dará o que ela
testadora deixa a sua neta filha do dito Domingos Rodrigues e que a órfã filha
bastarda do dito seu filho Jorge Rodrigues tinha nove almas que lhe ficaram de
seu pai as quais estavam em seu poder dela testadora e mandava às justiças de Sua
Majestade não lhas tirassem e lhas entregassem para seu casamento visto serem
de seu pai e que o outro lanço de casa deixa à dita sua neta filha bastarda do
dito seu filho Jorge Rodrigues visto que seu pai fazer as casas”.[26]
Ainda no início da década de 1630,
Messia Bicudo e a família mantinham 81 negros da terra que produziram todo
patrimônio: as casas da vila, vizinhas dos fogos de Pedro da Silva, de dois
lanços e corredor (20$000), outro fogo que estava na rua que ia à São Bento
(20$000), o sítio do Ipiranga (8$000) e mais 2 alqueires de feijão (20$000).
A
morada tinha como utensílios 2 caixas, 8 cadeiras, uma mesa usada com a sua
cadeira, o tacho de cobre maior e outro menor, 14 peroleiras, o bufete, a caixa
de sete palmos sem chave, 2 toalhas de mesa, 3 toalhas de rosto e 4
guardanapos, uma prensa nova e outra quebrada. Os artefatos de estanho eram
representados por 6 pratos e um jarro. A prataria era formada por 2 taboleiras
e 5 colheres.
A
senhora ainda contava com o espelho para vestir e a vasquinha de cetim preto
adamascado, com um saio de melcochoado negro, a saia de doze passames, mais
outro saio de dois passames na fortuna de 20$000, e o manto de recadilho velho
e roto (2$000).[27]
No
findar da década, no inventário de Catarina de Siqueira, filha de Aleixo Jorge,
havia os fogos da vila, valendo 32$000, de dois lanços grandes com o quintal,
os quais partiam com os chãos de Salvador Pires e Pero Vaz de Barros. A senhora
e o esposo João Barroso traziam para Piratininga os produtos importados do Velho
Mundo e até das Índias Orientais. No rol de bens estavam os utensílios
domésticos de cuidados pessoais como a bacia de latão utilizada para urinar
($320), o catre (1$000), o cobertor (1$280), 2 fronhas de travesseiro e outras
duas de almofadinhas ($640), 4 lençóis (1$920), o espelho (1$600) e 4
frasqueiras (3$840).
Para
as refeições a família senhorial tinha o tacho de cobre já usado (1$920), o
tacho e a bacia (3$840), umas toalhas de mesa, uma velha e outra nova ($960), a
toalha de Ruão de águas às mãos ($320), a toalha de volante de seda (1$280), 12
guardanapos ($840), 50 peroleiras (16$000), 4 gamelas redondas ($800), o bufete
($800), 4 caixas de variados tamanhos com suas fechaduras (6$480).
A
louça era constituída por 3 pratos pequenos e outros 3 maiores ($960), 8 pratos
de louça grandes ($400), 4 pequenos e outro maior ($960). Além dessas, havia
aquelas originárias da Metrópole, como os 40 pratos de louça, conjunto do qual
faziam parte também as tigelas e os pires (1$640), 4 pratos grandes ($800), 2
tigelas grandes do Reino ($240), o jarro de louça, 2 bandejas pequenas eram
provenientes da Índia ($320), o funil de folha de Flandres ($160).
Na
casa ainda havia 8 cadeiras de estado (6$400) e como artefatos de adorno
possuía 2 tapetes (10$400) e o único vaso ($800). De noite, o domicílio era
iluminado por dois castiçais velhos ($640).
Sendo
uma das raras mulheres de letras, Catharina de Siqueira e os familiares liam a
segunda parte de Vilhegas, outra obra de Fernão Mendes Pinto, a segunda parte
de Heitor Pinto, as “Novelas” de Cervantes, o “Confessionário” e
mais cinco obras que se desconhece por não estar especificado no seu
inventário.[28]
As
jóias arroladas eram a cadeira de ouro e oito anéis, o par de cabaças de ouro,
o par de pendentes, dois pares de arrecadadas, uma lua. Todas essas
preciosidades pesavam nove onças e valiam 52$000. Também possuíam 8 onças e
meia de prata em que entra uma tamboleira grande e uma menor, três colheres de
prata, as chapas e os alfinetes de prata, os colchetes. Esses custavam 9$120, e
as duas correntes de corais 4$000.
Fora
do interior da moradia, eram arrolados o “sítio da banda de além de taipa de
mão, com seus corredores e com um pedaço de algodoal e árvores de espinho, tudo
avaliado em 30$000, com todas as benfeitorias dentro dele”. Nesse local,
criavam 50 rezes (54$000), o cavalo (3$200) e 38 suínos (8$000).[29]
No
inventário de Catharina Nogueira, estava arrolado o sítio, localizado na
Quitana, onde tinha os fogos (10$000), 60 alqueires de trigo a $200, o alqueire
no valor de12$00, em que trabalhavam 8 escravos índios.[30]
Vale
lembrar que a partir do final da década de 1630, a vila de São Paulo contava
com a formação dos estamentos senhoriais, que centravam as suas atividades nos
negócios com Santos, Rio de Janeiro e no ultramar. As senhoras eram
proprietárias de escravarias de diversos tamanhos. E, nesse período, havia
também um significativo aumento da produção e circulação do algodão e dos seus
derivados.
Nesse
contexto, a liderança doméstica das mulheres senhoriais sobre os fogos, sítios
e as escravarias era importante para a manutenção econômica da vila de São
Paulo de Piratininga. Solteiras, casadas ou viúvas, as senhoras trabalhavam nas
lavouras de produtos alimentícios, no cercamento dos gados e na indústria caseira
de algodão, auxiliando no processo de constituição do patrimônio familiar.
Desta forma, os estamentos senhoriais conseguiam acumular alguns objetos de
luxo com a venda dos poucos excedentes.
[1] “The househould division of labour
reflected the social definition of diferençe between husbund and wife: taks
performed were complementary. The diferenciation of worke roles was based in
part on the notion that women had to bear children and manage the household”.
Louise Tilly and Joan W. Scott. Women, work & Family. New York, USA:
Holt, Rinehart and Winston, 1989, p. 45.
[2] A
casa é considerada como sinônimo de fogo ou domicílio. Eni de Mesquita Samara
aprofunda a questão em Família e vida doméstica no Brasil. Do engenho aos
cafezais. São Paulo: Humanitas, Estudos CEDHAL, Nova Série, no. 10, 1999.
[3]
Alcântara Machado. Vida e morte do bandeirante. São Paulo: Martins,
L.T.DA, 1969, p. 51.
[4] Ibidem,
p. 52.
[5] Ibidem,
p. 95.
[6] Ibidem,
p. 74.
[7]
Fernand Braudel. Civilização material, economia e capitalismo. Séculos
XV-XVIII. São Paulo: Martins Fontes, 1997, vol. 1, pp. 161.
[8]
Inventário de Francisco Ribeiro (1615). I. T. São Paulo: DAESP, 1920,
vol. 4, pp. 47-50.
[9] Leila Mezan Algranti. “Famílias
e vida doméstica”. In:
SOUZA, Laura de Mello e. (org.). História da vida privada no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 91.
[10]
Ibidem, p. 105.
[11]
Ibidem, p. 123.
[12]
Belmonte. Nos tempos dos bandeirantes, p. 52.
[13] Ibidem,
pp. 108-109.
[14] A
respeito da importância econômica dos sítios ver: Rosângela Ferreira Leite. Nos
limites da colonização: ocupação territorial, organização econômica e
populações livres pobres (Guarapuava, 1808-1878). São Paulo: Tese de
doutorado apresentada ao departamento de História – FFLCH/USP, 2006, pp.
110-130.
[15]
Inventário de Ana de Moraes (1616). I. T. São Paulo: DAESP, 1921, vol.
25, pp. 1-101.
[16]
Inventário de Balthazar Nunes (1623). I. T. São Paulo: DAESP, 1920,
vol.6, pp. 23.
[17]
Inventário de Manuel Vandala (1627). I. T. São Paulo: DAESP, 1920, vol.
7, p. 53.
[18]
Idem, pp. 68-69.
[19]
Inventário de Izabel Felix (1596). I. T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 1,
pp. 120-182.
[20]
Inventário de Mercia Rodrigues (1605). I.T. São Paulo: DAESP, 1939, vol.
30, pp. 32-45.
[21]
Inventário de Catarina de Pontes (1621). I.T. São Paulo: DAESP, 1920,
vol. 5, pp. 417-466.
[22]
Inventário de Maria da Gama (1624). I.T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 6,
pp. 198-212.
[23]
Inventário de Izabel Soares (1630). I.T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 8,
pp. 111-128.
[24] Inventário
de Jeronyma Fernandes (1630). I.T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 8, pp.
223-244.
[25]
Inventário de Joana de Castilho (1633). I.T. São Paulo: DAESP, 1920,
vol. 8, pp. 335-357.
[26]
Testamento de Joana de Castilho (1631). I.T. São Paulo: DAESP, 1920, vol.
8, p. 341.
[27]
Inventário de Méssia Bicudo (1631). I.T. São Paulo: DAESP, 1920, vol. 8,
pp. 286-306.
[28]
Cf. Aldaíza Bittencourt. A mulher paulista na História. Rio de Janeiro:
Livros de Portugal, S.A., 1954, p. 44.
[29]
Inventário de Catharina de Siqueira (1638). I.T. São Paulo: DAESP, 1921,
vol. 10, p. 511.
[30]
Inventário de Catharina Nogueira (1638). I.T. São Paulo: DAESP, 1921,
vol. 12, pp. 206-124.
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