Após a segunda metade do quartel do século XVI, sob o
governo dos Tudor constituía-se uma nova aristocracia de funcionários e
militares que adquiriam terras, geralmente proveniente da Igreja Católica dos
monastérios e retiradas pela Igreja Anglicana de Henrique VIII.
Durante os anos de 1540 à 1640, havia uma ascensão social
na sociedade inglesa. Dentre as camadas sociais que se enriqueciam estava a
gentry, proprietárias de terras e bens de consumo. Também destacava-se o
crescimento da burguesia, a ascensão social das camadas médias e o
empobrecimento geral, havendo, portanto, uma acentuação das diferenciações
sociais.
Desse modo, a sociedade inglesa passava por disfunções
múltiplas, caracterizadas, em síntese, por forças e tendências sociais,
econômicas, religiosas e políticas governamentais a longo prazo. A política econômica dos governos Tudor e
Stuart eram marcadas pela dificuldade de tributação, pela falta de tropas, pela
crise das instituições políticas e religiosas, bem como os conflitos entre as
elites.
No plano religioso, a instituição do clero anglicano, o
aumento do protestantismo e a presença da minoria católica de nobres faziam com
que os conflitos e as tensões acirrassem ainda mais os ânimos do parlamento na
década de 1630.
Analisando as Origens Intelectuais da Revolução Inglesa,
Christopher Hill observa para a expansão do “sistema de educação” e do ensino
de ciência e medicina, perpassada por debates teológicos e religiosos presentes
no período. E, até mesmo, esses conhecimentos foram financiados pelo próprio
governo monárquico. (HILL, 1983, pp. 25-39)
Ademais, os conflitos ideológicos e a tensão entre o
Parlamento e a Realeza eram acentuados ainda pela circulação de ideias com os
panfletos puritanos, o contrabando de livros das gráficas clandestinas e os
sermões nos púlpitos nas paróquias locais. Assim, conforme Stone, o
“particularismo local foi crescendo par e par com o crescimento do governo
central”. (STONE, p. 124)
No governo dos Stuart do início do século XVII, a crise
política acirrava-se com o distanciamento entre a Coroa e os grupos do
parlamento, formados também por diversidades religiosas.
Destacava-se, no conhecimento científico aproximado com a
História e Política Sir Walter Raleigh. Nascido em 1554 e terminou sua carreira
com a morte da rainha Elizabeth I, em 1603. Preso na Torre de Londres, escrevia
History of the World, obra em que descrevia as viagens no ultramar. E, uma das
características que marcavam suas reflexões e que repercutiram nas Revoluções
Inglesas foram, de acordo com Hill, a diminuição do poder real frente ao
parlamento, uma agressiva política ultramarina, redistribuição de impostos e
formação de uma tolerância religiosa.
Dentre as reflexões de Raleigh estavam a expansão das
ideias científicas notata em seus versos:
“Que artesão e letrados abraçam
e vestem as matemáticas com ricos ornamentos,
essa admirável destreza matemática,
familiarizada com as estrelas do zodíaco”. (HILL, p. 167)
A obra de Raleigh parece ter repercutido durante o século
XVII, aparecendo novas edições de suas obras e mesmo Oliver Cromwell
recomendava a leitura de History of the World ao primogênito Richard. (HILL,
idem, p. 143)
Assim, Cromwell, fidalgo, criado com modéstia em um
ambiente anti-católico, e anti-espanhol, participava da luta contra Carlos I.
Fizera parte com seus primos da Câmara dos Comuns. Com uma agilidade política adquirida
com o tempo no exército revolucionário, apoiava-se em 1644, na autoridade do
Parlamento, Falava em 5 de setembro ao coronel Walton “jamais pude satisfazer-me
com a justeza desta guerra, se não fora pela autoridade do Parlamento, em
manter-se na posse dos meus direitos, quanto a esta causa, espero dar provas de
ser um homem honesto e de coração leal”. (Apud. Hill, p. 49).
Com estes “cavaleiros de ferro”, Cromwell em 1644 era
eleito general. Quatro anos depois, o rei Carlos I era executado, segundo Hill,
por motivos pragmáticos e não ideológicos e o general invadia a Irlanda com uma
baixa de 1.500 a 2.000 pessoas.
O general, nesse momento, poderia aderir a algumas das
ideias de Ralegh apoiando uma política mercantil, como o Ato de Navegação, em
1651, que o Parlamento declarava o monopólio imperial sobre o comércio e a
frota mercante.
Em 1653, Cromwell tornava-se Lorde Protetor. Os radicais,
representados em sua maioria pelos Baptistas e Quacres eram derrotados.
Contudo, a ideia de que a Inglaterra era uma nação predestinada estava
presente. O protetor afirmava que as benesses do Senhor “recaem sobre nós como
se Ele dissesse: a Inglaterra é minha primogênita, minha alegria entre as
nações, e sob este céu que nos Cobre o Senhor jamais deu esse tratamento a
nenhum dos povos que nos rodeiam”(Apud. Hill, pp. 123-126).
(HILL, 1983, p. 79)
“Uma vez iniciada a guerra contra o rei, surgiram divisões
no seio e no exterior do Parlamento, quanto ao modo de a conduzir. As tropas da
pequena nobreza realista (os Cavaleiros) tinham determinadas vantagens
militares. Os cabeças redondas [este nome tem uma conotação com o escárnio
social] eram mais fortes nas cidades, mas se bem que os habitantes dos burgos
trouxessem dinheiro para a causa, não eram inicialmente homens experimentados
na luta. Os cavaleiros, por outro lado, contavam principalmente com o norte e o
oeste da Inglaterra, economicamente atrasados e mal administrados; e, juntamente
com os seus arrendatários e vassalos, estavam habituados a cavalgar e a
combater duramente”. (Idem, p. 79)
“Durante muito tempo, contudo, o Parlamento procurou lutar
contra os Cavaleiros com as próprias armas destes – chamando as milícias
feudais dos condados leais ao Parlamento, utilizando o velho aparelho
financeiro e administrativo dos condados para continuar a guerra. Porém, deste
modo, os verdadeiros recursos do Parlamento não foram aproveitados – a imensa
riqueza de Londres, as capacidades administrativas da burguesia, e, em
particular, a iniciativa de recursos da massa do povo que finalmente apoiava a
causa, - sendo defraudados pelo sistema de casta que estava na base do
fornecimento de oficiais às milícias e pelos caciques locais. Um avanço
realista sobre Londres apenas foi impelido pela resistência obstinada de três
grandes portos – Hull, Plymouth e Gloucester – e pela corajosa frente feita
pelos cidadãos de Londres em Turnham Green (1642) e a marcha destemida em
socorro de Gloucester. Porém, estes esforços espontâneos tiveram uma
coordenação inadequada” (Idem, p. 80)
Segundo Hill, a burguesia necessitava do povo no início das
batalhas contra os Cavaleiros. Em abril de 1645, “todos os membros do
Parlamento foram obrigados pelo ‘Self-Denying Ordinance’ (Decreto de Abnegação)
a renunciar ao comando. Este fato atingiu principalmente os nobres; a renúncia
ao seu direito tradicional de comandar as forças armadas do pais constituía só
por si uma revolução social secundária. Formou-se o Novo Exército Modelo, com a
carreira aberta a talentos, organizada a nível nacional e financiado por um
novo imposto nacional”. (Idem, p. 83)
“Por sua vez, isto conduziu a mudanças correspondentes no
aparelho do Estado. A destruição da burocracia real deixara um vazio que
deveria ser preenchido po funcionários da classe média. Porém, a expressão das
necessidades revolucionárias levava à criação de uma série de comités
revolucionários nas várias localidades. (...)”. Para Hill, “estes comités
estavam agora organizados centralizados e submetidos ao controlo geral dos
grandes comités do Parlamento, que realmente conduziam a Guerra Civil – o
comité de ambos os reinos, o comité para o empréstimo de dinheiro, etc. O velho
sistema estatal foi parcialmente destruído e modificado; novas instituições
surgiram sob a pressão dos acontecimentos”. (Idem, p. 84)
A guerra fora ganha pela artilharia de alta qualidade de
Cromwell, constituída por pequenos proprietários contra os cavaleiros
realistas. A disciplinas dos mais humildes de Cromwell ganhavam os confrontos.
Conforme Hill, “uma vez devidamente organizado e pago com regularidade, dotado
de um comissário e de técnicas eficientes, e com Cromwell nomeado chefe
indispensável, o Novo Exército Modelo avançava rapidamente para a vitória, e os
realistas foram derrotados em Naseby (1645). A guerra acabou pouco depois.
(...)”. (Idem, p. 85)
“(...) Uma vez terminada a luta, os ‘Presbiterianos’
partidários do compromisso recomeçaram a levantar a cabeça, dentro e fora do
Parlamento. Carlos tinha-se rendido em 1646 ao exército escocês, que o negociou
com o Parlamento inglês. Logo a seguir, os ‘Presbiterianos’ começaram a
negociar com o rei no cativeiro: propuseram livrar-se do exército vitorioso
enviando-o à conquista da Irlanda, sem pagarem os salários; não realizaram
reformas sociais, nem sequer indenizaram pelos actos cometidos durante a
guerra, perante os tribunais para responder pelo que tinham feito ao serviço do
Parlamento”. (Idem, pp. 85-86)
Em Londres surgia um partido político representando os
interesses dos pequenos proprietários, eram os Levellers, os quais
contactavam-se com os agitadores do exército.
“A agitação no exército atingiu o seu ponto culminante na primavera de
1647, com a tentativa para dissolver os regimentos existentes e formar outros
destinados à Irlanda. Conduzidos pela cavalaria formada pelos pequenos
proprietários rurais, os soldados rasos organizavam-se, nomearam deputados de
cada regimentos (‘agitadores’, como lhes chamavam) para um conselho central,
empenhados em manter a solidariedade e não entrarem de licença até as suas
exigências serem satisfeitas. O grau de organização era muito elevado – fundos
para o partido, recrutamento de membros, uma tipografia, contatos com Londres,
com os outros exércitos e guarnições e com a armada. Parece não haver dúvidas
de que a iniciativa para este movimento de massas veio dos soldados rasos, se
bem que muitos dos oficiais menos graduados cooperassem dede o início com
entusiasmo. Os generais ( ‘os grandes’, como os Levellers lhes chamavam)
hesitaram durante algum tempo, procurando servir de medianeiros entre a maioria
‘Presbiteriana’ no Parlamento e os soldados do exército. Mas quando viram que
estes estavam decididos a avançar, participaram do movimento e concentraram-se
daí em diante em canalizar as suas energias. Procuravam sobretudo limitar as
exigências dos soldados aos aspectos profissional e politico e minimizar o
programa social e econômico que os Levellers faziam para enxertar no movimento
dos soldados”. (Idem, pp. 86-87)
“O exército e o Parlamento coexistiam agora no Estado como
poderes rivais. Em junho de 1647, a fim de evitar que os ‘Presbiterianos’ que
faziam parte do Parlamento chegassem a um acordo com o rei nas costas do
exército, o alferes de cavalaria Joyce foi enviado pelos agitadores
(provavelmente, com a conivência de Cromwell) para render Carlos I. Numa
reunião geral que teve lugar no dia seguinte, todo o exército se comprometeu
solenemente a não se desagregar até que estivessem asseguradas as liberdades em
Inglaterra. Foi formado um Conselho do Exército, no qual se sentavam lado a
lado representantes eleitos dos soldados oficiais, com a finalidade de
decidirem sobre questões políticas. A Inglaterra nunca mais voltou a ver um
controle democrático do exército como o que existiu durante os seis meses
seguintes. Empregando o rei como uma arma, o exército marchou sobre Londres. Os
principais chefes ‘Presbiterianos’ afastaram-se da Câmara dos Comuns, deixando
Cromwell e os ‘Independentes’, temporariamente, com a situação sob controle; o exército estava definitivamente
em posição de influenciar a atuação política”. (Idem, p. 88)
“...a burguesia, cujos interesses os Levellers
representavam cada vez mais, desejava grandes modificações. Ao mesmo tempo, a
influencia dos Levellers no exército crescia rapidamente. Pretendiam um livre
câmbio absoluto para os pequenos produtores, assim como a libertação das
grandes companhias mercantis dos monopólios corruptos, que o Parlamento já
abolira; exigiam a separação da Igreja e do Estado e a abolição das dizimas; a
proteção da pequena propriedade e a reforma da lei dos devedores; e, para
assegurarem tudo isto queriam uma república, a extensão dos direitos
parlamentares e o direito de voto para todos os homens”. (Idem, pp. 88-89)
“(...) Uma tentativa dos Levellers para ficarem no controle
do exército foi frustrada pelos ‘Grandes’ em Ware, em Novembro de 1647, dai
resultando a dissolução do Conselho do Exército e o fim da democracia no
exército. Entretanto, o rei fugiu da prisão, a guerra civil recomeçou em maio
do ano seguinte, e o exército voltou a formar-se com Cromwell à frente”. (Idem,
pp. 89-90)
“Após a vitória do exército nessa segunda guerra civil, os
‘Grandes’ e os ‘Levellers’ aliaram-se para afastarem do Parlamento os partidários
do compromisso (Pride’s Purge) e levaram o rei a tribunal. Depois de um
julgamento sumário, o rei foi executado em 30 de janeiro de 1649, como ‘inimigo
da nação. A monarquia foi declarada ‘desnecessária, opressiva e perigosa para a
liberdade, segurança e interesse público do povo’ e foi abolida. A Câmara dos
Pares, igualmente abolida, era simplesmente ‘inútil e perigosa’. Em 19 de maio
de 1649 foi proclamada a república. Mas o Agreement of the People, a extensão
dos direitos parlamentares, as exigências econômicas e sociais dos Levellers
estavam tão longe de terem sido alcançadas como sempre; sentiram, pois, que
tinham sido traídos. Os ‘Grandes’ conseguiram leva-los a uma revolta malograda,
que foi isolada e dominada, sendo os seus chefes executados em Burford, em maio
de 1649”. (Idem, p. 90)
Relatando a respeito dos interesses dos grupos
revolucionários, Hill observa que “no seio da revolução burguesa inglesa, foi o
movimento dos Diggers que representou ao máximo os interesses dos que não
possuíam bens. Constituiu numa tentativa de proceder por meio da ação direta a
uma forma de comunismo agrário, tentativa essa realizada por membros do
proletariado rural expropriado, que argumentavam que os grandes senhores tinham
sido tão derrotados como o rei, que a vitória do povo tinha liberto o solo de
Inglaterra, que lhes cabia agora cultivar”. (Idem, pp. 92-93)
“(...) Na primavera de 1649, um grupo de Diggers começou a
cavar um terreno abandonado de St. George’s Hill, no Surrey. Os gentis-homens e
os párocos locais, indignados, chamaram a tropa e a colônia comunista foi posta
em debanda. Houve tentativas semelhantes em Kent, em Buclinghamshire e em
Norhamptonshire, mas o movimento não atingiu grandes dimensões, por representar
uma classe pequena, embora em crescimento; o pacifismo e a resistência passiva
pregados pelos seus chefes evidenciavam a sua debilidade”. (Idem, p. 93)
Ainda tratando desses movimentos e ideais comunistas, Hill
declara que o “ideal comunista de Winstanley foi certo sentido um tanto
retrógrado, uma vez que tinham origem na comunidade de aldeia que o capitalismo
estava em vias de desintegrar. Porém, os Diggers eram os opositores mais
radicais e igualitários da ordem social feudal. As afirmações claras e simples
de Winstanley têm ressonâncias contemporâneas. (....) E Winstanley não olhava
aprenas para o passado, vislumbrava um futuro...”. (Idem, p. 94)
Christopher Hill levanta alguns pontos importantes para o
avanço da economia e do imperialismo inglês em detrimento da democracia e da
constituição republicana:
1.
“A
conquista da Irlanda, com a expropriação dos proprietários de terras, e
dos camponeses (...)”;
2.
A conquista da Escócia, restabelecendo à antiga
relação econômica aberta aos comerciantes ingleses;
3.
A política comercial avançada com o Acto de Navegação
de 1651, o qual definia o monopólio inglês de comércio e o confronto contra os
holandeses pelos domínios comerciais e coloniais;
4.
Política colonial intensiva, sendo que a
Inglaterra passava a dominar a Jamaica e Dunquerque;
5.
Abolição dos domínios feudais, com a
mercantilização das terras;
6.
Desarmamento dos Cavaleiros e tomada de terras
dos realistas, da Igreja e da Coroa. (Idem, pp. 94-97)
Contudo, em 1653, Cromwell dissolvia o Parlamento Longo e
convocou uma assembleia de seus próprios partidários (Barebones Parliament),
restabelecendo os interesses da pequena burguesia. Dissolvida novamente a
assembleia, foi declarado Lorde Protetor. (Idem, p. 98)
Com o Protetorado, a Igreja passava a ser controlada
diretamente pelo Estado, o exército comandava a imprensa em 1655, e,
consequentemente, os panfletos oposicionistas tornavam-se ilegais. Assim, o
governo fixava-se em torno da baioneta com a profissionalização do exército.
No plano externo, a política econômica sob a liderança do
Lorde Protetor tornava-se anti holandesa, pois ambos os países disputavam o
comércio. Os Países Baixos, nesse contexto, controlavam regiões coloniais no
Novo Mundo, como a Capitania de Pernambuco. Nessa expansão mercantil inglesa,
os holandeses e escoceses eram enviados para o domínio ultramarino. Nessa mesma
mercantilização, os comerciantes apoiavam e eram apoiados pelo Estado. Como
exemplo dos investimentos dos comerciantes, Hill aponta a prosperidade
manufatureira de Bristol e Liverpool graças ao tráfico de escravos na segunda
metade do século XVII.
Nessa política externa, era significativo o apoio
internacional do Protetorado conservador à França. Além disso, as condições
internacionais inglesas fortaleceram-se no governo de Cromwell. A preocupação
política da sucessão de Cromwell acontecia durante os anos de 1658 e 1659.
Também a igreja tolerante do Estado do Lorde Protetor ganhava dissidentes
penta-monarquiastas, batistas e quacres. Desse modo, Igreja e Estado de
Cromwell, conforme Christopher Hill, era “uma instituição rodeada por igrejas
não conformistas, que tinham condições de se sustentar a si mesmas e eram
toleradas pelo Estado”. Porém, com a crise da sua sucessão, esses dissidentes
ficaram cada vez mais descontentes depois da sua morte em 3 de setembro de
1658. (Hilll, Eleito de Deus, p. 153).
Dois anos depois da morte de Cromwell, seu filho Richard
foi deposto. Carlos II assumia o poder por meio do auxílio dos grandes da
burguesia. Não obstante, conforme Hill, em As Revoluções Inglesas, “a
Restauração não foi de modo nenhum uma restauração do Antigo Regime, tornando
evidente, não a fraqueza da burguesia e da pequena nobreza, mas sua força”
(HILL, 1989, p. 109). Na perspectiva desse autor, poucas transformações
aconteceram a partir do retorno de Carlos II, que possuía apoio entre os
mercadores e a nobreza rural.
A Igreja, com a restauração, tornava-se mais rica,
dependente do Parlamento. E os realistas, adeptos da Monarquia Antiga,
adaptavam-se às novas regras do mercado livre, tornando-se “agricultores
capitalistas”, conforme Hill, ou sucumbiam na competitividade.
O rei, com a restauração, tornava-se o primeiro funcionário
público e não mais um rico proprietário de terras com rendimento próprios.
No plano econômico, o controle real sobre os monopólios e
as guildas (nota-se também a abolição do regime feudal durante as guerras
civis) desfaz-se. Assim, para Hill, o comércio e a indústria agora livres
expandiram-se rapidamente. Na Restauração não se deu qualquer ruptura na
política comercial, imperial ou exterior.
O período da Restauração até a Revolução gloriosa de 1688,
segundo Hill, constituíram uma época de austeridade. É significativo dessa
situação econômica o receio do ministro Presbiteriano, que em 1666 declarava
que “se bem que pouco tempo depois do estabelecimento da nação nos víssemos
como a parte desprezada e defraudada. Todavia, de tudo quanto tenho sofrido
desde aí, considero como ficando aquém de minha preocupação e receios de então.
Nessa altura, estávamos a mercê e impulsos de uma multiplicação inconstante,
violenta, sangrenta....”(p.115)
Com a possibilidade de Restauração da monarquia absoluta,
Jaime II era expulso do governo e Guilherme de Orange, um estrangeiro, assumia
o trono da Revolução Gloriosa de 1688. Esse nome, de acordo com Hill, era
explicado pela ausência de “derramamento de sangue” e sem possibilidade de
reviver as exigências revolucionárias democráticas.
Discutindo o significado de 1968, para Pocock, os magnatas
ingleses articularam a vinda do príncipe, pois havia o risco de nova guerra
civil. Também os grupos protestantes viam o perigo da aproximação de Jaime II
com o papado. Entretanto, segundo Pocock, a Revolução de 1688, estabelecia o
constitucionalismo e que a não ocorrência de uma guerra civil sangrenta na
Inglaterra, não era significado de continuidade e de retorno aos grupos
conservadores. Dessa maneira, na sua perspectiva, esse momento era marcado por
“tensões e clivagens” entre a Igreja e o trono.
Assim, no ano de 1688 era um momento chave para Pocock,
dado o florescimento do comércio e do avanço político e econômico externo da
Inglaterra com o aperfeiçoamento técnico, principalmente da marinha, a
emergência do poder imperial.
Também na Igreja, o impacto da Revolução de 1988 foi
percebido por Pockock com a autoridade dos magistrados defendida pelos
anglicanos. A igreja, desse modo, passava a defender a legalidade civil,
aproximando-se das ideias iluministas na crença da humanidade.
Ainda na política externa, a Inglaterra expandia seu
domínio incorporando a Escócia, as conquistas com guerras contra os Irlandeses
e reorganizando o império colonial.
Em síntese, Pockock tenta desconstruir a interpretação
historiográfica dos Whig, partido da reforma liberal, que precisavam
distanciaras revoluções de 1648 e 1688, pois reivindicavam a causa parlamentar,
o regicídio e o republicanismo. O autor aponta para uma “desconstrução” das
ideias da história do Whig.
Concluindo, a historiografia sobre a Revolução inglesa
passou por L. Stone que enfatiza o período pré- revolucionário e faz, segundo
Florenzano, a história do “ponto de vista dos vencedores”. (Modesto Florenzano, in: STONE, p. 11-26)
Chistopher Hill compreende a trajetória de Oliver Cromwell
no contexto das ideias e das atividades dos revolucionários, analisando a vida
do Lorde Protetor relacionada com questões políticas e sociais mais amplas.
Esse autor ainda constrói uma perspectiva multifacetada das ações da cultura
política durante os períodos mais sangrentos, quando as movimentações sociais e
a guerra civil radicalizavam-se.
Por fim, Pocock insere-se em uma perspectiva de compreender
as mudanças nas ações políticas e da cultura política, retomando e
desconstruindo a historiografia sobre a Revolução Inglesa, mas ao mesmo tempo
faz uma história dos conceitos sem esquecer as características mais amplas do
período e a circulação de ideias.
Bibliografia
HILL,
Christopher. O Eleito de Deus. Oliver
Cromwell e a Revolução Inglesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
HILL,
Christopher. A Revolução Inglesa de 1640.
2 ed. Lisboa, . Presença, 1983.
HILL,
Christopher. Origens Intelectuais da
Revolução Inglesa. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
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