Há
um tempo, recebi uma tristíssima, melancólica e deprimente notícia da morte de uma aluna do curso de História
nos Estados Unidos. Uma aluna doce, alegre, muitíssimo nova, com 19 anos. Tinha
a metade da vida de alguns colegas e vivia em um mundo que visto de fora era
perfeito. Uma universidade agradável, amável, onde as coisas funcionavam, os professores são fantásticos e as
dificuldades da vida acadêmica eram facilmente resolvidas. Pelas conversas,
parece que a causa morte da jovem fora overdose.
Momento
de passagem na vida dos adolescentes, este fato extremamente triste poderia ter
acontecido e acontece em qualquer universidade, sendo que os alunos agora
parecem ter acesso a uma quantidade de drogas que anteriormente eram mais raras
e caras.
Mas
o que fazer diante deste fato? Na vida escolar, quando estas coisas aconteciam,
uma médica da escola, passava a conversar com os alunos e com os pais, havendo
uma grande quantidade de palestras e debates sobre o assunto. O universo
escolar não poderia ficar em silêncio com relação a este tipo de problema. No
entanto, como resolver o assunto nas universidades, onde os alunos já são
adultos e vão se confrontar com um excesso de experiências e socializações?
Como
resolver o problema de consumo de drogas e vícios como o alcoolismo? É
conivência deixar o assunto em baixo do tapete, mas também é pouco razoável realizar
discursos moralistas, sendo que muitos dos professores também passaram por uma
série de rituais tão próximos ou até mais intensos.
Aumentar
a repressão ao tráfico no ambiente acadêmico seria uma forma de resolver o
assunto? Ou deixar a coisa rolando solta e não fazer nada não seria uma omissão
que de certa forma incentivasse o próprio tráfico?
Com
relação à repressão, o debate se instala. Fazê-la? Como fazê-la? São partes
importantes da resolução do problema, mas há outro muito mais imediato, que pouco,
ou nunca acontece: a educação, mesmo que universitária sobre a saúde dos seus
alunos.
Ou
seja, a universidade seria o espaço privilegiado para o debate sobre drogas,
vícios e mesmo sobre saúde publica, como HIV e doenças mentais. São raros os
debates interdisciplinares entre historiadores, sociólogos, médicos, psicólogos
e mesmo psiquiatras. É muito comum mesmo nas maiores universidades do país a
completa ignorância de professores sobre tais assuntos.
Não
faz muito tempo estava entrando em uma aula de História da América em uma
universidade norte americana, juntamente com uma professora, quando uma bando
de alunos animadíssimos saiam da sala de um professor também animado.
As
aulas, apesar de muito boas, possuíam poucos alunos, mas esta excepcionalmente
estava cheia deles. Provavelmente, já "antenado" nos problemas de seus alunos, o
mesmo professor nos contava que o debate era sobre os loucos anos sessenta e
como os jovens daquele período viajavam, participavam de um amor livre e de
certa forma já viviam com este tipo de problema do contato com excesso de
drogas.
Era
uma aula de história e o professor provavelmente estava tratando do tema dentro
da perspectiva de um jovem norte americano. É claro que apesar da diferenças
políticas e culturais, algumas referências podem ser feitas ao universo
brasileiro.
Ademais,
a história da juventude, de gênero e da cultura política do momento de 1968, no
Brasil, também foi acompanhada de uma repressão e violência do próprio Estado que
hoje se estende por toda sociedade brasileira para ficar em um exemplo
conhecido. Violência esta que já despontava posteriormente com o crescente
aumento do consumo de drogas devido ao aumento do poder aquisitivo da maioria
das famílias dos estudantes, o barateamento das drogas e ao lucro do tráfico
que não pode ser desprezível. Juntamente com isto, há o consumo de armamentos
crescentes, claro que ilegais, na sociedade brasileira, que está sempre
acompanhado com o universo do tráfico.
Mas
nem somente no Brasil estes problemas são graves. Mesmo em Berlim, um dos
centros econômicos mundiais, há também problemas com roubos, consumo de drogas
e com a violência dos raros grupos de neonazistas.
Retomando
o triste caso da aluna, deve-se apontar que nem somente os jovens estão
sujeitos a estes perigos da vida, também mais maduros correm riscos. Mas com a idade, geralmente, os riscos são mais contabilizados e as aventuras mais calculadas. Exemplo: passar a noite em uma balada pesada no fascinante subterrâneo
de Berlim pode ser uma aventura. Contudo, algum (ou muito, dependendo da idade) cuidado deve ser tomado, como a
total ausência de ingestão alcoólica e de todo tipo de droga, ajudando não só
na disposição para enfrentar os riscos mas também liberando o corpo de uma
ressaca que atrapalharia além da viagem, o trabalho dos dias seguintes.
Talvez,
se a idade fosse outra, esta história não estaria sendo contada, porque os
limites em tal viagem não iam ser calculados e o desconhecimento sobre o
próprio corpo e a saúde atrapalhariam os prazeres da carne, bem como fariam com
que a brevidade da vida, como daquela aluna, impedisse o amadurecimento.
Com
pesar e tristeza pela menina, mais uma vez, aprendemos duramente que os alunos
mesmo que universitários inteligentíssimos estão frágeis. Temos com eles, a
obrigação do diálogo, mas também como aquele fantástico professor: deixar a hipocrisia ao
lado, assumindo nossas falhas e discutindo com os mais variados interlocutores
sobre o universo das drogas e da saúde pública.
Mesmo com o diálogo, não impediríamos os riscos e a tristeza e melancolia profunda da perda,
mas não nos calaríamos comodamente sobre um problema que nos atinge, geralmente, em uma idade em que
está tudo para ser descoberto.
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